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Eq Pegasus: sinal alienígena ou uma fraude elaborada? (parte1)

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Desde outubro de 98 as redes de troca de informação sobre Ufologia na Internet, das páginas na Web às listas de discussão por e-mail em vários cantos do mundo, estão com olhos e ouvidos atentos para um ponto distante no Universo: um sistema estelar denominado Eq Pegasus, numa longínqua região na Via Láctea, que detonou uma história digna dos melhores contos de mistério e conspiração.
O alarme soou no dia 26 de outubro. Uma mensagem anônima (sem endereço de retorno) circulou no fórum de discussões do SETI League (http://www.setileague.org), uma iniciativa amadora de pesquisa de sinais provenientes do espaço que busca seguir os passos do Instituto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence – Busca Por Inteligência Extraterrestre, http://www.seti.org). O SETI, desde que o Congresso Norte-americano cortou as verbas governamentais para o projeto, em 1993, é uma organização mantida com recursos da Sociedade Planetária (Planetary Society), uma Fundação com objetivo de pesquisas mantida por empresas do setor privado e doações voluntárias, da qual o famoso astrônomo Carl Sagan foi um dos fundadores.
O autor da mensagem, que se identificou apenas como um engenheiro de telecomunicações britânico e astrônomo amador, relatou ter identificado um sinal inteligente vindo da direção do sistema Eq Pegasus, um par de estremas localizado a 21 anos luz de distância do nosso Sistema Solar. Segundo ele, seu anonimato se devia ao fato de seu experimento ser “parasita”, ou seja, ele utilizava uma antena de telecomunicações de 10 metros da empresa para a qual trabalhava para captar sinais de rádio provenientes das estrelas, trabalho que vinha desenvolvendo sem o conhecimento de seus superiores há aproximadamente um ano e meio.
A história foi parar numa página Web no Geocities (http://www.geocities.com/CapeCanaveral/Hall/7193). O anônimo afirmava ter captado o sinal inteligente nos dias 22 e 23 de outubro, aproximadamente à mesma hora (21h13 e, posteriormente, 21h17 UTC) na freqüência de 1450Mhz, exatamente a faixa que os cientistas esperam que uma inteligência alienígena escolha para se comunicar com outros mundos, por ser a mesma freqüência de vibração dos átomos do elemento químico mais comum no Universo, o hidrogênio.
O engenheiro britânico disse ter enviado os dados ao SETI League. “Alguns dias atrás enviei a mensagem abaixo para o diretor executivo [do SETI League] e a lista ‘Hits’ e não obtive uma resposta. (Isto pode ser devido ao fato de eu não ser membro do SETI League). Eu estou muito excitado com isso, ainda que pareça que ninguém na liderança do SETI League esteja interessado e, assim, tenho tentado enviar isto várias vezes, todas sem avaliação. Esta é a minha última tentativa, já que penso que estou sendo censurado”, comentou o anônimo.
Foi a partir desse ponto que a história começou a se complicar. O astrônomo amador foi acusado de não seguir o procedimento estabelecido pelo IAU, a convenção astronômica internacional, conforme a Declaração dos Princípios Concernentes às Atividades Seguintes à Detecção de Inteligência Extraterrestre. Antes mesmo de confirmar os dados através de outros institutos de pesquisa, o anônimo iniciou a divulgação pela imprensa Britânica e norte-americana, gerando um verdadeiro frenesi em torno do assunto. Seu relato começou a ser reproduzido em diversos sites na Internet. A história foi publicada no site da BBC de Londres e dois dias mais tarde gerou uma grande reação dos institutos de pesquisa SETI considerados sérios.
O professor Nathan Cohen, da Universidade de Boston, foi o primeiro a rejeitar: “Uma farsa”, disse Cohen em entrevista ao informativo Business Wire, em 29 de outubro. “Nem mesmo uma boa farsa”, afirmou, explicando que, entre outros problemas, os gráficos de freqüência do sinal não tinham a amplitude de faixa de canal requerida para um sinal SETI. Cohen entende do que fala. Em 1993 ele demonstrou que sinais SETI distantes podem se esparramar em uma freqüência aparecendo no gráfico como picos uniformes, o que agora é chamado de ‘polychromatic SETI’ (SETI policromático).
Proporções conspiracionistas e falta de confirmação
Mas o caso não estava nem perto de chegar ao fim. Um dos sites na Internet que mais comentou a história do astrônomo amador foi a homepage da Enterprise Mission (http://www.enterprisemission.com), iniciativa mantida por uma figura já tarimbada na Ufologia Mundial, o pesquisador Richard Hoagland, conhecido por ser o defensor da origem extraterrestre do que se supunha ser a imagem de um rosto em Marte, fotografado na região do planeta chamada de Cydonia por sondas enviadas pela NASA.
Hoagland foi quem primeiro fez a conexão entre a história do astrônomo amador e outra notícia veiculada pelo próprio Instituto SETI. No dia 15 de setembro, o Dr. Seth Shostak, astrônomo e diretor do Instituto SETI no observatório de Arecibo, junto com a pesquisadora Jill Tarter, fazia a varredura de sinais no espaço quando eles captaram um sinal estranho numa posição próxima do sistema Eq Pegasus. À época, a bateria de testes do sinal mostrou que se tratava de interferência de um artefato terrestre, provavelmente um satélite de telecomunicações. A explicação de Shostak foi clara: “por 10 minutos nós observamos o sinal que, no entanto, também pôde ser visto quando o telescópio estava apontado fora da direção da estrela”. Era, segundo suas palavras à reportagem da Rede MSNBC, “um sinal de inteligência, sim, mas não inteligência alienígena”.
Mas a página de Hoagland não mudou o tom. Utilizou essa história e outros comentários não diretamente ligados ao sinal detectado como evidências de acobertamento da realidade. Estranhamente, neste mesmo período, a página onde originalmente estava publicada a mensagem do astrônomo amador fora tirada do ar, registrando, agora, apenas a bandeira dos Estados Unidos, a bandeira símbolo da Terra e o brasão da Agência de Segurança Nacional dos EUA, todos de ponta cabeça, como numa alusão a uma possível censura. Escondidas no canto inferior esquerdo apareciam as iniciais RCH, como parecendo indicar que o autor da página seria o próprio Richard C. Hoagland.
A Revista Vigília conseguiu o contato via e-mail com a pesquisadora Jill Tarter, que estava no observatório no dia do alvoroço com o sinal do satélite de telecomunicações. Ela foi taxativa: “isto é uma fraude”. Foi ela quem alertou a equipe de reportagem para a recente atualização no site Web do SETI, onde Shostak, que é também autor do livro “Sharing the Universe: Perspectives on Extraterrestrial Life”, argumentou que os gráficos apresentados como prova do sinal captado pelo astrônomo amador eram manipulações deliberadas de gráficos já expostos pelo próprio Instituto SETI, nos quais haviam sido trocadas uma dúzia de pixels. Em sua explicação ele enumera onze pontos contrários à veracidade da história, explicando ainda que “nenhum dos esforços profissionais feitos para achar este aclamado sinal, incluindo aqueles dos SETI League, tiveram confirmação de sua existência”.
E não foram poucas as tentativas. Houvesse mesmo um sinal alienígena, os 63 pontos de observação do SETI League espalhados pelo mundo, somados aos esforços de outros radio telescópios capacitados à pesquisa SETI, incluindo o Australiano Mopra, com uma antena de 22 metros de diâmetro, e o Projeto Beta, mantido pela Sociedade Planetária na Universidade de Massachusetts, teriam conseguido resposta positiva.

Continua ->

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