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ET de Varginha: como um vídeo de péssima qualidade causou tanto alvoroço?

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Nos últimos anos, a pesquisa de um dos mais famosos episódios da Ufologia brasileira e mundial, o Caso Varginha, passou por altos e baixos. Mas poucas vezes alguma informação nova (ou requentada) causou tanto alvoroço quanto a divulgação do vídeo de um suposto ET de Varginha, praticamente no dia do aniversário do caso. E “do caso” usado aqui é uma expressão que traduz uma série de suposições: a que teria havido uma queda de um OVNI; de que haveria criaturas nele — 1, 2 ou até 13 ou 14 delas, dependendo de quem conta a história; mais ainda, que elas teriam se espalhado pelo Sul de Minas Gerais, sobretudo em Varginha; e, por fim, que teriam sido capturadas numa gigantesca operação do Exército, rapidamente acobertada.

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Vários livros, edições de revistas, reportagens de jornais, TVs e documentários já foram produzidos ao longo dos últimos anos. Então, no 28º aniversário do episódio, surgiu um vídeo cujo proprietário garante ser uma peça (de duas) gravada em VHS na época do ocorrido, que mostraria o que é, segundo ele, possivelmente, uma das criaturas avistadas também em Varginha. E, para complicar, chegou um momento muito específico, em que havia uma expectativa latente não apenas na existência do tal vídeo, como de que ele mais cedo ou mais tarde viria a aparecer. Por mais improvável que isso possa soar 28 anos depois, recentemente foram divulgadas  até mesmo recompensas para tal evidência.

Para contextualizar o leitor, é importante informar sobre o local da alegada filmagem: Elói Mendes. O município é vizinho da cidade que ficou famosa pelo ET. De centro a centro, a distância em linha reta é de pouco menos de 16 km até Varginha. Ambas são cortadas pela BR 491. Na sua divisa a Leste, Elói Mendes se aproxima do bairro Jardim Andere e faz parte da bacia do Rio Verde, pontos chave para a história do ET. O Jardim Andere é o local em Varginha onde as três testemunhas principais do caso alegaram ter visto uma criatura agachada. E o Rio Verde, no “cânone” do caso, teria sido onde ocorreu uma busca do Exército por outros exemplares das misteriosas entidades.

Trecho do Rio Verde, em Varginha. Local importante na história do Caso Varginha. Autor: Mads (Wikipedia)
Trecho do Rio Verde: local importante na história do Caso Varginha. (Imagem: Mads6613 – CC BY-SA 4.0)

E foi em Elói Mendes, segundo essa testemunha que não quer revelar sua identidade, que teriam sido capturadas as cenas de não um, mas dois vídeos mostrando uma suposta criatura similar às descrições do ET de Varginha.

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Um desses vídeos — segundo seu detentor o “pior deles” — chegou ao Youtube através do Canal Rony Vernet, que leva o nome do seu criador. Ufólogo experiente na análise de imagens e pesquisas de campo, Vernet contou que foi apresentado à filmagem na sexta-feira, 19 de janeiro de 2024, numa ligação de vídeo utilizando o aplicativo Signal, um mensageiro similar ao Telegram, mas com fama de mais seguro.

Na mesma época, o vídeo já tinha sido apresentado ao pesquisador Edison Boaventura Jr., do Canal Enigmas e Mistérios, e, ao que tudo indica, a diversos outros pesquisadores. Na madrugada do mesmo dia, Vernet contou que recebeu uma cópia completa de um contato internacional. Em todos os contatos com pesquisadores, aparentemente, o proprietário da gravação mencionou a intenção de vender o vídeo ou os vídeos depois de serem analisados.

Ao receber a cópia, Vernet resolveu “publicar o vídeo para impedir que as pessoas fossem enganadas”, como revelou em live posterior.

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“Várias pessoas além de mim e do Edison vimos esse material, frames e vídeo, e eu recebi uma cópia desse material. (…) A coisa começou a escalar muito (…) E eu falei ‘opa, esse negócio vai aumentar muito, e a chance de alguém cair em um golpe e querer depositar um dinheiro para esse cara aumentou muito’. (…) Então eu assumi a responsabilidade de publicar esse vídeo na Internet, comentando que havia grande possibilidade de ser fake para que pessoas não depositassem dinheiro para esse cara”, justificou Vernet.

Logo após a divulgação, o proprietário do vídeo saiu em protesto usando um perfil criado no Instagram para, reproduzindo o texto da biografia: “negociação da real filmagem da criatura de Varginha. E uma estratégia de teste ético onde um amador caiu gravando a call“.

No momento em que a reportagem contatou o autor, havia três publicações: uma foto do vídeo pausado num monitor antigo — de tubo —; outra foto comprovando a presença do autor em o Congresso de Ufologia realizado no dia anterior (20) pelo canal Enigmas e Mistérios, em parceria com a revista OVNI Pesquisa (fato que mais tarde foi confirmado ao Portal Vigília pelo editor da publicação, Paulo Baraky Werner); e um Reels com críticas ao pesquisador Vernet e afirmando que a segunda filmagem, supostamente muito mais nítida, seria apresentada ao pesquisador Edison Boaventura Júnior.

A entrevista com o proprietário das imagens

Ao tomar conhecimento do perfil, e com a intenção de ouvir todos os envolvidos, o Portal Vigília entrou em contato com o responsável pelos vídeos através da rede social. Ao mesmo tempo, a reportagem enviou o link do vídeo publicado pelo Canal Rony Vernet para um especialista em efeitos que, antes de enviar uma análise completa, imediatamente alertou ter visto vários sinais de edição.

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Assinando com o nome de usuário “donodepartedahistoria” no Instagram, o entrevistado resistiu o tempo todo a dar detalhes para contextualizar o vídeo. Inicialmente, a conversa apenas seguiu a linha do post do autor na própria rede social, com críticas ao pesquisador Rony Vernet.

“Esse vídeo é real, só é o pior em qualidade. A estratégia foi divulgar esse como teste ético (sic) pra saber pra quem revelar a verdade e temos nossa resposta. Fiz uma call com Vernet e Edison exibindo a gravação pra saber quem morderia a isca. E Vernet caiu igual pato de tão amador que é. A filmagem nítida do ser onde a criatura é levada por meu avô, onde até meu avô tira um metal debaixo do ‘braço’ da criatura, somente Edison vai assistir e depois ele pode falar sobre”, disparou.

Uma das poucas perguntas que o entrevistado ensaiou responder diretamente, ainda que de forma evasiva e vaga, foi porque o material ficou tanto tempo parado. Segundo ele, teria sofrido “ameaças e represálias”, mas mesmo diante de muita insistência se esquivou de aprofundar-se no assunto.

“Pois toda vez que tentávamos passar pra frente surgiam digamos ‘homens de preto’ e tomavam”. Como assim, tomavam? Tomavam cópias, você diz? Sofreu ameaças? — perguntamos. “Eu tinha mais materiais, que foram tomados por pessoas que se passavam por ufólogos”, foi a resposta.

A reportagem perguntou a ele, ainda no início da conversa, se as imagens exibidas a ambos os pesquisadores brasileiros, apesar de “piores”, tinham recebido algum efeito ou passado por algum tipo de edição. De início, a resposta foi taxativa: não.

“Não, nenhuma! Apenas é a pior filmagem que tenho, pois lá na hora, quem filmou não estava sozinho, creio que mais criaturas, vigiavam o corpo em si, e toda vez que se aproximava, escutava zumbido e a interferência na câmera começava”, disse o dono do vídeo.

Já ao final do primeiro dia de conversa, alertado que já tínhamos uma prévia de um analista que apontava indícios de manipulação, a resposta não foi tão enfática: “o que repercutiu é apenas um vídeo digital da vhs-c com muitos efeitos pra gerar dúvida de ser real ou não”.

Como assim, efeitos?

Dada a contradição na resposta, a reportagem insistiu na pergunta: afinal, havia ou não efeitos? Então o entrevistado ignorou a própria frase e voltou ao discurso anterior: “simplesmente era o de pior qualidade e eu o deixei menos nítido possível, para que no teste ético pra ver em quem eu podia confiar [se] por acaso [alguém] vazasse de forma ilícita, compartilhasse algo duvidoso e não concreto”, insistiu.

Especialistas dizem que é uma fraude

O Portal Vigília entrou em contato com o produtor de cinema e especialista em efeitos de vídeo Geraldo Santos, proprietário da produtora Pixel Digital Contents, para opinar sobre o material. Experiente, Santos já atuou como consultor da TV Globo no caso da famosa filmagem de Ray Santilli e, a convite do Portal Vigília, foi um dos responsáveis por desmascarar, no final da década de 1990, outra filmagem exibida pela antiga rede TNT no documentário “Secret KGB UFO Files“. No Brasil o longa-metragem documentário foi transmitido pela Band TV.

Para Geraldo Santos, o vídeo apresentado aos pesquisadores e divulgado no Youtube não é antigo e não foi captado com equipamento VHS (ou VHS-c, uma versão de câmera que utilizava fitas menores, mas de mesma largura). Sua análise baseou-se não no conteúdo apresentado no vídeo em si, que é visivelmente uma captura de uma exibição em outro equipamento ou superfície, mas nas peculiaridades do formato utilizado.

Vários detalhes, para o especialista, indicam que trata-se de uma filmagem digital, recente e editada para parecer com uma filmagem antiga, simulando defeitos comuns ao padrão da época. Para ele, o objeto do vídeo é um boneco com não mais do que 50cm.

Um dos principais, segundo ele, é o efeito de simulação de “esmagamento de fita”. As fitas magnéticas usadas no padrão antigo podiam enroscar e amassar. Isso causa uma distorção visível que “borra” a imagem conforme a fita passa pelos cabeçotes de leitura, criando uma nítida forma de faixa de borrão, horizontal, descendo na tela. Acontece que, pela natureza imprevisível dos episódios de esmagamento, quando verdadeira, essa faixa obrigatoriamente acontece de forma aleatória e com espessuras diferentes a cada vez. E não é o que acontece com a filmagem divulgada. Os borrões têm a mesma espessura e aparecem em intervalos constantes.

Outro efeito que se destaca nas imagens é uma simulação do chamado “dropout“, uma espécie de “ruído” que não chega a sobrepor todo o vídeo mas causa degradação uniforme da imagem. Segundo o especialista, esse defeito, quando numa gravação real, é causado pela ausência do óxido de cromo ou óxido de ferro, componente magnético essencial nas fitas. Numa fita defeituosa o dropout se comporta de forma uniforme em toda a imagem e também é totalmente aleatório. Mas no vídeo do suposto ET ele não apenas se concentra em maior quantidade apenas na parte de baixo da tela, na maior parte do tempo, como tem padrões repetitivos de tempos em tempos, o que é impossível.

Defeito <i>dropout</i>: falta de óxido em pontos aleatórios da fita magnética deveria gerar defeito aleatório e ocupando toda a fita, não apenas na parte inferior e com padrões identificáveis, segundo especialista.
Defeito dropout: falta de óxido em pontos aleatórios da fita magnética deveria gerar defeito aleatório e ocupando toda a fita, não apenas na parte inferior e com padrões identificáveis, segundo especialista (imagem: cortesia Geraldo Santos).

Já no final da filmagem, o vídeo desaparece com um chuvisco que preenche toda a tela. Há dois problemas com esse comportamento, segundo Santos.

“Chuvisco não existe em VHS. Isso foi insert [efeito inserido digitalmente]. Chuvisco é típico de transmissão de TV, quando você perde o sinal e passa a receber apenas ruído de fundo, raios cósmicos, causando interferência. Não existe esse tipo de interferência em uma gravação VHS”, garante Santos.

Além disso, um dos “inserts” de chuvisco, para o especialista, foi ainda mais revelador. Ele mostra a fusão da imagem de fundo com o próprio insert, num movimento de entrada e saída vertical do efeito. Isso é chamado “fusion” em pós produção de vídeos e normalmente é usado como transição de uma cena a outra. Isso seria impossível se fosse uma filmagem única, sem edição.

“Você tinha que ter um mínimo de conhecimento para simular um VHS… Quem fez isso não sabe nada de VHS”, garante Geraldo Santos.

E mais análises

As observações de Santos coincidiram com análises de diversos outros pesquisadores que já haviam começado a surgir, no mesmo dia, na Internet. O próprio Rony Vernet garante ter identificado um dos softwares usados na criação dos efeitos: um aplicativo de celular chamado “Rarevision VHS”, cuja única finalidade é processar vídeos de celular para deixá-los parecidos com filmagens em VHS da década de 1980. Em uma transmissão ao vivo no Youtube, ele comparou os resultados e mostrou coincidências nos formatos, tempos e intervalos nos “defeitos” gerados no vídeo do suposto ET de Varginha e testes feitos em vídeos comuns.

A atrapalhada tentativa de venda

A confusão gerada pelo vídeo chegou a colocar em atrito, momentaneamente, os pesquisadores Vernet e Edison Boaventura. Em uma transmissão ao vivo em seu canal, Enigmas e Mistérios, Boaventura explicou que foi procurado pela testemunha, viu o vídeo da mesma forma que os demais pesquisadores e, antes de dar qualquer opinião, queria ver os originais. Mais que isso, queria ir ao local conversar com as pessoas registradas na imagem, se ainda estiverem vivas, e enviar para análise os tais materiais biológico e metálico que a fonte diz ter.

Boaventura também reclamou da qualidade das imagens a que teve acesso: “elas não provam nada”. E contou que o interlocutor de pronto afirmou que queria vender o vídeo, mas daria ao pesquisador “uma cópia depois que a filmagem estivesse vendida”.

Diante dos rumores e boatos de que poderia haver uma gravação original de uma ou mais criaturas de Varginha, em vídeos captados durante a operação militar em 1996, nos últimos dois anos, pelo menos duas recompensas foram oferecidas a qualquer pessoa que trouxesse a público um conteúdo desses. Desde que seja comprovado verdadeiro, claro.

A primeira recompensa foi oferecida pelo ufólogo e cineasta James Fox, diretor do filme “Moment of Contact”, sobre Varginha, e outros documentários ufológicos. O norte-americano ofereceu 200 mil dólares de prêmio ao primeiro que conseguir a façanha. Menos conhecida é a oferta da revista OVNI Pesquisa, que foi feita em resposta à divulgação do prêmio oferecido por Fox no Brasil, à época: 300 mil dólares.

Há mais de uma recompensa oferecida a quem apresentar um vídeo que venha a ser considerado real da suposta criatura de Varginha.
mais de uma recompensa oferecida a quem apresentar um vídeo que venha a ser considerado real da suposta criatura de Varginha.

A questão da comercialização do vídeo (ou dos vídeos) foi assunto recorrente da entrevista do Portal Vigília com o detentor da filmagem. Em vários momentos, inclusive, a conversa só fluiu quando o tema foi mencionado.

Ele revelou ter procurado o cineasta, mas não teve muito sucesso. Diante da sugestão da reportagem de que Fox seria um dos poucos prováveis interessados, a resposta foi veemente: “ele não paga! Quem pode pagar são os patrocinadores dele. Pois quando entrei em contato e ele disse que tinha que mostrar algo interessante pros apoiadores dele. Já vi que a conversa mudou”.

Para falar com os parceiros, Fox pediu pouco: o envio de ao menos uma foto do tal metal que, segundo o dono do vídeo, seu avô retirou da criatura. Mas a solicitação do cineasta desagradou o detentor do vídeo.

O Portal Vigília confirmou com o ufólogo Marco Aurélio Leal que o vídeo já tinha sido visto por Fox antes dele próprio, Leal, ficar sabendo. Sendo um dos principais pesquisadores do episódio de Varginha na atualidade, Leal foi parceiro de James Fox na produção do documentário “Moment of Contact”.

“Eu vi o vídeo na primeira vez porque foi o próprio Fox quem me mandou”, garantiu Leal. Eles trocaram mensagens e o cineasta revelou que não procurou seu contato no Brasil porque achou o registro fraco: “não vou fazer você perder seu tempo por isso”, disse o cineasta.

A reportagem também procurou Paulo Baraky Werner, editor e diretor da revista OVNI Pesquisa. Ele confirmou que teve contato pessoal com o proprietário da filmagem durante o Congresso de Ufologia Enigmas e Mistérios, realizado em parceria com o canal do pesquisador Edison Boaventura Jr., em 20 de janeiro de 2024, no Rio de Janeiro. Sobre a recompensa, Werner declinou. “Não pagamos por nada que não tenha lastro. Ainda mais de quem esconde”, afirmou, referindo-se à recusa do proprietário em apresentar junto com o material elementos de prova.

Comunidade ufológica mais atenta

Com as portas de negociação praticamente fechadas, conforme apurou a reportagem, e diante das muitas opiniões de especialistas acerca da fragilidade do vídeo como prova, morreram mais uma vez as expectativas da Ufologia Brasileira com o surgimento de uma boa evidência em vídeo de que algo insólito aconteceu 28 anos atrás em Varginha. Junto com elas provavelmente vão morrer também as alternativas para a comercialização de qualquer material proveniente dessa fonte, a menos que os originais da tal filmagem nítida e os elementos físicos que alega possuir sejam entregues para uma análise séria.

Resta saber se a promessa de apresentar o material completo ao pesquisador Edison Boaventura Júnior será mantida, mesmo que uma venda não se concretize.

Apesar dos atropelos, a rápida articulação entre os vários pesquisadores envolvidos pela fonte na tentativa de comercialização do material acabaram por mostrar uma comunidade ufológica mais atenta e, provavelmente, preparada para administrar uma situação em que uma evidência realmente crível seja apresentada. Agora é aguardar pela próxima!

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One thought on “ET de Varginha: como um vídeo de péssima qualidade causou tanto alvoroço?

  • Ótimo artigo! O único mistério está justamente no título do seu artigo.

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