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Caso Roswell: 50 anos de uma história mal contada

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Às vésperas do cinquentenário do que já ficou mundialmente conhecido como Caso Roswell, ou Incidente em Roswell, a Força Aérea Norte-americana divulgou relatório com a terceira versão oficial da história desde seu início: tratar-se-ia, na verdade, de um experimento com balões espiões (chamado Projeto Mogul) que teria sido maliciosamente relacionado a relatos de testemunhas de outra pesquisa da Força Aérea, levada a cabo nos anos seguintes, com bonecos de alumínio e madeira recobertos de sensores para testar um novo pára-quedas e medições diversas.

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Entre os pesquisadores do episódio não existe consenso sequer para a data da ocorrência do Caso Roswell. Baseados principalmente no depoimento de Willian W. “Mac” Brazel, à época capataz do Rancho Foster e que afirma ter sido o primeiro a encontrar os destroços do objeto, os textos de reportagens e livros sobre a ocorrência falam da queda do suposto UFO ora no dia 2 de julho, ora no dia 4, sempre relacionando-o a uma tempestade de grandes proporções.

Contestando a informação, o ex-editor sênior da revista “Aviation Week”, Philip Klass – que agora publica o “Skeptics’ UFO Newsletter”, um boletim que tenta expor enganos e dar explicações terrestres a relatos de avistamentos UFOs– sustenta que Brazel já teria encontrado os restos estranhos no dia 14 de junho, tendo contado apenas no dia 5 de julho, influenciado, talvez, por notícias do avistamento de Kenneth Arnold (ver seção UFOnário – História da Ufologia).

Certeza: uma operação militar no Caso Roswell

O que ninguém discute é que realmente alguma coisa caiu do céu e uma operação militar foi montada para resgatar os destroços.

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Mundialmente divulgada, a reconstituição da história reporta que no dia 4 de julho Brazel estava preocupado com as ovelhas. Na madrugada, ele teria ouvido um estrondo que destoava dos trovões da tempestade. Na sua ronda, ele teria encontrado os destroços espalhados por uma área de 200 jardas (aproximadamente 180 metros).

Somente no dia 6 de julho Brazel foi à cidade e entrou em contato com o xerife George Wilcox, a quem levou uma caixa com pouco mais de 2 quilos de pedaços da suposta aeronave. Wilcox imediatamente ligou para a Base Aérea de Roswell, onde ficava o 509º Grupo de Bombardeio da Força Aérea, um esquadrão de elite de bombardeio atômico. O major Jesse Marcel, oficial da inteligência do Grupo, foi encarregado de apurar o caso.

Na noite daquele mesmo dia 6, o major Marcel chegou ao Rancho Foster acompanhado de outro oficial da inteligência, Sheridan Cavitt, e tirou os destroços das mãos de Brazel. Antes de levar o material aos seus superiores, o oficial passou em casa e mostrou os destroços à sua família.

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Marcel Jr., filho do oficial e com apenas 10 anos à época, hoje é médico e mora em Montana. Recentemente, à reportagem da Revista Istoé (25/06/97 – edição número 1447), ele confirmou a história. “Meu pai chegou excitado dizendo que a Força Aérea tinha achado um disco voador. Mostrou à minha mãe e a mim umas barras finas e varetas feitas de um metal muito leve. Havia também umas folhas de algo que parecia papel alumínio, mas não amassava. Vi distintamente numa das barras sinais que lembravam hieróglifos. Não tenho dúvidas de que fosse algo alienígena”, declarou ele à revista.

Jesse Marcel posa segurando pedaços de um balão para a segunda versão oficial do Caso Roswell

Mas suas declarações já eram conhecidas da comunidade ufológica. O pesquisador Kent Jeffrey, já denominado “debunker” (equivalente a um gente de contra-informação) pelos defensores da tese alienígena, garante que o que Marcel viu eram folhas de alumínio e pedaços de madeira. Ele baseia-se em seções de hipnose de Marcel Jr. e nas declarações do cientista Charles Moore, que foi o centro de uma investigação paralela da Força Aérea Norte-americana em 1994. Morre revelou ter participado, à época, do projeto secreto Mogul, com balões espiões que levavam refletores-radar chamados ML-307. “Coincidentemente”, ironiza Jeffrey na conclusão de sua “Declaração de Roswell”, o cientista explicou que os refletores-radar foram colocados juntamente com pedaços de madeira balsa e cobertos com cola do tipo “Elmer” (para fortalecê-los).

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A Companhia de Brinquedos de Nova Iorque era quem fabricava os refletores, que eram reforçados com uma fita que tinha marcas –“desenhos abstratos cor-de-rosa arroxeados de flores”– que o major Marcel e seu filho poderiam ter interpretado como hieróglifos, segundo a terceira teoria “oficial” para o Caso Roswell.

Mas a interpretação dos fatos já foi diferente para a própria Força Aérea. Quando o major Marcel voltou à base com os destroços, o primeiro-tenente Walter Haut, que era assessor de imprensa e porta voz oficial do 509º Grupo, emitiu um documento para a imprensa com a autorização de William Blanchard, coronel comandante do grupamento. O press release preparado por Haut dizia claramente que a RAAF tinha em seu poder uma nave alienígena. Só não havia qualquer menção a seres extraterrestres, naquela época.

Manchete do Roswell Daily Record sobre a captura de um UFO

A nota gerou o que seria o maior furo de reportagem do século: “RAAF captura disco voador em rancho na região de Roswell”, estampava a capa do periódico Roswell Daily Record no dia 8 de julho de 1947. À Revista Times (edição norte-americana, 23 de junho de 1997, vol. 149 nº. 25), o primeiro-tenente Haut (hoje com 75 anos) contou recordar-se de Blanchard dizendo: “Nós temos em nossa posse um disco voador. Esta coisa colidiu ao norte de Roswell, e nós estamos despachando tudo para o General Ramey, da 8ª Força Aérea em Fort Worth.”

Erro de interpretação ou acobertamento do Incidente em Roswell?

A euforia durou pouco. O general de brigada Roger Maxuell Ramey, de Fort Worth, Texas, chamou o major Jesse Marcel e o fez posar para um fotógrafo ao lado dos pedaços de um balão meteorológico, afirmando ter confundido aqueles destroços com os restos de um disco voador. No dia seguinte, 9 de julho, e com a intervenção pessoal do general Ramey, o jornal Roswell Daily Record se retratava do suposto equívoco. E até hoje, os familiares de Marcel reclamam da humilhação que a RAAF (Roswell Air Army Force) o fez passar.

Fossem apenas estas as evidências, provavelmente o Caso Roswell nunca teria voltado ao noticiário. Mas Stanton Friedman, um ex-físico nuclear que agora vive no Canadá, retomou a pesquisa do caso em 1978. Seu estudo foi a base do livro “Incidente em Roswell“, publicado em 1980 e escrito por Charles Berlitz (autor do Triângulo das Bermudas) e pelo ufólogo William Moore.

Um casal que assistiu uma das conferências de Friedman, em 1972, havia lhe dito que um amigo de nome Grady (“Barney”) Barnett, engenheiro civil já falecido, tinha lhe contado sobre um disco voador acidentado em 1947 na região de Socorro, no Novo México e 150 milhas a oeste do rancho Foster. Antes de ser expulso do local pelos militares, Barnett teria visto vários corpos pequenos espalhados, muito próximos. Foi a primeira menção aos corpos de alienígenas.

Quando Friedman trabalhava como consultor de um seriado de TV dedicado a mistérios não esclarecidos, em 1989, foi procurado por Gerald Anderson. Junto com John Carpenter, um terapeuta de Springfield, que fazia investigações para a MUFON –Mutual UFO Network– Friedman conduziu várias sessões de hipnose com Anderson, para ajudá-lo a resgatar a memória. Ele tinha apenas cinco anos em 1947, quando havia se mudado com a família para Roswell. E era com a família que estava, pegando pedras na Planície de San Augustin, quando teria visto o objeto acidentado.

Ao jornal Springfield News-Leader, a testemunha disse: “nós todos subimos para aquilo (na direção de um grande disco de prata). Havia três criaturas, três corpos, deitados na terra, debaixo desta coisa, na sombra. Dois não estavam se movendo e um terceiro obviamente estava tendo dificuldades em respirar, assim como quando você quebra costelas. Havia um quarto (que)… aparentemente tinha estado prestando socorro aos outros.”

Anderson afirmou ainda que logo depois os militares chegaram, avisando para esquecerem o que tinham visto e mandando-os sair do local.

Mais lenha na fogueira

Surgiu então outra testemunha para o Caso Roswell: o motorista de caminhão Jim Ragsdale, que morreu em 1994.

Seu relato foi trazido à tona pelo autor de ficção-científica Kevin Randle e Don Schmitt, investigador do Centro para Estudos de UFOs (CUFOS), de Chicago. No livro “The Truth About the UFO Crash at Roswell” (A verdade sobre a queda de um UFO em Roswell), lançado por eles em 1994, Ragsdale dizia que estava acampado com uma namorada na região de Socorro quando viu um enorme objeto cair não muito longe de onde estavam, naquele 4 de julho.

Eles foram até o local, onde teriam visto quatro corpos de aspecto não humano. Para os céticos, como Kent Jeffrey e Philip Klass, seu testemunho não pode ser levado em consideração, já que era tido como mentiroso e beberrão.
Em outro livro, “UFO Crash at Roswell” (Queda de UFO em Roswell), publicado três anos antes, Randle e Schmitt já citavam outra testemunha: Glenn Dennis, que em 1947 tinha 22 anos e trabalhava como um agente funerário de Roswell. Dennis disse que a base aérea naquele mês de julho havia lhe solicitado informações sobre como proceder à construção de caixões de tamanho apropriado para crianças e procedimentos para embalsamar corpos que tinham sido expostos ao tempo por dias.

Dennis argumentou ainda ter tido contato com uma enfermeira que teria auxiliado os médicos na autópsia dos corpos. Naomi Self teria sido transferida para uma base na Inglaterra logo depois da autópsia. Seu nome não consta da lista de cadetes e enfermeiras que serviram naquela época e, quando confrontado com este fato, o agente funerário disse ter preservado a identidade da enfermeira que, conforme a boataria, teria morrido em circunstâncias misteriosas.

O incidente em Roswell criou um grande mercado

A partir dessas declarações, formou-se em torno do “Incidente em Roswell” um mercado milionário. A cidade que dá nome ao caso tem hoje boa parte de seu faturamento direta ou indiretamente vinculada ao “turismo ufológico”.
Mas não é apenas em Roswell que a história rende dinheiro. Em 1995, Ray Santilli, um produtor inglês hoje amaldiçoado por boa parte da comunidade ufológica mundial, revelou o que dizia ser o filme de uma autêntica autópsia em um alienígena capturado em Roswell. O filme foi exibido em diversos países, inclusive no Brasil. Mais tarde especialistas e ufólogos, com base em vários erros, desmascararam a fraude.

A autópsia do ET de Roswell: fraude

Centenas de milhares de dólares circulam com a venda de livros e materiais como camisetas, chaveiros e outras lembranças alusivas ao caso, além, é claro, das conferências que reúnem entusiastas de diferentes cantos do planeta.
Bases secretas e documentos confidenciais.

O resgate do UFO em Roswell e outros que teriam ocorrido a partir de então, tornaram- se os pilares de sustentação de outras teses, ainda mais espetaculares, como a da Área 51. Conhecida como Dreanland (“terra do sonho”), seria uma base altamente secreta incrustada no interior de uma colina no deserto de Nevada, numa região próxima a Las Vegas, para onde seriam levados os discos voadores resgatados.

Essa história tem como principal divulgador o físico Robert Lazar. Ele afirma ter trabalhado na Área 51 fazendo “engenharia reversa” (desmontar para compreender) em objetos voadores não identificados, no desenvolvimento de uma tecnologia híbrida com objetivos bélicos. Lazar ainda não conseguiu provar a veracidade de seu relato mas, por outro lado, as pessoas que tentam desmascarar seu passado também não tiveram sucesso. E apesar de estarem lá as placas indicativas da Área 51 –com advertências aos invasores–, o governo dos EUA não admite sua existência.

Pouco antes da Força Aérea dos EUA tornar conhecido seu novo relatório apontando tratarem-se de balões e bonecos, respectivamente UFOs e ETs, o Coronel Philip Corso anunciou para julho o lançamento de seu livro intitulado “The Day After Roswell,” (O Dia Seguinte a Roswell –editora Pocket Books Hardcovers), que ainda não chegou ao Brasil.

Corso tem lá alguma credibilidade. Segundo todos os relatos sobre sua carreira, ele serviu com distinção durante a Segunda Guerra Mundial e na Guerra da Coréia, como um membro do Conselho de Segurança da Casa Branca, à época do Presidente Eisenhower. Teria trabalhado no Escritório de Tecnologia Estrangeira no Departamento de Desenvolvimento e Pesquisa do Exército Americano, reportando-se ao General Arthur Trudeau.

Michael Lindemann, editor da newsletter eletrônica CNI News, foi um dos primeiros a ter acesso ao conteúdo do livro. “Quando esse homem disse que ele sabe sobre Roswell, faz sentido prestar atenção”, disse em matéria que circulou na Internet. No livro, Corso afirma que viu corpos de alienígenas, destroços da nave e teria ficado, mais tarde, encarregado de distribuir o material para pesquisa em laboratórios de confiança do governo.

Lindemann, porém, alerta: “O que irá frustrar todos menos o mais ardente dos crentes é o fato de que muito do que Corso diz não pode ser confirmado. O leitor é forçado a aceitar ou rejeitar a litania de afirmações extravagantes nas bases da credibilidade de Corso, somente”.

Verdade ou não, o fato é que já se passaram 50 anos de afirmações e desmentidos e os cidadãos do mundo continuam sem saber o que realmente aconteceu no Caso Roswell. Por um lado, a Força Aérea dos EUA diz que não houve queda de UFO, consciente de que derrubar o mito do Incidente em Roswell é abalar a crença em ramificações da Ufologia, como a Área 51, o Projeto Majestic 12 (grupo supostamente encarregado de acobertar o fenômeno UFO) e outras. Na outra ponta, os ufólogos buscam mostrar que a população está sendo enganada por interesses obscuros e inescrupulosos que querem tirar proveito da situação.

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