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Alegações extraordinárias vs rigor científico: ainda o caso das Múmias de Nazca

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As chamadas “Múmias de Nazca” continuam voltando aos holofotes após a apresentação realizada no Peru pelo jornalista mexicano Jaime Maussan, que as tem divulgado como uma das “descobertas mais importantes da história humana”. Maussan defende que esses corpos mumificados possuem uma “procedência biológica legítima e não humana”.

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O evento contou com a participação de cientistas americanos, incluindo o Dr. John McDowell, ganhador do Prêmio de Ciência RBH Gradwohl 2024 e ex-presidente da Academia dos Estados Unidos de Ciências Forenses (AAFS). McDowell endossou a necessidade de mais investigações, sem se comprometer diretamente com a origem extraterrestre dos corpos.

Imagem do processo de investigação radiológica das Múmias de Nazca (Reprodução/TV Maussan/Youtube)
Imagem do processo de investigação radiológica das Múmias de Nazca (Reprodução/TV Maussan/Youtube)

Por outro lado, as autoridades peruanas permanecem céticas quanto à autenticidade das múmias. O Ministério da Cultura do Peru alega que são falsificações criadas com ossos de animais, visando o tráfico ilegal de patrimônio cultural. Durante o evento, ocorreu uma tentativa de apreensão dos corpos pelas autoridades.

“Esses corpos não têm nenhuma relação com seres humanos”, afirmou José de Jesus Zalce Benitez, do Instituto Científico de Saúde da Marinha Mexicana, com base em análises anteriores.

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Maussan acusou o Ministério Público do Peru de usar artefatos falsificados para desacreditar sua investigação e abriu uma ação milionária contra o governo pela suposta difamação.

Estratégia agressiva e alegações extraordinárias

Maussan vem reiteradamente publicando em suas redes sociais afirmações visando causar impacto, como uma suposta análise de McDowell em que ele afirma que “os Tridáctilos de Nazca são reais, com base nos análises alguns claramente não são humanos”, sempre fazendo questão de reforçar que McDowell é “o máximo expert mundial em Medicina Forense”.

Além disso, ele continua difundindo a tese de que o assunto está sendo encoberto. Recentemente, retuitou afirmações como a do usuário Vlad The Alien (@VladTheAlien):

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“Onde estão os debunkers agora? Uma equipe de cientistas forenses americanos independentes — Dr. John McDowell, Dr. James Caruso e Dr. William Rodriguez concluíram sua investigação inicial das Múmias de Nazca que os corpos não são fabricados, alguns claramente não são humanos, e precisam de estudos adicionais por uma comunidade científica maior. Este caso extraordinário quase foi enterrado por uma intensa campanha de desinformação.”

A estratégia parece ter ganhado alguma simpatia no Brasil. O pesquisador Rony Vernet, bastante ativo no X, destacou outra fala atribuída a McDowell:

“Precisamos de testes mais sofisticados. Eu recomendaria fortemente obter informações genéticas, DNA das mãos e pés desses corpos tridáctilos e comparar com o resto do corpo para determinar se é o mesmo DNA exato.”

Enquanto isso, Maussan e seus seguidores insistentemente tentam conseguir o envolvimento de nomes em evidência na ufologia norte-americana por causa dos denunciantes de OVNIs, reiteradamente mencionando-os em postagens sobre o tema:

“A descoberta dos Tridáctilos Nazca Não-Humanos, a qual Jaime Maussan conduz, é tão grande que os heróis UAP dos EUA; @ChrisKMellon @LueElizondo @JeremyCorbell @uncertainvector etc., já sabem dessa informação e não se pronunciam a favor; ‘vão morrer’ com a deles.”

Onde está o rigor científico nas análises das Múmias?

Apesar de toda a agitação, continua gritante o amadorismo com o qual as supostas “análises” estão sendo apresentadas. O próprio Dr. McDowell admitiu que sua equipe analisou os espécimes por apenas “cerca de 7 horas”, além de ressaltar a necessidade de novos testes e análises aprofundadas. Mas continua não havendo qualquer notícia de que essas análises estão ou serão feitas. Qualquer pesquisador minimamente experiente certamente consideraria “7 horas de ‘análises'” muito pouco para quaisquer conclusões definitivas.

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Dr. McDowell, em entrevista a Maussan: "Eu gastei cerca de 7 horas examinando-as [às múmias]" (Reprodução/X.com)
Dr. McDowell, em entrevista a Maussan: “Eu gastei cerca de 7 horas examinando-as [às múmias]” (Reprodução/X.com)
Vale ressaltar ainda que a afirmação de McDowell de que “algumas múmias não são humanas” certamente gera questionamentos: se as alegações de Maussan forem verdadeiras, ou todas as múmias “não são humanas” ou nenhuma é. Essa aparente contradição reforça a necessidade de uma investigação rigorosa e isenta.

Uma das provocações da equipe de Maussan para envolvimento da comunidade com o tema aparentemente chegou ao cientista Garry Nolan, um proeminente geneticista que recentemente tem se envolvido ativamente no estudo de UFOs e alegações de fenômenos alienígenas. Provavelmente frustrando as expectativas dos entusiastas dos “tridáctilos” das Múmias de Nazca, Nolan deu uma aula do que seria verdadeira ciência no caso e ofereceu orientações valiosas em um post no Twitter:

“Eles [os investigadores] devem ser autorizados a seguir sua expertise e ofício, e submeter seus relatórios a um pequeno comitê de cientistas ou especialistas para verificação cruzada”, disse Nolan.

Ele também recomendou a inclusão de representantes de grupos indígenas, caso alguns dos esqueletos sejam “compostos”, para garantir o respeito aos restos mortais.

“Nenhum membro do comitê deve ter poder de veto. Eles estão lá para oferecer comentários. Deixe os especialistas conduzirem o processo”, enfatizou Nolan.

O caminho proposto por Nolan inclui a nomeação de um acadêmico para orientar o processo de submissão do artigo, a sugestão de experimentos e análises adicionais, a redação e edição do artigo, sua submissão para revisão por pares e, posteriormente, sua publicação em repositórios como o BioRXiv.

“As relações públicas ou a mídia devem ser minimizadas antes disso. A ciência não é melhor feita sob pressão da mídia, onde há ganho financeiro em criar clickbait”, advertiu Nolan.

À medida que a polêmica continua, a comunidade científica aguarda por uma investigação rigorosa, conduzida de acordo com os padrões amplamente aceitos, para determinar a verdadeira natureza dessas intrigantes múmias.

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