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Dr. Ubirajara, Varginha e a tradicional teimosia da Ufologia

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Em 12 de dezembro do ano que passou, 2023, o Dr. Ubirajara Franco Rodrigues, advogado por profissão e respeitável pesquisador da Ufologia brasileira decidiu quebrar um silêncio autoimposto de mais de 10 anos e concedeu entrevista ao Canal João Marcelo para falar, entre outras coisas, do Caso Varginha, do qual foi o principal descobridor. Importante ressaltar que durante essa última década não faltaram convites de imprensa e outros portais para que o “Bira”, como é conhecido na Ufologia, se manifestasse.

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Não é coincidência nem surpresa que a quebra do silêncio tenha ocorrido exatamente para os pesquisadores João Marcelo Rios e Marco Aurélio Leal, ambos amigos pessoais do pesquisador e, em boa medida, discípulos do “mestre”. João Marcelo, inclusive, nunca escondeu que sua visão de Ufologia herdou grande parte do aprendizado com o amigo advogado, de quem acompanhou os passos in loco, no próprio episódio do suposto ET de Varginha.

Mas devo voltar ao conteúdo da entrevista em si, que é o tema deste artigo. Bastante atrasado, sim, propositalmente, pois queria assistir calmamente à reação da chamada “comunidade Ufológica”. Isso por acompanhar de longe o trabalho do Dr. Ubirajara Franco Rodrigues há bastante tempo e, devo dizer, com admiração redobrada desde o início do Caso Varginha. Naquela época, o Portal Vigília — então Revista Eletrônica Vigília — era o pioneiro site de notícias ufológicas e Ubirajara, assim como o saudoso e singular pesquisador Claudeir Covo, eram fontes fixas para nossas reportagens.

Uma dessas matérias, no auge dos debates sobre o Caso Varginha, falou sobre a associação entre a morte do soldado Marco Eli Chereze e a suposta captura de uma criatura. Enquanto o pesquisador Vitório Pacaccini recheava a ocasião com uma inexistente situação de mistério e ponderava o “sumiço” do médico que atendeu o soldado, o Portal Vigília, com alguns telefonemas, em algumas horas, conseguiu conversar com todos os médicos envolvidos no episódio, mencionar o inquérito de erro médico — posteriormente extinto, com todos inocentados — e inclusive tratar a questão com especialistas em infectologia.

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Naquela mesma oportunidade, já cauteloso e responsável, mesmo sem conhecimento prévio dos nossos achados, Bira destacou, em entrevista, que não estava estabelecida qualquer relação entre a morte de Chereze e uma suposta contaminação pelo contato com um ser per si. Para ele, a morte do rapaz apenas deu aos ufólogos a oportunidade de tomarem conhecimento da atuação do mesmo em uma operação sigilosa possivelmente relacionada a situação de captura da suposta criatura – informação dada pela família do soldado.

Essa clareza de distinção entre causa, correlação e efeito me marcou bastante à época. Também acompanhei, nos anos que se seguiram, às trocas de mensagens entre Ubirajara e membros da lista fechada de discussão por e-mail da Revista UFO, da qual eu era um dos integrantes. Suas teses, que mais tarde se consolidariam no seu ótimo livro “A desconstrução de um mito“, em coautoria com Carlos Alberto Reis, já estavam todas ali, para quem tivesse a boa vontade de tentar compreender.

Dr. Ubirajara também mencionou, em sua entrevista, o aprendizado que extraiu do trabalho de um cético importante, o meu amigo Kentaro Mori. Aliás, ele pode eventualmente negar aqui (Mori, à vontade, acho que nunca te perguntei sobre isso hahaha), mas gosto de pensar que sua curta permanência no mesmo grupo de trabalho da Revista UFO — sim, ele também esteve por lá — talvez tenha sido possível em parte pela minha insistência à época, quando eu defendia veementemente sua contribuição para que discutíssemos no grupo em alto nível o contraditório, de forma lógica e racional.

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E eis que essa discussão não perdurou muito, claro. Quando confrontado com uma lógica diversa daquela da maioria, em várias ocasiões, o grupo não reagia muito bem. Ficou impossível discutir em bom nível situações como quando, em conjunto com Mori e a ajuda do pesquisador Rodrigo Moura Visoni, o Portal Vigília desmascarou a farsa do caso da Ilha de Trindade. Ou publicamos uma histórica entrevista com o filho do oficial responsável pela revelação (no sentido de impressão mesmo) de parte das fotografias que compuseram o relatório da Operação Prato.

Era um padrão repetitivo e cansativo, contraproducente para o debate, com eventuais insultos, ameaças de processos e outras bobagens. Essa experiência, e o convite para deixarmos o grupo (e por conseguinte a “comunidade UFO”) — primeiro o Mori, depois este que vos escreve — de certa forma me abriu os olhos para a teimosia de uma parte importante da Ufologia, que enxerga a visão crítica sobre o tema como algo prejudicial à própria pesquisa, o que é, para dizer o mínimo, um paradoxo.

Desta forma, não foi, exatamente, uma surpresa saber da decisão do Dr. Ubirajara de se afastar da Ufologia uma década atrás, depois de sua auto-revisão de conceitos. Surpreendente mesmo foi acompanhar o acirramento dos ânimos e dos ataques, acusando-o de ter se acovardado diante de imaginárias pressões militares ou vendido seu silêncio. Fosse verdade, teria sido financeiramente um péssimo acordo, aliás, pois Ubirajara não passou a viver de renda em nenhuma ilha caribenha.

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Agora, seu retorno aos holofotes, mais de uma década depois, expôs novamente aquela que é uma fraqueza visceral da Ufologia tradicional. Sua dificuldade em lidar com o diverso, o contraditório, e com a lógica da crítica cética, salutar para qualquer pesquisa que se pretenda científica. Ao invés de procurar enfrentar o argumento, explorar (e provar) suas falhas ou deficiências, essa dificuldade impõe aos críticos da visão cética a necessidade de desqualificar a pessoa, não a afirmação. Isso para falar diretamente aos já “iniciados”.

Quanto aos meramente entusiastas, o efeito parece ainda mais devastador. O que deveria ser transformado em exemplo para aguçar mentes críticas, pouco suscetíveis a enganos e manipulações, e ainda mais ávidas para perscrutar os mistérios da Ufologia e desvendá-los, acaba por transformar-se numa máquina de frustrações. Parte grande dos entusiastas parece padecer com algo que se assemelha à “diminuição da fé”, de forma que a tal Ufologia passa a não ter valor algum se não estiver sempre tratando de um fenômeno extraterrestre!

O Portal Vigília é pioneiro na divulgação jornalística da Ufologia e como tal sempre teve como meta uma exposição equilibrada, factual e isenta do fenômeno. E sendo um produto de trabalho humano, não de máquinas nem de extraterrestres, não estamos livres de erros ou falhas de interpretação. Mas quem me conhece e/ou acompanha os eventuais artigos assinados e editoriais aqui no Portal (atualmente bastante raros), sabe que tenho uma abordagem bem mais cética do que a média no campo da Ufologia. E, assim como Ubirajara, essa abordagem se aguçou com o tempo. Já fui muito mais crédulo, posso dizer.

Então, de certa forma, acredito que consigo entender a perspectiva de Ubirajara e respeitá-la ainda mais: uma lógica para quem pesquisar Ufologia é pesquisar Ufologia e pronto, não importando a origem do fenômeno; é tentar desvendar o mistério, seja ele provocado por algo sobrenatural, não humano, ou apenas a psique humana. É um enigma tão rico e tão cheio de facetas que vale o esforço de uma vida… Aliás, não por acaso essa afirmação é baseada numa frase do grande cientista e comunicador Carl Sagan.

Cético perspicaz, aqui mesmo, numa resenha para o Portal Vigília sobre seu livro “O Mundo Assombrados Pelos Demônios”, defendi — como ainda defendo — que ele foi absolutamente incompreendido pelos ufólogos. Foi abertamente acusado até de ser agente da CIA para desinformação. Essa crítica infantil e absurda seguramente ofuscou o brilhante papel de “advogado do diabo” que o renomado cientista teve em relação aos UFOs, junto à sociedade e à comunidade acadêmica. Apaixonado pela ideia de descobrirmos vida extraterrestre, aquela sua obra, entre outras coisas, mostrou onde teorias mais mirabolantes erram e sugeriu, a partir daí, onde a pesquisa deveria concentrar esforços.

Assim, resta dizer parabéns à coragem do Dr. Ubirajara Franco Rodrigues de retornar à cena UFO. E torcer para que seus apontamentos críticos e certeiros sejam um ponto de partida para uma mudança salutar e necessária na lógica com que a Ufologia trata suas evidências (ou a falta delas). Até porque, a mesma ladainha de 27 anos (para falar apenas do Caso Varginha), com as especulações de sempre — tem vídeo/não tem vídeo da criatura — não está levando o caso a lugar algum.

 

P.S1:
Para quem não assistiu ou quer rever, segue a entrevista na íntegra abaixo:

P.S2:
Recomendo também a live do “Identificado” com Dr. Ubirajara, realizada alguns dias após a entrevista:

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Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é editor do Portal Vigília

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