fbpx
CasosHistóriaHomeNotícias

Caso Varginha: 25 anos de investigações, mistérios e controvérsias

Compartilhe:

Em 20 de janeiro de 1996, na cidade de Varginha, no Sul de Minas Gerais, teve início uma sequência de fatos que ficaria para sempre conhecida como Caso Varginha, ou episódio do ET de Varginha. A história mais conhecida, contada por três meninas que caminhavam pelo Jardim Andere, é apenas a ponta do iceberg.

----publicidade----

O evento é um dos mais conhecidos da Ufologia no mundo, chamado até mesmo de Caso Roswell brasileiro, por envolver a suposta queda de um objeto voador não identificado e a alegada captura de criaturas que poderiam ter relação com o tal objeto, descrito como um “submarino voador”.

Sim, “criaturas”, no plural. Dependendo do pesquisador consultado, a história se desdobra de duas a até quatro criaturas de pele marrom brilhante, membros finos, veias saltadas, grandes olhos vermelhos e três protuberâncias na cabeça. E não apenas o ser encontrado agachado, aparentemente acuado e com medo, relatado pelas irmãs Liliane Silva e Valquíria Silva e a amiga Kátia Andrade Xavier.

discos voadores varginha

----publicidade---- Loja do Portal Vigília - Estampas exclusivas para quem veste a camisa da Ufologia

Para marcar esse momento em que o Caso Varginha completa 25 anos, o Portal Vigília resolveu publicar dois conteúdos especiais com a intenção de revisitar diversos aspectos da investigação até hoje, além de apurar respostas para algumas perguntas que, ao longo dos anos, foram se transformando em tabus, folclore e teorias da conspiração sobre os acontecimentos daquele janeiro de 1996.

O primeiro conteúdo – na forma de um artigo gentilmente cedido pelo pesquisador João Marcelo Marques Rios – trouxe um panorama bastante completo e atual da nova fase das investigações do Caso Varginha, iniciada em 2016. Exatos 20 anos depois, três jovens ufólogos que direta ou indiretamente tiveram acesso a quase todas as informações da pesquisa original passaram a desenvolver uma verdadeira maratona de apuração do caso.

O artigo havia sido originalmente publicado no blog de João Marcelo, complementarmente aos materiais em vídeo fantásticos de testemunhas inéditas publicados em seu canal no Youtube. Tais conteúdos ampliaram de maneira incrível o escopo e o alcance da investigação. No entanto, como observou o autor no próprio texto e em conversa com o Portal Vigília, as revelações do trio nunca tiveram o impacto e a atenção que – presumia-se – causaram na comunidade ufológica.

----publicidade----

As informações contidas nos vídeos sigilosos do Caso Varginha

Para este segundo conteúdo especial, o Portal Vigília entrou em contato com vários investigadores diretamente envolvidos com o episódio em busca de respostas para algumas perguntas e fatos que, ao longo dos anos, foram se transformando em tabus, folclore e teorias da conspiração sobre os acontecimentos após janeiro de 1996.

O Portal Vigília perguntou aos ufólogos se atualmente a divulgação dos testemunhos sigilosos acrescentaria revelações ao Caso Varginha
O Portal Vigília perguntou aos ufólogos se atualmente a divulgação dos testemunhos sigilosos acrescentaria revelações ao Caso Varginha

João Marcelo, Marco Aurélio Leal e Giordano Mazutti revisitaram quase todas as testemunhas originais do caso ainda vivas e seus achados nos ajudam a dissipar uma parte da névoa que repousa sobre um dos principais mistérios do caso: os tais vídeos sigilosos obtidos pelos primeiros pesquisadores originais do incidente: Ubirajara Franco Rodriges, Vitório Pacaccini, Marco Antônio Petit e Claudeir Covo, este último já falecido.

Há muita dúvida sobre o que esses vídeos contém e seu potencial para comprovar o caso. Tratam-se de testemunhos em primeira mão, de dois ex-militares e um bombeiro (este apenas em áudio), gravados pelos ufólogos com o compromisso de não revelarem as identidades dos depoentes. Nas três peças, as testemunhas explicam em detalhes qual teria sido seu papel na captura e transporte das estranhas criaturas.

----publicidade----

Ao longo dos anos esses vídeos foram vistos integralmente por bem poucos pesquisadores. Também foram exibidos para audiências fechadas, em eventos ufológicos de público pagante, sem revelar as identidades dos depoentes. Mas seu conteúdo está longe de ser um segredo. “Os dados que estão nos vídeos já são divulgados desde 1996.(…)Se você assistir – ou outra pessoa que não tenha assistido – a esses vídeos, vai ser decepcionante, porque não vai ter informação nova.(…)O que tem ali de informação sobre o caso já foi amplamente divulgado”, explica João Marcelo.

De fato, nos vídeos, um dos militares revela sua ida ao Hospital Humanitas pela manhã, em 22 de janeiro, para tentar retirar uma criatura, junto a outros colegas. No outro, um segundo militar fala de sua missão no fim da tarde do mesmo dia, para uma nova tentativa de retirar a criatura, do mesmo hospital. Ambos teriam visto a criatura conforme descrita pelas crianças, com detalhes adicionais, como os pés bifurcados (em formato de V), o tamanho reduzido na maca, etc.

Portão da Escola de Sargentos das Armas, em Três Corações, MG (Wikipedia/2014 – Banco de Foto da Seção de Fotocinegrafia da ESA)

Foi graças a estes depoimentos que os ufólogos que realizaram a pesquisa inicial traçaram toda a provável cronologia dos acontecimentos, com pelo menos dois locais diferentes de captura, com a participação do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e do Exército, incluindo o transporte de criaturas até o Hospital Humanitas, depois à Escola de Sargentos das Armas (ESA ou EsSA), para posteriormente um comboio supostamente levar todo o material apreendido para Campinas, especificamente na universidade Unicamp.

O peso dos testemunhos na investigação

Um aspecto que João Marcelo frisa a respeito de um dos mais detalhados relatos sigilosos é que “é um testemunho. Um testemunho não prova uma coisa dessa magnitude. Uma coisa que a gente tem que observar é que os militares que esses dois citam como participantes, muitos deles eram desafetos deles lá [na época do serviço militar]”.

De fato, a cautela de Marcelo, que reproduz a lógica do primeiro pesquisador do caso, Ubirajara Franco Rodrigues, encontra eco em praticamente todos os demais investigadores ouvidos por Vigília. Perguntamos a eles se acreditam que a divulgação dos vídeos sigilosos da época traria algum esclarecimento relevante ou impacto para o caso. “Eu fico nessa dúvida se haveria impacto mesmo”, concorda o pesquisador Marco Leal, que diz acreditar que o impacto talvez fosse maior apenas para quem acredita ou acompanha o caso, pelo reforço das informações já divulgadas.

Um dos investigadores que acompanhou o caso à época, e teve acesso a pelo menos um dos vídeos, o ufólogo Eduardo Mondini, de Sumaré, avalia de forma similar: as informações “(…)para mim não trariam mais impacto do que as outras revelações que chegam de vez em quando sobre o caso. O que pesa a favor é que o cabo [nome removido pelo editor*] é um militar e isso poderia trazer um desconforto para as autoridades que negam a história”.

Edison Boaventura Junior, outro pesquisador envolvido diretamente com o caso desde 1996, também declarou não acreditar em acréscimos relevantes na divulgação. Ele lembrou que o programa Fantástico, da Rede Globo, já tinha divulgado o teor do áudio sigiloso do ex-integrante do Corpo de Bombeiros na época. Esse áudio foi obtido originalmente pelo pesquisador Vitório Pacaccini.

Boaventura acredita que o ideal seria reunir todo material em áudio e vídeo já levantando pelos ufólogos, “porque aí, você juntando todas essas peças do quebra cabeças, você vai ter um entendimento um pouco melhor do caso”, disse.

No processo de revisitar testemunhas e buscar confirmações, os pesquisadores João Marcelo, Marco Leal e Giordano Mazutti também descobriram que algumas revelações podem trazer desconforto até para quem acredita na história. Novamente localizado por eles, mesmo com o compromisso de continuar mantendo sigilo de seu nome e já afastado de qualquer possibilidade de represália pela sua antiga corporação militar, o ex-integrante do Corpo de Bombeiros que originalmente gravou um áudio confirmando a captura de uma das criaturas admitiu que mentiu.

Segundo seu novo depoimento, ele apenas cedera, à época, para acabar com a pressão que recebera do pesquisador que o procurou originalmente.

Silêncio forçado, por medo, ou apenas busca de paz?

A questão do silêncio – das testemunhas e de alguns dos próprios pesquisadores – é outro tema que aos poucos foi se incorporando a uma nova mitologia em torno do caso. De fato, a manutenção do sigilo quanto à identidade dos militares que gravaram vídeos testemunhando sua participação atendeu a um propósito objetivo: evitar que sofressem represálias do Exército ou do Corpo de Bombeiros, contrariando as ordens de seus superiores diretos. Não havia, de fato, à época, qualquer sinal de ameaça à vida das testemunhas ou dos pesquisadores.

O mais perto de uma ameaça no caso fora, então, a pressão sofrida pela mãe das meninas Valquíria e Liliane para convencer as filhas a desmentirem a história do “ET de Varginha”, como já era chamado. Segundo ela, homens vestidos de ternos – prontamente associados pela comunidade aos lendários “Men In Black” (MIBs) da Ufologia – teriam oferecido dinheiro para isso.

Diferentemente do que especulava a comunidade ufológica, o próprio descobridor do caso iria supor, mais tarde, que essa visita tratou-se provavelmente de uma ação de lideranças religiosas. Pastores de uma agremiação evangélica provavelmente buscavam tirar proveito da visibilidade que o desmentido teria, dada a enorme cobertura da imprensa. Detalhes da abordagem dos homens acenderam o alerta para Ubirajara Rodrigues: a insistência para ser um desmentido midiático, numa emissora específica, e o incômodo que os “MIB” demonstraram pelo fato da mãe das garotas usar frequentemente a expressão “pelo amor de Deus”. Ela chegou a ser repreendida por eles por isso!

Ubirajara Rodrigues, descobridor do Caso Varginha
Ubirajara Rodrigues, descobridor do Caso Varginha (Cortesia: João Marcelo)

Aliás, a insistência de uma grande parte da comunidade ufológica em creditar algumas das posições e opiniões de Rodrigues sobre o Caso Varginha a ameaças e pressões descabidas teria sido fundamental para sua decisão de se afastar da Ufologia. O Portal Vigília fez contato com o pesquisador, que gentilmente respondeu nossas mensagens, mas declinou do convite para falar novamente sobre o objeto de sua pesquisa.

Em todos os seus artigos, e seus dois livros sobre o episódio, de fato Rodrigues nunca afirmou que o que aconteceu em Varginha envolveu comprovadamente criaturas extraterrestres. Ou que tivesse relação comprovável com objetos voadores não identificados, porque a data da alegada observação do óvni pelo casal de fazendeiros não bate com o caso. É quase consenso entre os pesquisadores, aliás, que teria ocorrido aproximadamente uma semana antes.

Ubirajara Franco Rodrigues e o fogo amigo

Em um manifesto publicado em 2010, Rodrigues também esclareceu que sua intimação para depoimento no Inquérito Policial Militar (IPM), aberto pelo Exército sobre o Caso Varginha, deu-se de forma cordial e no estrito respeito de seus direitos. O IPM fora instaurado em abril de 1997, após a publicação da primeira obra sobre o caso, “Incidente em Varginha – Criaturas do Espaço no Sul de Minas”, de Vitório Pacaccini, em coautoria com o escritor Maxs Portes.

A intenção do comando da ESA era apurar se as informações divulgadas no livro podiam ofender a honra de militares citados, comprometer as Forças Armadas, incitar militares da ESA a revelarem dados sigilosos sobre a instituição, além de atribuir ao Exército testemunhos para acobertar um eventual incidente envolvendo supostos extraterrestres. Foram ouvidos militares e os ufólogos Vitório Pacaccini e Ubirajara Franco Rodrigues.

Capa do volume 2 do arquivo que compõe o IPM sobre o Caso Varginha (O IPM completo, em PDF, pode ser consultado aqui)

O IPM foi encerrado em poucos meses, em agosto de 1997, com o arquivamento: nenhum crime foi constatado e ninguém foi punido.

O arquivamento ocorreu quatro anos antes de Rodrigues publicar seu primeiro livro, “O Caso Varginha” (2001), relatando os passos de sua pesquisa, sua perspectiva dos acontecimentos e confirmando suas suspeitas da ocorrência de um evento singular em sua cidade (ele efetivamente morava em Varginha, como ainda mora e atua profissionalmente). Oito anos mais tarde, em 2009, em parceria com outro pesquisador e escritor, Carlos Alberto Reis, Rodrigues lançaria a obra “A Desconstrução de um Mito”.

Neste segundo livro, Rodrigues reforçou suas suspeitas anteriores e afirmações já feitas. Mas também destacou os contornos folclóricos que o episódio ganhara e os limites científicos do que, segundo sua visão, seria possível afirmar sobre os fatos de 1996. Isso foi o suficiente para causar um pandemônio e suscitar pesadas críticas por parte da comunidade ufológica.

Capa da Obra a Desconstrução de Um Mito
Capa da obra A Desconstrução de Um Mito – disponível em PDF sob pedido, no site https://ufologia21.blogspot.com/

Mais do que qualquer pressão sofrida por uma investigação do Exército, o “fogo amigo” fez o verdadeiro estrago. O pesquisador chegou a ser acusado de negar os fatos em troca de benefício financeiro. Mesmo que a leitura atenta e a consulta à obra pregressa do autor não sinalizassem qualquer mudança de posicionamento efetiva.

Ex-militares passam bem, a propósito! Ufólogos também, apesar das ameaças…

A despeito dos receios de represálias ou punições que eventuais depoentes do Caso Varginha pudessem sofrer no ambiente militar, e contrariando o senso comum corrente na Ufologia, isso nunca se concretizou. Inclusive apesar de as testemunhas sigilosas terem se tornado relativamente fáceis de serem identificadas, já há algum tempo.

Na verdade, poucos meses depois da divulgação do caso, segundo João Marcelo, a ESA já tinha elementos para identificar as duas testemunhas que estavam sob sua jurisdição. Nos últimos anos, o nome de pelo menos um deles – então cabo* – acabou sendo divulgado (provavelmente de forma acidental) e, exceto por ligações incômodas de ufólogos e jornalistas mais atentos, a ele e à sua família, nada mais grave aconteceu.

O trio de ufólogos que retomou a pesquisa em 2016, aliás, revisitou esse ex-militar, que agora trabalha como caminhoneiro. Abertamente ele nega participação no caso. Mas, com o compromisso de manutenção do sigilo, mantém o que falou em 1996.

O Portal Vigília também consultou o pesquisador Eduardo Mondini sobre ameaças durante a pesquisa do Caso Varginha. Ele e o irmão, Osvaldo Mondini, à época morando em Sumaré, no Interior de São Paulo, foram importantes na condução da chamada “fase de Campinas” do caso. Havia a suspeita, nunca confirmada, de que ao menos uma das criaturas fora levada para instalações da Unicamp.

Entrevista dos irmãos Eduardo e Osvaldo Mondini para o extinto canal Burn, depois de anos de afastamento da Ufologia (o vídeo foi republicado pelo Canal Enigmas e Mistérios, do pesquisador Edison Boaventura Junior)
Entrevista dos irmãos Eduardo e Osvaldo Mondini para o extinto canal Burn, depois de anos de afastamento da Ufologia (o vídeo foi republicado pelo Canal Enigmas e Mistérios, do pesquisador Edison Boaventura Junior)

Naquela época o grupo dos irmãos, o Centro de Estudos e Pesquisas Exológicas de Sumaré (CEPEX), na região de Campinas, era parceiro de primeira hora da então recém lançada Revista Eletrônica Vigília, nome do Portal Vigília àquela altura, início da Internet no Brasil.

Eles já haviam revelado terem recebido ameaças enquanto apuravam o caso. Uma pessoa teria se aproximado deles com uma desculpa qualquer e começou a fazer perguntas insistentes sobre Ufologia, especificamente sobre Varginha. “Sempre questionando e trazendo informações (ou contra informações) sobre as investigações do caso Varginha, as quais havíamos discutido (eu e o Osvaldo) dias antes por telefone e que não havíamos discutido com mais ninguém”, ressalta Eduardo.

“Para resumir a história, descobrimos que nossos telefones estavam grampeados e que esta pessoa era um agente ‘S2’ do Exército (Serviço Secreto do Exército), com base em Campinas”, complementa. Depois disso começaram as “ameaças por telefone dizendo que sabiam onde morávamos e onde nossos filhos estudavam e que se não
parássemos com as investigações do caso Varginha, sofreríamos as consequências”, revelou Eduardo.

Mesmo não tendo maiores desdobramentos, o episódio com os irmãos Mondini não foi, aparentemente, uma situação isolada de tentativa explícita de coerção e monitoramento do trabalho dos ufólogos. E foi logo associado pelos entusiastas do fenômeno óvni à decisão de afastamento de ambos da Ufologia, assim como o encerramento do grupo CEPEX. Mas, segundo Eduardo, não foi bem assim.

“Nosso afastamento se deu depois das pesquisas do caso Varginha, mas não teve relação com as investigações. Foi só uma coincidência. Com relação às ameaças, sofremos algumas sim mas, sempre tivemos como premissa o compromisso com a verdade e estas ameaças não contribuíram para nosso afastamento”, respondeu Eduardo ao questionamento do Portal Vigília.

Mais histórias de grampos no Caso Varginha

As ameaças e suspeitas de espionagem parecem ter sido uma constante do caso em 1996 no primeiro ano. As exceções foram Ubirajara Rodrigues e, até onde se sabe, Claudeir Covo. Mas assim como os irmãos Mondini, Edison Boaventura Junior, do Grupo Ufológico do Guarujá (GUG), também relatou ter sido ameaçado para deixar as investigações.

O pesquisador relata que recebeu um telefonema falando o local onde seus filhos estudavam e que algo poderia acontecer com eles. O mesmo modus operandi relatado pelos irmãos de Sumaré. Boaventura garante também ter descoberto um grampo em seu telefone, com a ajuda de outro membro do GUG. O aparelho estaria instalado num sobrado desocupado, vizinha à sua casa.

Boaventura conseguiu manter elementos que comprovariam esse grampo. Além do equipamento físico localizado, inutilizado com um “curto circuito”, segundo ele, o investigador encontrou um documento liberado através do Arquivo Nacional que acredita ser a transcrição de uma conversa sua com o pesquisador Claudeir Covo. “Trata-se de uma ligação telefônica de 1996, onde eu e Claudeir conversávamos sobre o aumento dos casos ufológicos naquele ano. No papel tem meu telefone residencial e o telefone da agência do Banco do Brasil no Guarujá onde eu trabalhava na época”, descreve.

Documento localizado por Edison Boaventura Junior no Arquivo Nacional suspeita de grampo telefônico de suas conversas na época do Caso Varginha
Documento localizado por Edison Boaventura Junior no Arquivo Nacional, que suspeita de grampo telefônico de suas conversas na época do Caso Varginha

É possível constatar que o documento não deixa claro, no entanto, se tratou-se de fato de um grampo ou uma consulta, como era comum ufólogos e jornalistas fazerem à época, às Forças Armadas, em busca de versões oficiais sobre casos descobertos. Mas Boaventura defende que essa não é a explicação. “Já que meu fone estava grampeado… fiquei na suspeita quando vi este papel de anotação no arquivo nacional”, disse.

Vitório Pacaccini e sua trajetória pitoresca

Um ponto fora da curva no quesito ameaças é a trajetória de outro pesquisador que ficou famoso pela pesquisa do Caso Varginha: Vitório Pacaccini, também mineiro, sempre foi tido pelos demais pesquisadores como uma pessoa de personalidade marcante e pitoresca. Ainda durante a pesquisa original alegou uma tentativa de invasão à casa de sua mãe, na cidade de Três Corações, vizinha a Varginha. O pesquisador dissera ter ouvido disparos de tiros inclusive, fato que não teve grandes repercussões à época.

Pacaccini foi o primeiro autor de um livro sobre o caso, o “Incidente em Varginha – Criaturas do Espaço no Sul de Minas”, em coautoria com o escritor Maxs Portes. Sua obra acabou motivando a instauração de um Inquérito Policial Militar pela EsSA. Pacaccini desapareceu da cena ufológica pouco tempo depois de publicar seu livro e isso municiou ainda mais teorias conspiratórias sobre o Caso Varginha.

A apuração de João Marcelo e seus colegas recentemente conduziu-os ao paradeiro do antigo ufólogo, com quem trocaram um total de 27 e-mails. “Ele alega que fez um acordo de cavalheiros, e que não divulgaria o que conseguiu de novo sobre o caso em troca de ser deixado em paz, já que era seguido, grampeado, monitorado, ameaçado e até tentaram matá-lo”, explicou João Marcelo em artigo publicado em seu blog e reproduzido ontem pelo Portal Vigília.

“Cabe a ele [Pacaccini], se algum dia voltar a dar declarações públicas, provar suas incríveis alegações que, pelo que apuramos, não procedem. Pacaccini não nos deu qualquer informação nova sobre o caso. Acredito que ainda voltará a ativa, dará palestras, escreverá um livro, etc. Quem sabe, em 2021, quando o caso completa 25 anos”, escreveu o investigador.

Caso Varginha, 25 anos depois, e o efeito gangorra

É absolutamente contraditório que o Caso Varginha continue sendo um emaranhado de peças sem uma prova definitiva e conclusiva, com tudo o que já foi produzido a partir dele. Mesmo sendo notoriamente uma das ocorrências com a maior e mais ampla pesquisa já realizada no mundo, quase em tempo real com os acontecimentos. Poucos dias separaram a circulação dos boatos sobre a aparição das criaturas e o início das investigações dos ufólogos.

Nas palavras de João Marcelo e Marco Leal, o caso padece a todo instante de um “efeito gangorra”: no curso da pesquisa, ora alguns depoimentos e dados apresentam fortes elementos favoráveis à teoria da captura de seres estranhos, ora depoentes contradizem completamente os achados dos pesquisadores e levam o caso para a condição de confusão quase anedótica.

Para o Exército Brasileiro o caso está resolvido: a investigação, divulgada oficialmente apenas em 2010, com o IPM, concluiu que as garotas Kátia, Liliane e Valquíria viram um morador de Varginha, conhecido como “Mudinho”. Os ufólogos já tinha levantado essa hipótese à época, mas as meninas sempre negaram com veemência, alegando conhecer muito bem o Mudinho.

Diferentes representações artísticas do ET de Varginha, e o morador do imóvel em frente ao terreno onde ele foi visto pelas três garotas. Uma coincidência bizarra do caso
Diferentes representações artísticas do ET de Varginha ao longo da história, e o morador do imóvel em frente ao terreno onde ele foi visto pelas três garotas. Uma coincidência bizarra do caso.

Mas a própria existência deste morador é uma daquelas coincidências bizarras do caso, que contribuem para o “efeito gangorra”: portador de autismo e morando à época exatamente em frente ao terreno onde as garotas afirmaram terem se deparado com a criatura, Mudinho com frequência era encontrado na rua na exata posição descrita pelas testemunhas.

É claro que depois de uma infinidade de testemunhos coletados, indícios da existência de pelo menos duas operações de busca e captura, das gravações sigilosas e todas as centenas de outras minúcias apuradas, a versão dos ufólogos rechaça completamente a tese de uma explicação tão prosaica quanto o Mudinho.

Ainda assim, não há consenso entre eles. De maneira sugestiva até, o trio de pesquisadores que retomou o caso a partir de 2016 mostra-se dividido em suas conclusões até aqui. João Marcelo considera real a ocorrência do avistamento de seres incomuns na cidade, mas garante duvidar de todo o resto, da captura ao transporte para Campinas.

Já seu colega de São Paulo, Marco Leal, pende para a confirmação da operação toda, inclusive o transporte para Campinas, contrariando até mesmo as negativas de testemunhos diretos que ele próprio obteve, como o médico Konradin Metze. Metze é o cientista da Unicamp que supostamente teria autopsiado a criatura, juntamente com o famoso médico legista Fortunato Badan Palhares, segundo a cronologia “oficial” comumente aceita para o caso.

Esse é o mesmo tipo de divisão de opiniões que aconteceu entre os investigadores originais do episódio. A diferença é que, no caso de Marcelo, Leal e Matuzzi, nenhum deles reporta, até agora, qualquer tipo de pressão para duvidar ou defender o incidente em Varginha.

Live no dia 20, para saber mais

O objetivo desta matéria não foi recontar o desenrolar dos fatos em Varginha desde 20 de janeiro de 1996. Muitos livros, artigos e documentários em vídeo já fizeram isso desde então, às vezes de forma superficial, outras vezes com a complexidade e a seriedade que a história merece.

Buscamos trazer respostas para perguntas que vêm se cristalizando entre os entusiastas da Ufologia e contar, de forma transparente, eventos associados ao caso que acabaram por criar mitologias próprias em torno de fatos reais ou não.

Para saber mais sobre o andamento das novas investigações, recomendamos aos leitores que acompanhem, no próximo dia 20 de janeiro de 2021, a partir das 21 horas, a Live do Canal João Marcelo no Youtube, em comemoração aos 25 anos do Caso Varginha. O link é: https://www.youtube.com/c/jmmrios

————————

LEIA TAMBÉM:

Ufólogos fazem novas descobertas e revelações sobre o Caso Varginha

Há quase 50 anos jornal já noticiava aparição de Disco Voador em Varginha

Irmãos Mondini quebram o silêncio sobre Varginha (via Portal BURN)

Ufólogos procuram relação entre morte de soldado e captura de ET

Pesquisador faz novas revelações sobre o Caso Varginha

Pesquisa sobre ETs de Varginha poderá ganhar novos contornos, 11 anos depois

Caso Varginha repercute em Campinas

Parabéns ET de Varginha

————————-

Confira também a estampa Varginha Chronicles, em homenagem ao caso, na Loja do Portal Vigília

Camiseta e caneca Varginha Chronicles, baseada na criação do artista 3D Flávio Novi
Camiseta e caneca Varginha Chronicles, baseada na criação do artista 3D Flavio Novi

 

*O Portal Vigília suprimiu voluntariamente o nome do Cabo cujas informações já vazaram para não amplificar o desconforto da testemunha que já se queixou deste fato.

Agradecimentos especiais ao pesquisador João Marcelo, pelas valiosas informações que ampliaram o escopo inicialmente previsto para esse especial, e ao artista 3D Flavio Novi, que nos autorizou a fazer uso de sua obra baseada nas descrições do suposto ET de Varginha. Novi pode ser localizado no Instagram, com o perfil @flavionovi.

 

 

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

As esferas voadoras na história da Ufologia Aviões e óvnis O que caiu em Caieiras na noite de 13 de junho de 2022? Extraterrestres: é a ciência quem diz! As etapas da pressão sobre o governo dos EUA em relação aos óvnis/UAP
×