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NASA e os UAPs: um relatório de cientistas, para outros cientistas

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A NASA realizou uma apresentação nesta quinta-feira, 14 de setembro de 2023, que foi transmitida ao vivo em seus canais de televisão e mídia social. A agência discutiu as conclusões de uma equipe de estudo independente que foi comissionada em 2022 para investigar os Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs, na sigla em inglês). O encontro foi especialmente articulado para liberar, ao público, o relatório final da equipe de pesquisadores.

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Quem tinha esperanças de que o relatório do grupo independente para estudos sobre UAP da NASA trouxesse alguma revelação bombástica sobre os óvnis ou estava completamente iludido pelas notícias pós-audiência realizada no Congresso norte-americano ou não entendeu nada sobre absolutamente todos os comunicados amplamente divulgados anteriormente pela NASA.

Primeiramente, é importante lembrar que a NASA é uma agência governamental dedicada à exploração espacial e à pesquisa científica. Ela não está no negócio de investigar óvnis ou de fazer revelações sensacionais. Isso a despeito dos teóricos dos monumentos alienígenas na Lua e em Marte. Ou das legiões de entusiastas que adoram identificar “naves alienígenas” em qualquer transmissão ao vivo de missão espacial e “ratos” formados de condensação em motores de foguetes da SpaceX.

O relatório discute o estudo dos Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs) e como a NASA pode contribuir para a compreensão desses fenômenos dentro de um quadro mais amplo, liderado pelo Escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios (AARO, na sigla em inglês). Ele enfatiza a necessidade de uma abordagem baseada em evidências, incluindo novos métodos de aquisição de dados, técnicas avançadas de análise, um sistema de relatórios sistemático e a redução do estigma associado à denúncia de UAPs.

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O documento propõe que os satélites de observação da Terra da NASA e seu extenso arquivo de conjuntos de dados históricos e atuais podem ser usados para entender os UAPs. Embora esses satélites normalmente não tenham a resolução espacial para detectar objetos pequenos como UAPs, seus sensores podem ser usados para investigar condições terrestres, oceânicas e atmosféricas locais que coincidem com avistamentos de UAPs.

Além disso, a indústria comercial de sensoriamento remoto dos EUA também oferece satélites de observação da Terra com resolução espacial submétrica a vários metros, que podem complementar a detecção e o estudo dos UAPs.

O relatório destaca ainda a importância da calibração dos sensores, coleta de metadados e uma cuidadosa curadoria de dados no estudo dos UAPs. A experiência da NASA nessas áreas pode ser aproveitada como parte de uma estratégia robusta e sistemática de aquisição de dados dentro do quadro governamental.

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Os pesquisadores ponderaram que a inteligência artificial (IA) e o aprendizado de máquina (ML) são ferramentas essenciais para identificar ocorrências raras como UAPs em vastos conjuntos de dados, mas sua eficácia depende da qualidade dos dados utilizados. O painel recomenda o uso de técnicas de crowdsourcing, ou seja, uma coleta colaborativa de dados, com auxílio de aplicativos baseados em smartphones de código aberto, para reunir informações de imagem e outros dados de sensores a partir de vários observadores cidadãos.

O relatório também sugere que a NASA deveria colaborar com a FAA para melhor aproveitar o Sistema de Relatórios de Segurança da Aviação (ASRS) para relatórios comerciais sobre UAPs.

Uma das imagens exemplo do relatório - UAP esfera que continua sem explicação
Uma das imagens exemplo do relatório – UAP esfera que continua sem explicação

O fato é que a NASA fez exatamente o que ela disse que faria: um relatório mostrando a uma comunidade científica que ainda torce o nariz para o tema porque ele deve ser investigado e como começar. Como era de se esperar, o documento pontua o de sempre: não há motivo para concluir no momento que os relatos de UAPs conhecidos têm uma fonte extraterrestre.

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Curiosamente, no entanto, pouca gente notou que o mesmo relatório sugere uma conexão bem incomum para as correntes científicas mais conservadoras. Os cientistas do grupo de estudos independentes pontuaram que há uma ligação, ao menos intelectual, entre os esforços de busca por inteligências extraterrestres distantes, através de bioassinaturas ou tecnoassinaturas (que indicariam vida fora da Terra) e o próprio fenômeno UAP.

“Portanto, há uma continuidade intelectual entre a busca por tecnosassinaturas extrasolares, SETI no sistema solar e potenciais tecnologias alienígenas desconhecidas operando na atmosfera da Terra. Se reconhecermos a plausibilidade de qualquer uma dessas possibilidades, devemos reconhecer que todas são pelo menos plausíveis.”

Em conclusão, embora sem revelações que agradem à maioria dos crédulos na origem extraterrestre do fenômeno UAP, o documento da NASA representa sim mais um passo importante na direção da redução do estigma do fenômeno óvni junto à comunidade científica. E aponta de maneira clara e objetiva métodos e formas reais para a coleta de dados que podem auxiliar os cientistas a identificarem concretamente as manifestações UAP, sejam elas desse mundo ou de outros.

Em tópicos, os principais pontos do relatório:

  • Contexto científico: A NASA tem uma longa história de explorar fenômenos desconhecidos usando o método científico, com instrumentos calibrados, coleta rigorosa de dados, reprodução de resultados e consenso científico. O estudo de UAPs representa uma oportunidade única que requer uma abordagem semelhante.
  • Papel da NASA: A NASA pode contribuir com seus ativos de observação da Terra e do espaço, como satélites e telescópios, que coletam grandes quantidades de dados ambientais e astrofísicos. Sua experiência em análise de dados, inteligência artificial e engajamento público também é relevante. A NASA pode ajudar a reduzir o estigma sobre relatos de UAPs.
  • Dados existentes: Os poucos dados existentes sobre UAPs raramente seguem os princípios FAIR de acessibilidade, interoperabilidade e reutilização. Faltam metadados cruciais e padronização. Os sensores não foram calibrados para detecção de UAPs.
  • Coletando novos dados: São necessários detectores multissensoriais bem calibrados, coletando imagens, som e outras assinaturas. O crowdsourcing por smartphones com aplicativos de código livre pode ajudar. A curadoria e integração de dados pela NASA é essencial.
  • Análise de dados: Técnicas como inteligência artificial e aprendizado de máquina podem identificar anomalias se os dados forem de boa qualidade e o “normal” estiver bem caracterizado. Simulações físicas também ajudam.
  • Observações além da atmosfera: Missões astrofísicas da NASA como TESS e James Webb podem buscar tecnosassinaturas extraterrestres em exoplanetas e no sistema solar. Há continuidade entre essa busca e o estudo de UAPs.
  • Conclusões: Com sua expertise técnica e científica, a NASA pode desempenhar um papel fundamental no estudo de UAPs dentro de uma abordagem coordenada do governo, trazendo mais transparência e rigor científico ao tema.

A respeito da possível origem extraterrestre dos óvnis, o relatório diz que:

  • Até o momento, não há evidências conclusivas na literatura científica que sugiram uma origem extraterrestre para os UAPs.
    A hipótese extraterrestre deve ser a última a ser considerada, somente depois de eliminar todas as outras possibilidades baseadas em fenômenos e tecnologias conhecidas.
  • Apesar disso, a busca por vida e tecnologia extraterrestre é uma linha de investigação científica legítima que a NASA já conduz em programas de astrobiologia e busca por tecnosassinaturas.
  • Essas buscas poderiam ser expandidas para o sistema solar como parte dos esforços para entender os UAPs, mesmo na ausência de uma descoberta extraterrestre.
  • Há uma continuidade entre buscar tecnosassinaturas em exoplanetas, no sistema solar e na atmosfera da Terra. Se considerarmos uma origem extraterrestre possível, devemos considerar todas como pelo menos plausíveis.
  • Porém, não há motivo para concluir no momento que os relatos de UAPs conhecidos têm uma fonte extraterrestre. Evidências extraordinárias seriam necessárias para apoiar uma hipótese extraordinária.

Para quem quiser conferir o relatório na integra (em inglês), ele pode ser baixado neste link.

A audiência completa:

 

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Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é editor do Portal Vigília

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