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Como a física explica habilidades de UAPs como o Tic Tac?

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Desde que o fenômeno óvni ressurgiu como tema de interesse militar, governamental e, consequentemente, popular e midiático, a partir dos vazamentos de vídeos de UAPs da Marinha dos EUA, em 2017, a física e tecnologia que eventualmente tornariam possíveis as habilidades desses objetos passaram a estar presentes em alguns círculos muito específicos de discussão.

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Quando a série documental Unidentified foi ao ar — protagonizada pelo oficial de contra inteligência dos EUA e ex-coordenador de um programa secreto de investigação de óvnis (AATIP), Luis Elizondo — algumas dessas capacidades chegaram a ser classificadas para facilitar seu estudo. Foram os chamados “5 observáveis”, destacados por Elizondo, que diferenciam os registros de UAPs de outros fenômenos conhecidos ou artefatos tecnológicos flagrantemente terrestres.

Os observáveis são: 1. aceleração repentina e instantânea, velocidade hipersônica sem propulsão ou assinaturas conhecidas; 3. Baixa visibilidade (ou observabilidade); 4. Capacidade de viagem multimeios, ou seja, na água, no ar ou no espaço (ou transmídia/”transmedium“) e 5. a aparente capacidade de manipular a gravidade.

“Não temos nada em nosso arsenal que possa funcionar dessa maneira e temos um alto grau de confiança de que nenhum aliado ou adversário terrestre conhecido também possui essa tecnologia”, dizia Elizondo desde aquela época.

Por isso nenhum ufólogo levou muito a sério uma das hipóteses levantadas pelo recém apresentado relatório do Pentágono sobre os óvnis, considerando a possibilidade de tratar-se de artefatos de origem chinesa ou russa. Aliás, nem os próprios congressistas norte-americanos parecem ter levado essa possibilidade em conta.

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O preconceito com a hipótese alternativa

No passado recente, em muitas entrevistas, Elizondo afirmou que ele e seu grupo já haviam reunido informações fundamentais sobre a tecnologia e o funcionamento desses UAPs, que estariam entre “50 e 1000 anos” à nossa frente. E mesmo falando da necessidade de estudar mais profundamente o fenômeno, ele próprio nunca descartou publicamente a hipótese extraterrestre, apesar de todo o estigma que ela carrega.

Trata-se de um contraponto importante a opiniões de cientistas que, embora aparentemente bem intencionadas e embasadas em conceitos científicos, relutam em encarar o óbvio: os dados. Neste aspecto, tal qual a pseudociência que dizem refutar, reproduzem o “é Vênus”, “drone” ou “balão meteorológico” completamente fora de contexto, como a recente declaração de um dos astrofísicos mais proeminentes da atualidade, Neil deGrasse Tyson:

“Se nossa melhor evidência para visitantes de outro planeta é um vídeo monocromático de baixa resolução feito pelo USNavy, então há mais trabalho a ser feito aqui”, analisou Tyson no Twitter.

A frase foi publicada já depois de ser tornado público o relatório informando que vários desses objetos foram registrados por múltiplos sensores simultâneos, além da visualização simultânea de observadores humanos, em muitos episódios.

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Numa das intervenções do astrofísico nas redes sociais, ele chegou a dizer que cursos de astronomia, fenômenos atmosféricos e estudo de tendências cognitivas reduziriam a maioria dos relados de objetos não identificados a objetos identificados. Então recebeu uma resposta à altura da piloto que perseguiu um UFO Tic Tac em 2004, Alex Anne Dietrich:

“Oi @neiltyson! Minha formação inclui cursos de astronomia e meteorologia e tenho ensinado viés cognitivo nos últimos 7 anos. Ainda um *U*FO que vimos em 14 de novembro de 2004”, respondeu educadamente Dietrich.

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A passagem mostra o quanto ainda é custoso para quem faz ciência no mundo, mesmo ciência de qualidade, deixar de lado os velhos preconceitos para tentar, como incrivelmente parece propor agora o Pentágono e o próprio governo dos EUA — ainda que de modo ambíguo e certamente com segundas intenções — tentar se debruçar sobre esse fenômeno que desafia a tecnologia conhecida.

Em busca da natureza e da física dos UAPs

É importante ressalvar que toda a discussão sobre a origem potencialmente não terrestre dos óvnis e suas capacidades tecnológicas, ou a física envolvida nas habilidades dos UAPs, são temas que estão longe de ser novidade nos circuitos ufológicos. Mesmo a controversa hipótese da visitação extraterrestre foi construída ao longo de 70 anos de coleta de relatos e testemunhos, além de registros físicos que não se encaixaram nas explicações prosaicas — como agora o relatório do Pentágono reforça.

Por isso, neste novo renascimento da Ufologia como campo legítimo e merecedor da atenção científica, provavelmente nenhuma contribuição recente ao debate neste sentido tenha sido tão pertinente quanto duas publicações de um dos principais envolvidos em toda a articulação para a liberação das informações sobre UAPs dos Estados Unidos, o ex-secretário adjunto de Defesa para Inteligência dos Estados Unidos Christopher Mellon.

Um dia antes da liberação do relatório do Pentágono, em 24 de junho de 2021, Mellon publicou em seu site um artigo intitulado “Não rejeite a hipótese alienígena”. Antecipando uma das tênues linhas argumentativas do documento que viria a seguir, ele abre o texto considerando que “Os Estados Unidos têm as capacidades aeroespaciais mais avançadas de qualquer país e gastam mais do que o dobro em defesa do que a Rússia e a China juntas” e, logo, seria improvável que uma dessas nações estivesse utilizando tecnologia tão à frente dos EUA.

Uma tentativa de explicar a física envolvida nas capacidades dos UAPs, à luz da ciência atual
Uma tentativa de explicar a física envolvida nas capacidades dos UAPs, à luz da ciência atual

Duas semanas depois, o ex-secretário adjunto de Defesa recomendou um curioso site que, segundo ele, “propõe uma das teorias mais ponderadas até hoje” sobre a propulsão de UAPs como o Tic Tac. Trata-se do site https://uaptheory.com, que chegou a sair do ar algumas horas depois da recomendação de Mellon.

O UAPTheory é um website bastante recente, nascido neste ano de 2021. É totalmente anônimo e, aparentemente, contou com um esforço ainda mais recente para excluir sua seção “Sobre”, onde o autor genericamente explicava que tem formação em astrofísica e geofísica.

“O autor deste site tem formação universitária em astrofísica e geofísica principalmente — e prefere usar ‘nós’ em vez de ‘eu’ neste site”, explicava a introdução da seção apagada (recuperada graças ao Webarchive.org).

UAPs processam algum tipo de manipulação quântica da gravidade

Mostrando familiaridade com teorias da física e tecnologias bastante recentes, o UAPTheory propõe uma solução para explicar o comportamento registrado de UAPs: numa simplificação extrema, seria uma espécie de manipulação, provavelmente quântica, da gravidade.

O termo “quântica”, aqui, não tem nada a ver com a tendência recente do marketing da “nova era”, de adjetivar tudo como “quântico”— até mesmo atividades místicas e espiritualistas, quase uma panaceia dos gurus.

Essa é uma das poucas vezes em que ele é corretamente empregado, na verdade. Os UAPs estariam demonstrando uma capacidade, já proposta como possível por alguns estudos relativamente recentes neste campo, de distorcer a gravidade e com ela o espaço-tempo. Para isso precisariam de algum tipo de manipulação de partículas no entorno da “nave”, de forma localizada e afetando de fato apenas o próprio objeto.

Isso seria feito acessando o que o site denomina “rede de emaranhamento quântico”, uma das formulações efetivamente previstas para uma ainda incompleta Lei da Gravitação Quântica, considerada ainda hoje uma espécie de santo graal das teorias da física.

O resultado do emprego dessa tecnologia é que seria explicada a maior parte dos comportamentos anômalos e capacidades observados em todos os registros liberados pela Marinha dos EUA e atestados pelo Pentágono, e outros, como o objeto filmado em 2013 em Aguadilla, em Puerto Rico, considerado um dos melhores registros de UAPs de todos os tempos.

Efeito de lente gravitacional, destacado em vários momentos do vídeo do UAP de Aguardilla (Reprodução UAPTheory)
Efeito de lente gravitacional, destacado em vários momentos do vídeo do UAP de Aguardilla (Reprodução /UAPTheory)

A partir de conhecimentos da física atual e imagens produzidas em todas essas situações, O site demonstra a total concordância entre o modelo teórico e os comportamentos reais registrados pelas filmagens, com destaque para um efeito em especial: o efeito lente gravitacional, a todo momento distorcendo de maneira circular o vídeo de Aguadilla e realçando a paisagem atrás do objeto. O fenômeno é exatamente o mesmo observado no espaço, muito usado para detectar buracos negros. Quando um corpo massivo como um buraco negro passa à frente de alguma galáxia distante esta tem sua imagem distorcida e amplificada para um observador terrestre.

Com base nisso, o universitário com formação em astrofísica e geofísica que prefere referir-se a si próprio como “nós” ao invés de “eu” conclui em UAPTheory que, para qualquer registro de óvni ou UAP, é possível fazer algumas previsões de comportamento e distorção de imagem que confirmação regularmente a proposta de sua teoria científica.

Como acontece o fenômeno da lente gravitacional no espaço, com objetos muito massivos (Fonte: Wikipedia)
Como acontece o fenômeno da lente gravitacional no espaço, com objetos muito massivos (Fonte: Wikipedia)

Sem se aprofundar em cálculos ou alguma matemática de suporte, e indicando muito pouca literatura científica de embasamento, é fato que o site poderia facilmente se passar por mais uma página de teorias malucas, como as muitas que já tentaram explicar os óvnis. Mas é realmente notável que tenha não apenas atraído a atenção e, mais ainda, a recomendação de Christopher Mellon, um experiente ex-funcionário do governo, especialmente acostumado às questões da inteligência e defesa.

Campo aberto para o debate científico

Apesar dos pontos fracos na apresentação científica do site, a diferença entre a opinião de Tyson e a teoria anônima de UAPTheory é que a segunda se ocupou de pelo menos tentar se debruçar sobre os registros e os dados, ao invés de apenas replicar o preconceito científico com o terma. Isso, num momento em que o próprio Pentágono diz que não pode tratar da questão com a superficialidade habitual, é significativo.

As considerações do site enquadram numa mesma hipótese praticamente todos os cinco “observáveis”, explicados em razão de outros fenômenos inerciais e distorções visuais que a manipulação gravitacional ocasionaria.

Ainda que esse aprofundamento venha a demonstrar no futuro uma nova e recém adquirida capacidade de alguma velha conhecida potência terrestre (por mais improvável que isso pareça no momento), mesmo assim teria uma importância histórica na democratização da tecnologia. Neste novo momento da Ufologia, não à toa Rizwan Virk, um graduado do instituto de tecnologia de Massachusetts (MIT), fundador da incubadora Play Labs, disse à rede NBC News:

“O estudo dos óvnis poderia potencialmente ‘redefinir toda a ciência’ e levar a uma nova compreensão de nosso lugar no universo, e a novos avanços em ciências de materiais, biologia, física quântica, cosmologia e ciências sociais”.

Aparentemente, até agora, o Departamento de Defesa, o Congresso e o governo dos EUA em geral estão concordando com ele. E por mais que o Pentágono possa tentar tirar proveito da situação para reivindicar mais verbas para projetos secretos, ou quem sabe tentar emplacar planos mais sinistros, seria imprudente desperdiçar a oportunidade de aprendizado e debate científico.

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