Goteiras na ufologia
Quando eu era criança, morávamos em uma casa com goteiras. Caso, você, caro leitor, não conheça o termo, já deve ter ouvido a expressão pingueira. Se mesmo assim, ainda não estiver familiarizado, eu explico. Goteira é quando, nos dias de chuva, a água passa pela cobertura da casa e faz sua mãe gritar de raiva porque molhou a cama, o armário ou o tapete que ela ganhou de casamento. Algumas mães podem até xingar os pais, vão dizer que são inúteis e que não cuidam do próprio lar.
Em defesa de alguns, digo que meu pai não colocou telhas na casa, pois pretendia construir um segundo andar. Assim, a água se infiltrava pela laje e fazia minha mãe esbravejar por pelo menos alguns meses, talvez um ano ou mais — não se trata de missing time, e sim da traiçoeira memória, fenômeno mais comum que o primeiro.
Já nos dias de sol, minha mãe projetava o segundo andar, planejando a disposição dos novos cômodos, das janelas, dos móveis… Sonhos que eram aguados com a próxima chuva.
O caso não era ufológico, na verdade era econômico, mais precisamente da crise dos anos de 1980. Mamãe professora e papai caminhoneiro somavam-se em uma conta na qual não sobrava dinheiro para o segundo andar, que enfim cobriria as goteiras e concluiria a casa.
Depois de algum tempo, desistiram em parte. Uma visão mais pessimista ou mais realista, quem sabe, os fez perceber que o segundo andar não viria tão cedo.
Digo que desistiram em parte, pois ainda tinham fé suficiente para não colocar as telhas, o que seria o túmulo do segundo andar. Mas decidiram que algo devia ser feito, pois não era possível continuar com mamãe chamando papai de inútil. Com alguma reforma de final de semana resolveram as goteiras sobrando senão alguns pontos de umidade.
Em dias mais recentes, há muitos anos sem ver uma goteira, me peguei pensando o quanto a ufologia se parece com aquela casa da minha longínqua infância.
Um primeiro andar sólido, vigas bem construídas e cômodos arranjados. Assim, segue a ufologia com dezenas, quiçá, centenas de milhares de casos, testemunhos, documentos, vídeos, fotos, até mesmo possíveis fragmentos de OVNIs. Não é o suficiente para se erguer as colunas de uma investigação que envolva toda a sociedade?
Não, ainda há muitas goteiras, pois vazam-se fraudes a um número que todos os registros tornam-se suspeitos. Ainda temos as chuvas de preconceito que molham e desacreditam as incontáveis testemunhas.
Isso sem contar as organizações e pessoas que deliberadamente escondem informações e materiais que poderiam ser utilizados para concluir o segundo andar, estancar as goteiras e fazer evoluir as discussões.
Para alguns ufólogos, o segundo andar virá não de provas escondidas por militares e governos, mas de um “Contato Final”. Para outros, ele será fruto de um incessante e contínuo trabalho de registros e pesquisa. E para outros ainda, essas goteiras somente serão estancadas quando a sociedade se conscientizar que precisamos evoluir espiritualmente.
Enfim, são muitas as opiniões e as possibilidades para se construir a parte superior dessa já habitada, porém inacabada casa. Por enquanto, resta seguirmos remendando a laje, sem colocar as telhas e sem conseguir concluir a obra. Eventualmente, sendo chamados de inúteis ou vendo a água estragar o que já está construído. Sim, por enquanto, seguir buscando e sonhando com provas cabais e amplamente irrefutáveis que confirmem a vida fora da Terra, o contato com seres inteligentes de outros mundos, as visitas e terríveis abduções.
Espero apenas que o destino seja mais gentil com a ufologia do que foi com a minha casa, que assistiu a separação dos meus pais e nunca chegou a ter o segundo andar.