UFO Crônica: Ufo-treta nacional
Não sou um sujeito de tretas. Digo, ao menos não de arrumá-las, não sou afeito a jogar lenha na fogueira ou cutucar um lado ou outro de tal ou tal discussão. Em resumo, não convoco intrigas para o próximo e menos ainda para mim.
Porém, assim como é inevitável me declarar brasileiro, também não resisto ao burburinho das alfinetadas e recadinhos. Provavelmente, um gosto formado em nossa cultura socializadora das conversas nos portões, nos bares e padarias, onde os limites do público e do privado são tão volúveis.
Enfim, não procuro aqui dar explicações ao meu e ao seu – não o negue – gosto por se inteirar pelas pequenas e inocentes picuinhas do dia a dia.
Pergunto-me, entretanto, se nossos observadores não possuem seu equivalente de BBB, talvez até, quem sabe, um reality especializado em nossa ufologia. E… caso não o tenham, seus produtores de entretenimento deveriam pensar com seriedade no assunto.
Imagine, um “alto” Ashtar Sheran, com seus cabelos loiros e sua bata colorida, em casa, após um cansativo dia de contatos, sentando em sua poltrona e ligando sua tela quântica para assistir a mais um episódio de “Tretas Ufológicas” recheado de dedos na cara e de falas treteras, como: “essa investigação é minha, não dele”, “eu não vou pagar por aqueles documentos”, ou ainda o clássico “eu sou o único que tem a filmagem do OVNI tal”, e naturalmente, sem faltar o já cristalizado jargão “eu faço ufologia de raiz”, seguido por “não sou ufólogo de computador, não”.
Realize!: um grey, pobre estagiário, levando esporro depois de ter abduzido a pessoa errada, porque estava distraído com o desenrolar do “tem ufólogo que é só ostentação”, ou mantendo-se na linha da fogueira das vaidades “… tal evento ufológico foi um desfile de egos”.
Os produtores teriam também de fazer uma boa seleção de elenco. Esses seriam de primeira, a nata da ufologia nacional. Na TV quântica dos nossos amigos estelares, a estampa com as cores cósmicas do programa, uma vinheta metálica e arrojada: tzan, tzan, tzan como trilha sonora para a foto dos nossos principais ufólogos. Sim… Esse no qual você pensou e acompanha no Youtube, e aquele outro também da famosa revista.
Participações especiais? É lógico que teríamos. Com apresentadores televisivos, enfáticos e esbravejando em seus estúdios, com suas vozes retumbantes e redundantes: “ufologia é para quem não tem competência para fazer jornalismo sério”. Do outro lado do team cético, o team: “Quem Tem Limite é Município”, apresentando arraias fossilizadas como se fossem chupa-cabras, ETs saltitantes com nomes de duplo sentido, casal de anão em emergência e balões meteorológicos que voam na velocidade do som.
Entretanto, nenhum desses participantes e conteúdos chegariam aos pés dos famosos ufólogos da desinformação. Esses sim, que, por pura vaidade, dinheiro ou outros interesses mais sombrios, espalham as fake news, inventam histórias, aumentam e distorcem fatos. Juram ser real o que se sabe não ser mais que sensacionalismo e perjuram, acusando de mentiras contatados, abduzidos e outras pessoas, muitas vezes honestas, e que têm suas vidas aviltadas e reviradas pelo fenômeno e pelo desrespeito que se segue.
Desculpe te decepcionar, caso você tenha lido até aqui, esperando descobrir nomes e detalhes maiores. É certo que um “TV Fama” com as principais tretas da ufologia, seria uma bela ideia… Porém, como disse, não gosto de atrair as intrigas para a minha pessoa. Todavia, elas estão aí, mais sólidas e recorrentes que o próprio fenômeno e cumprindo sua maledicente função de dividir nossos competentes e dedicados ufólogos.
