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Eq Pegasus: sinal alienígena ou uma fraude elaborada? (parte2)

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Ritual secreto
Quem não estava nem ligando para as explicações do Instituto SETI era mesmo Richard Hoagland. As atualizações no site da Enterprisemission já tinham ido bem mais longe nas teorias mirabolantes. Segundo o site, o sinal de Eq Peg, como foi apelidado, seria um mecanismo de desinformação para esconder uma comunicação real. Hoagland e seus colaboradores afirmaram ter descoberto um código secreto em todas as ações da NASA, o qual indicava que fenômenos importantes aconteciam sempre relacionados a uma disposição astral, ligada a um ritual envolvendo deuses mitológicos Sumerianos.

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O site de Hoagland afirmou ter descoberto ainda a verdadeira identidade do astrônomo amador. Seria o inglês Paul Dore, que, na teoria conspiracionista da Enterprise Mission, passou de herói a vilão: um agente preparando a liberação de informações relativas à presença alienígena.

Dore existe de verdade. Analista e desenvolvedor de software na Inglaterra, vive com a mulher e dois filhos. Ele reagiu rápido às acusações, argumentando que seus dados pessoais, disponíveis em sua home page na Web, estavam sendo deliberadamente utilizados por Hoagland — a quem ele se refere como ‘Hoaxland’, um trocadilho em inglês com a palavra ‘hoax’, que significa fraude — para montar toda a farsa. Ele negou categoricamente todos os fatos relativos à suposta detecção do sinal, revelando sequer manter um experimento SETI.

CAUS pagou para ver… e não viu
Apesar de todos os indícios de fraude, gente importante da comunidade ufológica embarcou na teoria mirabolante de Hoagland e quebrou a cara. Foi o caso do advogado Peter Gersten, diretor principal da organização CAUS — Citizens Agains UFO Secrecy (Cidadãos Contra o Segredo UFO —, famosa por conseguir legalmente a liberação de documentos importantes relativos ao envolvimento oficial do governo dos EUA com a investigação da atividade ufológica.

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Seguindo as dicas de Hoagland, Gersten pagou para ver o que aconteceria no Arizona no dia 7 de dezembro. Ele acreditava que algo de importância mundial aconteceria neste local, nesta data. As informações de Hoagland, dizendo ter decifrado o código de uma mensagem de Paul Dore, davam conta de um provável pouso alienígena em grande escala em algum lugar na região de Phoenix, no deserto do Arizona. O pouso estava confirmado inclusive pelo vazamento de informações de “uma possível fonte” no Pentágono.

Gersten foi para Phoenix, chegando inclusive a conclamar via Internet outros interessados em participar da empreitada, mas só viu neve. Nos dias 6 e 7 de dezembro, a região enfrentou uma tempestade de neve de grandes proporções e, como já suspeitavam os leitores do boletim eletrônico CAUS Update que duramente criticaram o diretor principal da entidade, não ocorreu nenhum pouso alienígena.

Mesmo assim, Hoagland não desiste. Saiu com outra teoria para justificar o furo: a tempestade e as condições climáticas da região seriam o indício de um teste com uma nova arma secreta de manipulação climática, desenvolvida pelo projeto HAARP, o experimento do governo dos Estados Unidos que procura monitorar os efeitos de cargas eletromagnéticas na alta atmosfera com base em teorias do físico e matemático Nicolas Tesla (confira o que diz a página oficial do projeto em http://w3.nrl.navy.mil/haarp.html). E as elucubrações malucas de suas teorias de conspiração continuam crescendo na página da Enterprise Mission. Fatos concretos, no entanto, os ávidos leitores de seu site ainda estão aguardando.

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Ao que parece, ninguém quer responder perguntas específicas sobre o tema. A Revista Vigília tentou diversas vezes entrar em contato, via e-mail, com Richard Hoagland, mas não obteve resposta. Michael Bara, outro investigador da equipe Enterprise Mission, esquivou-se: “haverá mais sobre isso em breve”. Peter Gersten, do CAUS, diz estar muito ocupado para responder às nossa perguntas. Como acontece na maioria das vezes, o mistério, seja em torno de fatos reais ou não, é que faz girar as engrenagens.

Membro da Seti League no Brasil comenta Eq Pegasus
A Revista Vigília entrevistou com exclusividade o coordenador regional da Seti League para o Brasil, Cláudio Brasil Leitão Júnior. Físico, com pós graduação em tecnologia nuclear, há 20 anos dedica-se à astronomia como amador, realizando pesquisas na área de planetas, Brasil comentou as informações acerca do suposto sinal proveniente de Eq Pegasus. Ele também falou sobre o sinal SETI mais curioso já captado, o sinal apelidado de “WOW” (uma referência à anotação feita pelo seu descobridor), até hoje não foi desvendado.

Revista Vigília: Recentemente, em algumas listas de discussão na Internet, houve rumores de um possível sinal SETI captado por um membro da SETI League. A nota saiu, em dezembro, inclusive no Fantástico, sem mais esclarecimentos. No entanto, não localizamos informação alguma, em nenhum site relacionado ao tema. O dado procede?

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Brasil: Não. Nenhum sinal candidato foi captado esse ano por um membro da SETI League. O único sinal captado até o momento por uma de nossas estações foi detectado em 1 de dezembro de 1996, por Daniel Fox, na freqüência de 1420.0015 MHz. Porém ele não foi confirmado (ou seja, captado por outras estações) e um dos princípios da pesquisa SETI é que sinais não confirmados não provam nada.

Revista Vigília: O interessante é que a veiculação da notícia coincidiu (pelo menos aqui no Brasil) com outra história muito estranha. A nota saiu no dia 6 de dezembro, um domingo. Entre os dias 6 e 7, algumas organizações ufológicas esperavam um “evento ufológico” de proporções mundiais. Notadamente a organização norte-americana CAUS (Citizens Against UFO Secrecy), seguindo indicações do pesquisador Richard Hoagland, defendia que poderia ocorrer um pouso de uma nave ET (sic!) no Arizona, nos arredores de Phoenix. O fato estaria de alguma forma conectado com a polêmica de um suposto sinal SETI captado na direção do sistema Eq Pegasus por um inicialmente não identificado pesquisador Britânico, que desenvolveria uma pesquisa SETI parasita utilizando uma antena de telecomunicações da empresa para a qual trabalha.

Brasil: Em minha opinião, o que você relatou aqui não passa de folclore. Infelizmente, com a aproximação de um novo milênio, surgem as mais incríveis histórias sobre fim do mundo e similares. Basta lembrar o episódio do suicídio em massa e a suposta nave na cauda do cometa Hale Bopp em 97. Certamente a CAUS se aproveitou da agitação causada pela divulgação do suposto sinal.

Revista Vigília: Assim, gostaria de saber a sua opinião sobre os fatos relatados na página de Richard Hoagland, da Enterprise Mission.

Brasil: Este Enterprise Mission é um site repleto de histórias fantásticas, sem comprovação e sem fontes precisas. É muito difícil acreditar em algo assim. Tudo isso não passa de folclore. Os boatos sobre EQ Pegasus começaram através de um e-mail colocado numa lista fechada da SETI League. Alguém, se aproveitando da informação do sinal candidato que foi captado pelo Projeto Phoenix, e que se descobriu tratar de interferência de origem terrestre, lançou na rede a informação de que um astrônomo amador inglês, que não quis se identificar, havia captado um sinal de EQ Pegasus. A estória já começa estranha desse ponto, pois uma descoberta dessa importância não poderia ficar no anonimato. Outro ponto é que tudo isso ocorreu pouco depois do Projeto Phoenix ter divulgado na Internet a interferência captada em setembro. Além disso, tentativas por parte de membros da SETI League de detectar o suposto sinal tiveram resultados negativos, assim como muitas outras tentativas realizadas com antenas de maior porte. Análises dos espectros do suposto sinal evidenciaram que as imagens foram alteradas com utilização de recursos de “copy” e “paste”. A fraude chegou a tal ponto do anônimo astrônomo ter divulgado que o sinal havia sido confirmado pelo radiotelescópio de 100 m do Instituto Max Planck, informação que foi imediatamente negada pelo Dr. Rolf Schwartz, desse instituto. Embora tenha sido amplamente divulgada pela imprensa em muitas partes do mundo, o sinal de EQ Pegasus não passou de fraude.

Revista Vigília: Será correta a interpretação de que o sinal original captado por Arecibo em setembro tratava-se de satélite?

Brasil: Ao se captar um sinal candidato, a primeira providência a ser tomada verificar se o mesmo provém de alguma interferência terrestre. Para isso, desloca-se a antena para longe da fonte. Se o sinal estiver vindo realmente do espaço, ao se fazer isso não se detecta mais nada. Porém se continuarmos continuar captando o sinal mesmo com a antena fora da posição original, porque o mesmo é de origem terrestre. E foi isso que ocorreu ao se verificar o sinal. Provavelmente foi mesmo um sinal de satélite.

Revista Vigília: O que é exatamente a SETI League? O Instituto SETI e o Projeto Phoenix mantém algum tipo de intercâmbio oficial com a SETI League?

Brasil: A SETI League é uma entidade amadora, sem fins lucrativos, fundada em 1995 com o objetivo de montar um sistema de 5.000 antenas parabólicas comuns de recepção de satélites de forma a se obter uma cobertura total do céu e em tempo integral na pesquisa por vida inteligente extraterrestre. A utilização de antenas parabólicas comuns e o relativo baixo custo das estações permitem que as mesmas sejam construídos por cidadãos comuns, radioamadores ou entusiastas da pesquisa SETI. Atualmente somos cerca de 700 membros e 63 estações operacionais no mundo todo e uma em construção no Brasil. O Projeto Phoenix não tem um intercâmbio oficial com a SETI League, porém reconhece e apoia nosso trabalho. Embora o objetivo seja o mesmo, os dois projetos tem uma forma diferente de trabalho. Enquanto o Projeto Phoenix se utiliza de um pequeno número de radiotelescópios grandes fazendo escuta de determinadas estrelas-alvo (target survey) o Projeto Argus, da SETI League, trabalha com um número maior de antenas menores (de 3 a 5 metros de diâmetro) rastreando todo o céu, sem se fixar em estrelas-alvo. Esse procedimento é denominado “all sky survey”.

Revista Vigília: Por quais fases passa o tratamento de um sinal captado no sistema SETI antes de ser confirmado?

Brasil: Assim que se detecta um sinal candidato, a primeira providência é checar se o mesmo não é uma interferência de origem terrestre. Para isso desloca-se a antena para longe da fonte para verificar se o sinal deixa de ser recebido. É necessário se verificar também se o sinal acompanha o movimento da esfera celeste, fato que garante que o mesmo seja proveniente do espaço. Confirmando-se que o sinal não é de origem terrestre, é feito um comunicado aos demais centros de pesquisa de modo que eles tentem captar e confirmar o sinal. No caso da SETI League, isto é feito por e-mail enviado ao quartel general da liga, situado em Little Ferry, nos Estados Unidos. O sinal s reconhecido se for captado por mais alguma estação.

Revista Vigília: Em sua opinião, histórias como a de Eq Pegasi prejudicam a pesquisa SETI?

Brasil: Sim, porque a grande população, geralmente mal informada, fica com impressões erradas acerca de nosso trabalho. Sem contar a mobilização mundial que foi feita para verificar o suposto sinal. E a pesquisa SETI muito séria, realizada sob rígidos padrões científicos e regidas por protocolos internacionais, como o que protege a freqüência de 1420 MHz ( proibido usar essa freqüência para transmissões), e os que regem a conduta do cientista diante de um sinal candidato.

Revista Vigília: O tema é interessante também porque nos permite explicar melhor o como é o trabalho sério dos cientistas que fazem pesquisas SETI no mundo todo. E muita gente não sabe que até no Brasil se faz isso. O que é preciso para se montar uma pesquisa SETI amadora?

Brasil: Para se montar uma estação SETI é necessário uma antena parabólica com diâmetro de 3 a 5 metros, um pré-amplificador (o sinal coletado pela antena muito fraco), um receptor que trabalhe na faixa de 1420 MHz (microondas) e um computador com placa de som e software adequado para coleta e processamento dos sinais. A maior parte dos equipamentos deve ser importada. O equipamento mais difícil de se obter é o receptor de microondas, que custa cerca de 2.000 dólares nos EUA. Mas existem alternativas para esse receptor, desenvolvidas pela própria Liga. É indispensável filiar-se à SETI League, pois esta entidade fornece todo suporte de hardware e software, além de testar e desenvolver equipamentos e definir padrões que devem ser seguidos na montagem da estação. O custo da estação varia de R$ 3.000 a R$ 5.000 (sem contar impostos de importação), dependendo dos equipamentos que se escolha.

Revista Vigília: Consultando páginas sobre SETI, descobrimos que certa vez foi captado um sinal que ficou conhecido como WOW. O que foi esse sinal?

Brasil: O sinal Wow! é o mais famoso sinal candidato que se tem conhecimento até hoje. Porém, infelizmente, não foi confirmado. Foi captado em 15 de agosto de 1977 pelo radiotelescópio Big Ear, da Universidade de Ohio, EUA. O sinal era tão forte que ao examinar a listagem do computador do radio- observatório, o Dr. Jerry Ehman, autor da descoberta, escreveu na margem do papel a expressão “Wow!”, sendo que o sinal ficou conhecido com esse nome. Este sinal estava 6 db acima do ruído de fundo e possuía características de um sinal de origem inteligente extraterrestre: era de banda estreita e parecia acompanhar o movimento das estrelas (um sinal de um satélite teria um movimento mais rápido que as estrelas no céu). Muitos estudos foram realizados e foram descartadas diversas possibilidades do sinal ser devido a um corpo celeste do nosso sistema solar, um de nossos satélites artificiais ou sondas espaciais. A sua origem permanece inexplicada até hoje. O sinal “Wow!” é ainda uma questão aberta para todos os cientistas.

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