Categories Artigos Destaque

Entendendo as controvérsias que acirram os ânimos na Ufologia dos EUA

Compartilhe:

Há atualmente uma grande polêmica na ufologia norte-americana, girando em torno das afirmações feitas pelo Dr. Sean Kirkpatrick, ex-diretor do All-domain Anomaly Resolution Office (AARO), e de antigos integrantes do governo como Christopher (Chris) Mellon, Luis (Lue) Elizondo entre outros, além dos recém chegados “denunciantes” UAP, de forma geral representados pelo pioneiro David Grusch.

----publicidade----

De um lado, Kirkpatrick e o AARO afirmam que, até o momento, não há evidências empíricas que sustentem a existência de tecnologias alienígenas ou programas de engenharia reversa envolvendo objetos extraterrestres. Pautado por um relatório recém liberado, Kirkpatrick tem destacado em suas declarações públicas que as alegações de programas secretos de engenharia reversa são baseadas em relatos não verificados e em uma cadeia de desinformação. Ele criticou duramente as alegações feitas em audiências no Congresso, considerando-as ofensivas aos profissionais do AARO que segundo ele investigam o fenômeno de forma rigorosa e científica.

Dr. Sean Kirkpatrick, diretor do Escritório de Pesquisas de Anomalias de Todos os Domínios - AARO
Dr. Sean Kirkpatrick, ex-diretor do Escritório de Pesquisas de Anomalias de Todos os Domínios – AARO (Foto: Wikipedia/NASA/Joel Kowsky)

Mais ainda, o ex-diretor do AARO apontou a existência de um grupo de profissionais que já estiveram em altos escalões do governo, além de políticos como o falecido senador Harry Reid e empreiteiros como o bilionário Robert Bigelow, que, retroalimentando afirmações uns dos outros, fomentaram ao longo dos anos a criação de programas e ações governamentais que gastaram milhões do orçamento público com questões como OVNIs, fenômenos paranormais e outros temas controversos, sem terem apresentado qualquer prova conclusiva.

Por outro lado, figuras como Chris Mellon e Luis Elizondo, ambos ex-funcionários do governo, garantem ser defensores da transparência sobre os fenômenos aéreos não identificados (UAPs), afirmam que dados fundamentais estão sendo ocultados dos contribuintes e do Congresso e defendem que o governo dos EUA deve continuar a investigar seriamente esses fenômenos por questões de segurança nacional e científica.

----publicidade---- Portal Vigília Recomenda o Podcast Ufologia de Quintal

Mellon e o grupo de defensores da liberação de informações sigilosas sempre sugerem que há muitos relatos militares credíveis de avistamentos de UAPs que permanecem inexplicados e que esses devem ser investigados rigorosamente. Eles criticam a falta de confiança em algumas das investigações conduzidas até agora, apontando que muitos testemunhos não foram compartilhados com o AARO devido à desconfiança dos envolvidos.

Declarações de David Grusch acentuaram a polêmica

A polêmica, como esperado, alcançou um novo patamar com as declarações de David Grusch, ex-oficial da Força Aérea e representante do Escritório Nacional de Reconhecimento no Grupo de Trabalho de Fenômenos Aéreos Não Identificados do Departamento de Defesa. Em uma audiência no Congresso em julho de 2023, Grusch afirmou que o governo dos EUA possui um programa secreto de recuperação e engenharia reversa de naves alienígenas, operando há décadas. Ele também mencionou ter conhecimento de “entidades biológicas não humanas” recuperadas dessas naves.

----publicidade----

Grusch alegou que, durante suas funções oficiais, foi informado sobre a existência desse programa, mas lhe foi negado acesso direto. Ele sugeriu que o governo está ocultando informações sobre esses fenômenos e que há uma tentativa deliberada de manter essas operações longe do escrutínio público e até de algumas partes do próprio governo.

As afirmações de Grusch colocaram ainda mais lenha na fogueira da controvérsia entre Sean Kirkpatrick e os autodenominados defensores da transparência. Kirkpatrick e o AARO negaram a existência de qualquer evidência empírica de tecnologia alienígena ou programas de engenharia reversa e, além disso, acusaram Grusch de se recusar a compartilhar informações com o Escritório para uma investigação mais aprofundada do assunto.

Grusch, que afirma ter testemunhado de forma indireta a existência de tais programas, na época de seu depoimento e em declarações à imprens, revelou que ele e sua família chegaram a sofrer ameaças de pessoas ligadas ao governo. Afirmou ainda que não foi convidado a prestar depoimento ao AARO, depois voltou atrás e desmentiu, justificando que não atendeu ao convite por não confiar na imparcialidade do trabalho do órgão.

----publicidade----

Agora, as alegações de Grusch sobre as ameaças à sua vida e integridade física acabaram de ganhar reforço, com Elizondo denunciando estar sendo vítima de uma investida similar.

Enquanto isso, pesquisadores e entusiastas da comunidade de ufologia passaram a acompanhar a disputa de versões, cada vez mais divididos.

A participação de Kirkpatrick em reunião sobre o Rancho Skinwalker

O mais recente capítulo dessa briga de versões colocou Kirkpatrick novamente no centro das atenções; e a razão da discórdia é o polêmico Rancho Skinwalker.

Há menos de 10 anos, a Ufologia conheceu o hoje famoso rancho, localizado no nordeste de Utah. Ele é tido como um dos locais mais misteriosos e paranormais dos Estados Unidos. Adquirido por Brandon Fugal em 2016, o rancho tem sido palco de inúmeras investigações devido a relatos de fenômenos inexplicáveis, incluindo avistamentos de OVNIs, atividades poltergeist, criaturas misteriosas e eventos anômalos.

O nome “Skinwalker” deriva de lendas navajo sobre seres que têm a capacidade de se transformar em diferentes animais e assumir suas formas. Historicamente, o rancho ganhou notoriedade na década de 1990 quando foi comprado pelo bilionário Robert Bigelow para a realização de pesquisas sobre atividades paranormais, sob os auspícios do Instituto Nacional de Ciência da Descoberta (NIDS).

Desde então, o rancho tem sido objeto de livros, documentários e programas de TV, alimentando debates entre céticos e entusiastas sobre a natureza e a veracidade dos fenômenos observados. No entanto, para alguns céticos, como Mick West, a maioria das alegações é pura besteira e as “pesquisas televisivas” erram na coleta de dados e geram análises enviesadas.

Mas o ponto é que, em uma entrevista ao jornalista Steven Greenstreet, do New York Post, perguntado sobre sua participação numa reunião secreta ocorrida em Washington D.C., a respeito do rancho, o ex-diretor da AARO, Kirkpatrick, tropeçou nas palavras. Primeiro, deu uma enorme volta e não respondeu assertivamente a Greenstreet. O fez apenas depois, por e-mail, dizendo que a reunião provavelmente não era a mesma, não aconteceu em 2018, e ele não se lembrava de ter conhecido Fugal, o dono do lugar.

Reunião confidencial sobre o Rancho Skinwalker, com a presença de Sean Kirkpatrick [circulado à esquerda na foto] (Arquivo Pessoal – Brandon Fugal [à direita])
Foi então que Fugal não apenas confirmou a participação dele, mas também publicou uma foto que aparentemente prova a presença de Kirkpatrick no encontro confidencial realizado em Washington, em abril de 2018.

A foto mostra Kirkpatrick na mesa durante uma reunião com membros do Comitê de Inteligência do Senado dos EUA e do Comitê de Serviços Armados dos EUA. Fugal afirma que essa reunião, que durou cerca de duas horas e meia, foi crucial para discutir as atividades no Rancho Skinwalker e que Kirkpatrick teve participação fundamental nas definições tiradas então.

Kirkpatrick, por sua vez, disse ser apenas um observador convocado em cima da hora e sem qualquer protagonismo. Mas suas primeiras declarações já haviam feito subir sobre si o véu da desconfiança: ele foi diversas vezes acusado de mentir sobre seu papel na manutenção do sigilo sobre os OVNIs, mesmo antes de sua nomeação para o AARO.

Essa disputa ilustra a crescente tensão que tem alimentado declarações veementes e ácidas na Ufologia norte-americana, colocando pressão sobre a classe política para tratar a questão no Congresso e no Senado, o governo, representado pelo seu braço de inteligência, o Pentágono e uma parte significativa da comunidade ufológica que tende a se colocar ao lado de Mellon, Elizondo, Fugal, Grusch entre outros, inclusive com o surgimento de novos denunciantes que, principalmente via imprensa, têm alimentado a versão de Grusch, embora, assim como o pioneiro, sem apresentar provas. O que vai de fato resultar dessa salada de versões, só o tempo dirá.

Compartilhe:

Jornalista, o autor é editor do Portal Vigília

Você também pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.