Ainda hoje, a figura de Akhenaton continua provocando um verdadeiro conflito de opiniões entre os especialistas. Alguns historiadores o consideram como um homem submerso em uma espiritualidade desconhecida até para a Antigüidade, criador de um culto monoteísta totalmente romanceado 14 séculos antes da era cristã. Outros dizem que tinha um caráter dominado pela ambição pessoal, capaz de levar o país à extremidade do desastre. Então, a sua evolução interna não fez dele um místico estéril, podendo pôr em prática suas visões, agindo em nome do real poder que possuía.

Mas talvez todas estas questões com a sua história tenham um princípio comum, um "encontro" que mudou sua vida, um evento que marcou uma ruptura na evolução histórica do Egito.
Um das características mais singulares no deus egípcio Aton era a universalidade, porém, Amenofis IV (Akhenaton) escolheu um lugar muito longe de outros aglomerados urbanos para construir a capital de seu Reino. Muito possivelmente, o "encontro na terceira fase", descrito nas Estelas de Fronteira, impressionou de tal modo a Amenofis IV que a mudança de religião se tornou uma obsessão autêntica para ele...
Por que Amenofis IV não preferiu outro local já existente como outros Faraós fizeram, para tirar proveito deste modo de uma infra-estrutura agrícola e vias existentes? Por que ele preferiu começar do zero em um território completamente baldio de pouco mais de 200 quilômetros quadrados numa terra de ninguém?...
Fora trocar de local a capital do Egito, abandonando a Tebas mítica, e se instalando no novo Akhet-aton ("O Horizonte de Aton"), ele mudou seu nome de Amenofis ("Amon está satisfeito"), para o de Akhenaton ("Esplendor de Aton"), no quarto ano de seu reinado (1375 a.C.).
Amenofis IV, Akhenaton, que com o tempo ficou conhecido por não ser de todo demente e que tinha gosto pela perfeição do que era feito, imaginou uma religião nova baseado no disco solar.

Nas Estelas de Fronteira que foram erguidas em volta da capital nova, Akhenaton ordenou registrar o momento culminante de seu encontro com o estranho "disco solar". De acordo com este testemunho, "quando o Faraó estava caçando o leão, e sendo o meio do dia, seus olhos viram um disco brilhante pousado em uma pedra.". Ele pulsava como o coração de Faraó e o seu brilho era dourado e vermelho. O Faraó prostrou-se de joelhos ante o disco..."

O caráter misterioso e oculto das convicções egípcias fez com que os deuses nunca aparecessem aos homens à exceção dos próprios sacerdotes, embora sempre nas profundidades de um aposento sagrado que reconstruía de um modo mágico o Universo. Então, o que viu Akhenaton naquela manhã de caça?
O próprio nome em hieroglífico da cidade nova, Akhet-aton, nos dá uma valiosa informação. Embora literalmente signifique "O horizonte do disco solar", Akhenaton pode ter usado este hieróglifo porque lhe lembrou muito de perto sua estranha visão, pois o ideograma que significa "horizonte" em egípcio é escrito com o desenho de um disco entre duas montanhas; talvez a mesma visão que teve aquele rei poeta, aquele sonhador sensível às noções de beleza, humanidade e justiça, em definitivo, aquele rei "embriagado de Deus"...
Mas isto não conclui o mistério de Akhenaton, pois mesmo seu estranho aspecto físico e ambíguo tem sido o centro de atenção de numerosas investigações e teses.
Ele era de tamanho mediano, de esqueleto franzino e redondas e afeminadas curvas. Os escultores daquele tempo nos transmitiram fielmente aquele corpo hermafrodita de peitos protuberantes, quadris muito largos, coxas muito torneadas que lhe davam um enganoso e fraco aspecto. A cabeça não era menos singular, suavemente oval, com os olhos um pouco oblíquos, um nariz longo e fino, a protuberância de um lábio inferior proeminente, o redondo e afundado crânio, inclinando-se para trás como se o pescoço fosse muito fraco para apoiá-lo... Entre o místico idealista e o doente mental, onde está localizada a fronteira?
Porém, embora um modesto fragmento de estatueta (museu de Bruxelas) restabeleça bem a sua face, quanta serenidade, quanta luz existe na visão interior transmitida por aquele objeto. Sem qualquer característica anormal, sem qualquer deformação. É um dos retratos mais bonitos na arte egípcia, onde a mocidade se alia com a profundidade e uma intensa sensibilidade se une à meditação. Não há duvida que Akhenaton fosse um ser de contrastes e de conflitos que talvez acabaram alcançando a luz glorificada pela visão daquele "disco luminoso" que ele considerou como o seu Deus...