Kalitin ficou observando boquiaberto os magos, sem entender o que estavam fazendo. Na mão estendida para cima, Supramati empunhava um bastão metálico, brilhante feito aço polido, que ele movimentava ora para baixo ora para cima, ora esticando o ora encurtando o; da ponta do bastão vertiam se fagulhas que se projetavam para o alto e desapareciam no ar; cada movimento do bastão era acompanhado por uma leve vibração sonora de modulações incríveis. Um outro fenômeno intrigava ainda mais Kalitin: sem que houvesse o menor contato com o paredão rochoso, dele ia se recortando uma figura humana de dimensões colossais. Parecia que o artista apenas retocava a sua obra a distância, ora acentuando a profundidade ou a expressão do rosto, ora dando um acabamento nos detalhes do traje ou dos cabelos.
O trabalho de Narayana parecia ainda mais surpreendente. Nada se via em suas mãos; somente, de tempos em tempos, por entre os seus dedos cintilava uma luz metálica, derramando se em correntes faiscantes. Ao mesmo tempo, por uma força invisível, do paredão no fundo da gruta desprendiam-se enormes blocos de granito e, ao invés de caírem no chão, derretiam se no ar sem deixar vestígios.
Ao notar o ávido interesse com que Kalitin olhava para a sua mão, Narayana estendeu a a ele e mostrou sobre a palma um estranho objeto. Era um anel com ponteiros oscilantes, embutido numa espécie de aro, cujos detalhes, porém, Kalitin não conseguia definir em meio à sua agitação.
Mais tarde, Dakhir, o mago superior, iniciou a palestra explicando a composição da atmosfera e completou:
A força estranha que o deixou tão curioso, Kalitin, não é nada mais do que a força vibratória do éter; seu manejo encerra o sentido arcano de todas as forças físicas. Conforme já lhe disse, o som é a mais terrífica das forças ocultas. O som agrega e desagrega; o som, tal qual o aroma, na realidade é uma substância incrivelmente tênue, tirado dos corpos com o auxílio de um empuxo ou batida. Os sons, produzidos num determinado volume e combinação de forma que possam gerar certos acordes etéreos, penetram em tudo que podem. O mesmo princípio explica o poder da música, que tanto pode irritar, como levar a um estado de êxtase, ou acalmar, isto é: ela age sobre o estado espiritual.
Para que se tenha uma pequena idéia da tenuidade da corrente etérea, basta dizer que a sua densidade, comparada com a da atmosfera, é tal qual a do hidrogênio em comparação com a da platina, ou a de um gás e o mais pesado dos metais.
Todos os corpos, animais, plantas e minerais foram formados basicamente desse éter diluído; significa que toda a diversidade das espécies, nas quais se manifestam as forças da matéria, possuem uma origem comum e se encontram em dependência mútua, podendo transformar se de uma em outra. Aqueles que se utilizam da vibração etérea com qualquer matéria.
O minério, assim como as demais matérias, é constituído de partículas isoladas que se encontram em contínuo movimento, as quais se submetem às forças atuantes. O calor, por exemplo, exerce um efeito dos mais rápidos e visíveis, mas a corrente de éter, controlada pela vontade consciente, é ainda mais poderosa e sutil. O movimento interno da massa rochosa ou metálica permite que ela se submeta à força mental do hábil artífice, a manipulá-Ia. Quando esta mentalização é aliada à poderosa força da corrente etérea, a matéria submete-se à sua vontade, como que a uma simples força material visível. Resumindo: a matéria é animada temporariamente pelo espírito que nela penetra, subjugando-a à sua vontade.
A força da corrente etérea, ao recortar da rocha um bloco necessário ao artífice, decompõe-lhe os átomos, dissolvendo as moléculas.
Devo dizer que as aplicações da força vibratória do éter são infinitamente variadas. Ela tanto pode fulminar como um raio, como curar diversos tipos de moléstias, beneficiar um organismo físico, restabelecendo lhe as forças exauridas, ou ainda, com a mesma facilidade, devolver a vida a uma pessoa morta, desde que o seu corpo astral ainda não se tenha separado definitivamente, pois a vibração acústica combina elementos numa espécie de ozônio, impossível de ser produzido por química comum, que possui, entretanto, propriedades vivificadoras extraordinárias.
Quisesse eu enrolar com o filamento energizado qualquer coisa, ainda que pesando toneladas, esta poderia ser suspensa no ar sem qualquer dificuldade, e ser transportada, por exemplo, para a outra ponta do jardim. Mais ainda... as naves espaciais que nos trouxeram para cá também eram equipadas com estes aparelhos. Devidamente polarizadas, elas podem carregar pesos enormes, alcançar grandes altitudes e velocidades incríveis, em qualquer direção.
Você deve ter ouvido sobre um continente chamado de Atlântida, sugado pelo oceano. Pois bem! Os atlantes conheciam a força etérea e dela se utilizavam. Os atlantes chamavam essa força etérea de Mach ma, e o seu terrível poder astral contribuiu em muito para a extinção do próprio continente.
Nos livros ocultos hindus fala se também de uma força vibratória; assim, em Ashtar Vidya, consta que uma máquina carregada com essa força, colocada numa "nave voadora” e orientada contra um exército, podia transformá lo, com todos os seus elefantes, num monte de cinzas, feito um feixe de palha.
Num outro antigo livro hindu, Vishnu Purana, a mesma força etérea é mencionada de uma forma alegórica e incompreensível para os profanos: o "olhar de Kapila” um sábio que transformou em cinzas os seiscentos mil filhos do rei Sagar, apenas com um olhar.
Os conhecimentos dos atlantes pereceram junto com o seu continente, no entanto, houve sobreviventes da catástrofe. Como se poderia perder para sempre um segredo tão importante?
A experiência mostrou que a posse desse segredo poderia trazer catástrofes inenarráveis e tornou se necessária uma cautela maior. O uso desta perigosa força, envolta em tríplice véu de mistério, foi guardado em forma de símbolos indecifráveis e só era confiado aos iniciados superiores. Entretanto, por mais estranho que possa parecer, na segunda metade do século XIX ela foi descoberta por um homem, que encontrou também um método, através de aparelhos engenhosos, de utilizar algumas de suas propriedades, mas isso não levou a nada.
“Os Legisladores”
– Wera Krijanowsky/J.W.Rochester (século XIX)
Os Magos
Moderadores: Moderadores, Euzébio, Britan, Cavaleiro, hsette, eDDy, Alexandre
Os Magos
Ad Honorem Extraterrestris