
Toda pessoa que já visitou as ruínas incas, no Peru ou na Bolívia, foi levada a observar os monólitos de muitos ângulos dos palácios, das fortalezas e dos templos; são construções feitas de pedras tão rigorosamente justapostas, que nem a mais fina das lâminas de medição de vãos pode penetrar em suas juntas. Algumas pedras são mais ou menos retangulares, e outras ostentam até trinta e duas faces anguladas; e cada pedra se ajusta exatamente à sua vizinha, de todos os lados, inclusive com relação às superfícies "internas". A razão do seu "enganchamento" peculiar pode ter sido a de tornar a construção à prova de terremoto, como de fato parece que tornaram, uma vez que as construções sobreviveram a muitas das estruturas construídas pelos espanhóis sobre elas mesmas; as estruturas espanholas desmoronaram, ao longo dos anos, em conseqüência dos repetidos terremotos andinos.
Como foram as pedras cortadas? Por via de que recursos foram as gigantescas pedras transportadas montanha acima? E, finalmente, como é que tais pedras foram justapostas umas às outras? Elas tiveram de ser justapostas nos muros; retiradas de lá; lavradas; colocadas de novo, vezes e vezes seguidas, a fim de se proceder à medida e ao trabalho de cantaria indispensáveis ao acerto perfeito. Mas todo o sistema de pedra se entrelaça e se cruza, tornando este laborioso processo impossível, ainda que os pré-incas possuíssem os instrumentos de corte de pedra necessários para a consecução do exato grau de precisão.
Ao que se sabe, nenhum implemento, próprio para a conformação correta das pedras, nem nenhuma máquina capaz de efetuar semelhante ajuste múltiplo de grandes blocos de pedra, eram coisa conhecida aos antigos sul-americanos; por esta razão, as lendas e os boatos persistentes implicam que os antigos construtores desenvolveram um "ingrediente secreto" - um extrato radiativo de planta, que "mordia" ou dissolvia as pedras, induzindo-as a fundirem-se umas às outras, ou, pelo menos, tornando as suas arestas maleáveis. Semelhante invenção, se é que ela existiu, explicaria o acerto incrivelmente exato de gigantescas rochas - o intricado das gravações muito elegantes - sendo que tais gravações poderão ter sido moldadas; o mesmo teria acontecido até com a construção de estradas incaicas; seus construtores estendiam estradas de 5.000 e mais quilômetros de comprimento, através de montanhas, de vales e de toda espécie de impossíveis barreiras, em linha reta.
O Coronel P. H. Fawcett, o explorador de selvas sul-americanas, e estudioso das civilizações pré-colombianas - que desapareceu no Brasil, em 1925, durante a sua busca de uma cidade perdida, mas ainda presumivelmente habitada, nas proximidades da área do Rio Xingu, no sistema tributário do Rio Amazonas - era de opinião segundo a qual os construtores pré-históricos sabiam como "amaciar" as pedras, aplicando-lhes algo parecido com sacos maleáveis de areia, ou de cimento úmido, de maneira que a substância pudesse fluir entre as pedras e endurecer, ou ser introduzida nas estruturas, como massa de calafetar.
Fawcett narrou vezes seguidas um incidente relatado do Peru, de acordo com o qual alguns engenheiros americanos de minas - enquanto realizavam prospecções num dos inúmeros huacas (os montículos sepulcrais), perto de Cerro de Pasco, encontraram um recipiente selado, da espécie também denominada huaca (usualmente feito com a forma de uma cabeça humana, de um corpo humano, ou de um animal); estes huacas eram usados pelo povo para guardar líquidos, pó de ouro, sementes de trigo, ou fosse lá o que fosse que escorresse.
Encontrando algum líquido no huaca, aqueles engenheiros cuidaram de induzir um dos trabalhadores índios, que trabalhavam sob suas ordens, a bebê-lo. O índio resistiu, apavorada e violentamente; na luta, quebrou o huaca; depois, fugiu correndo. Quando os engenheiros regressaram de sua perseguição ao índio, feita sem muita convicção, observaram que a rocha, contra a qual o huaca se partira, ali derramando o seu conteúdo, se havia tornado macia e maleável, antes de logo após se endurecer de novo.
Se líquidos amaciadores de rochas podem ser extraídos de certas plantas, tais plantas não foram identificadas, muito embora, de acordo com a informação prestada por Fawcett, nós possuamos uma indicação daquilo que, aproximadamente, deverá ter sido o seu aspecto. (Algumas plantas de florestas, conhecidas desde muito tempo pelos índios, proporcionaram tesouros insuspeitados, ou venenos maravilhosos, tais como o curare). Um relato posterior fala de um homem que, caminhando através da floresta, a fim de ir buscar o seu cavalo, verificou que suas longas esporas se haviam derretido ao redor das rosetas. Quando ele chegou à chácara, ou ao rancho, para onde estava se dirigindo, e apontou para as esporas carcomidas, ou derretidas em parte, outros homens lhe perguntaram se ele havia caminhado em meio a uma série de plantas baixas, de folhas vermelhas e espessas; essas folhas, na opinião do povo com o qual o engenheiro falou, eram as partes das plantas que os incas usavam para amolecer as rochas.
Ainda mais estranho é o relatório de Fawcett, que diz que há pequenos pássaros, nos Andes, que perfuram buracos, por si mesmos, na rocha viva, por cima de cursos de água corrente. Fawcett observou que os pássaros se entregavam a seu trabalho, tendo o cuidado de, primeiro, esfregar a rocha com uma folha, para depois bicá-la.
Deve-se notar que o Coronel Fawcett nunca obteve êxito na tarefa de conseguir um espécime da referida folha; nem está explicada a razão pela qual um agente amaciador tão poderoso não amolecia o recipiente que o continha; como não causava danos às pernas dos cavalos que passavam em meio àquelas plantas; e como - segundo a observação de Ivan Sanderson, naturalista e explorador, não acontecia nada ao bico do pássaro que segurava a folha.
Seja como for que foram construídos, estes enigmáticos monumentos ainda se erguem nos topos de montanhas e de penedos quase que inacessíveis. Em certo sentido, eles nos levam a defrontar-nos com um arqueológico fato consumado. Tais monumentos não poderiam ter sido construídos - e, não obstante, eles lá estão!
(Charles Berlitz - Mistérios de Mundos Esquecidos)
Fig 1. Ilustrando a união e fusão de pedras poligonais.


