O que a pesquisa do óvni do Datena revela sobre a Ufologia?
Nas últimas semanas, o episódio que ficou conhecido como óvni do Datena monopolizou a atenção de pesquisadores e os debates em grupos de Facebook, páginas e perfis sobre o fenômeno UFO, sites e grupos dedicados à Ufologia em aplicativos de mensagens.
Não sabe do que se trata? Só se por alguma razão você estava congelado, perdido numa caverna, ou quem sabe praticando uma forma extrema de distanciamento social para driblar a pandemia até chegar sua hora de ser vacinado. Mas pode visitar essa primeira matéria do Portal Vigília sobre a filmagem do Brasil Urgente para saber mais.
Dito isso, é bom lembrar que no último texto jornalístico que publicamos sobre o assunto, o Portal Vigília elencou algumas das razões pelas das quais provavelmente seria bem difícil chegar a um veredicto final sobre o que, exatamente, a câmera do helicóptero captou. Semanas depois, mesmo pesquisadores mais experientes continuam evitando cravar um culpado — principalmente um convencional — para o registro, muito embora pesquisas de vários analistas tenham chegado a excelentes candidatos a óvnis do Datena perfeitamente terrestres.
Então resolvi escrever este artigo para falar justamente sobre esta jornada e o que ela, a jornada em si, ensina aos interessados em Ufologia, muito mais do que sobre o destino. Provavelmente a minha (ou qualquer outra) opinião pessoal a respeito desse destino — ou seja, a natureza do óvni do Datena — é mais irrelevante do que a própria busca em si pela resposta.
Essa é uma jornada riquíssima que expõe com clareza as dificuldades de sempre que os pesquisadores da Ufologia enfrentam.
Eu ainda me lembro, quando do início da minha busca por conhecer um pouco mais sobre o que é esse ramo do conhecimento chamado Ufologia, das conversas na casa de um dos grandes pesquisadores da Ufologia brasileira e mundial, Arismaris Barandi Dias.
Perda inestimável para a Ufologia, falecido em abril de 2009, autor do Código de Ética do Ufólogo, Arismaris fazia questão de exibir uma extensa biblioteca em seu escritório. Ali se encontravam títulos sobre física, matemática, biologia, psicologia, astronomia, muito além dos clássicos da literatura ufológica. Aqueles, ele sempre dizia — e recomendava, com a didática de um professor e a delicadeza de um gentleman verdadeiro — eram os conhecimentos necessários à pesquisa ufológica séria.
Não é de surpreender que, diante de um caso complexo como a filmagem do objeto voador não identificado sobre a cidade de São Paulo ocorrido em 16 de fevereiro de 2021, a análise reivindique dos pesquisadores todos esses conhecimentos. E mais alguns, como noções de rotas aéreas, informações sobre a operação de aeroportos, direções e pistas de pouso e decolagem em funcionamento, entre outros.
Por óbvio, é quase impossível um pesquisador deter, de antemão, todos os conhecimentos necessários para uma avaliação ampla. Então é natural que o investigador busque complementar esses dados e análises em outras fontes, mesmo que, a partir de sua experiência prévia, possa tender sim, por antecipação, a essa ou àquela hipótese. Isso é útil até para obter insights sobre como elaborar perguntas ou experimentos para testar suas próprias convicções. E sim, é fundamental testar constantemente suas convicções!
As reações na Ufologia e o ataque aos “mensageiros”
Mas a jornada mostra também como os apaixonados pela Ufologia podem tender, simplesmente, a “comprar” para si as explicações que mais lhes convêm; as que melhor se ajustam às suas próprias convicções, independentemente da direção para onde as evidências apontam.
No caso em questão, pouco importa a completa inexistência de um referencial de distância, para uma aferição precisa de velocidade. Ou a ausência objetiva de registro de um voo compatível, para estabelecer uma provável rota. De um dia para o outro, “a Internet“, quase como uma entidade autônoma, já cravava uma velocidade astronômica (totalmente improvável) para o objeto. Ou a impossibilidade de ser essa ou aquela aeronave.
Mais ainda, os autores de opiniões estruturadas a partir de evidências reais, estudos comparativos, etc., sejam a favor ou contra a hipótese não convencional, logo foram atacados ferozmente. E não se ataca a mensagem, mas o seu portador.
É como se os conjuntos de valores e crenças das pessoas estivessem sendo feridos. Talvez estejam de fato. E isso expõe outro grande obstáculo no caminho da pesquisa séria.
Não é raro, durante uma investigação, quando o pesquisador elabora uma teoria e por acaso acontece de ela ser trivial, a hipótese acaba por contradizer toda uma história de protagonismo e superação da testemunha ou do divulgador. Em geral, as pessoas dificilmente ficam felizes quando têm suas convicções confrontadas.
Por isso, para além de todas as dificuldades objetivas de coletar os dados necessários e estabelecer hipóteses no caso do óvni do Datena, ficou claro que qualquer que seja a provável explicação final, ela já não será mais convincente. Uma parcela relativamente grande daqueles que ainda clamam por uma explicação — apesar dela — já “compraram” a outra versão.
Enfim, o que eu penso sobre o óvni do Datena? Isso verdadeiramente não é relevante. Mas como este é um espaço opinativo, vou sugerir aqui o vídeo abaixo. Não pela conclusão em si — embora acredite que essa explicação esteja no caminho correto — mas pelas didáticas explicações da física, da ótica e da navegação aérea usadas para chegar às conclusões. Parabéns ao canal OVNIS e Mistérios em Geral – OMG e seu autor, Jorge Uesu Jr, pelas excelentes explicações.
Jeferson Martinho é jornalista, diretor do Portal Visão Oeste, CEO da agência Nova Onda Comunicação e editor do Portal Vigília
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A descrença nas explicações iniciais se mostraram corretas, tanto q hj os próprios ufólogos admitem q não se tratava de um bimotor (e sim de um helicótero). Mas é mais fácil atribuir os “ataques aos mensageiros” pela emoção dos ufólatras do q abrir mão do tom de superioridade.
Esse caso abre mais um precedente para q a visão dos ditos especialistas não goze de credibilidade junto ao público, mas enquanto manterem tal postura a tendência é aumentar o distanciamento entre um e outro (qdo o ideal era tds remarem pro mesmo lado).
Excelente a leitura do Uesu, parabéns a ele e ao Portal Vigília! Eu já desconfiava de aeronave, mas pensei que fosse um desses helicópteros de luxo…