Não foi dessa vez: esses vídeos incríveis não são óvnis reais
A Ufologia testa a todos os momentos o conhecimento e a capacidade de discernimento de testemunhas, pesquisadores e entusiastas. No mundo de hoje, então, em que qualquer pessoa pode ter à mão uma câmera de razoável qualidade – no celular – ou ter em casa um computador e software de última geração para edição de imagens, é necessário redobrar a atenção.
Por isso vamos resgatar aqui dois episódios registrados em vídeo e divulgados pelo Portal Vigília que foram creditados a óvnis reais mas que, com a ajuda dos leitores e outros pesquisadores, podemos descartar. Ou seja, não são legítimos representantes do insólito fenômeno dos objetos voadores não identificados.
O primeiro deles aconteceu em 21 de março de 2020, no Oiapoque, no Amapá. Foi divulgado em primeira mão pelo canal Ufologando e simultaneamente pelo site de notícias locais SelesNafes.com. Este último noticiou que um representante da prefeitura contatou o comandante da Companhia Especial de Fronteira do Amapá, do Exército, que teria dito não saber do que se tratava.
Essa afirmação gerou alguma confusão, porque as imagens são indistintas, tanto em luminosidade quanto em e comportamento, dos chamados sinalizadores de paraquedas, ou granadas iluminativas, termo técnico usado frequentemente no meio militar. Quem nos alertou primeiro foi o pesquisador Rodrigo Moura Visoni, que através de comentário indicou a análise em vídeo de outro pesquisador, Vanderlei Kroning.
Kroning destaca comportamentos comuns das granadas iluminativas [nota do editor: às vezes também chamadas de “flares”]: “trajetória lentamente descendente e os objetos apagam conforme se aproximam do solo”.
De fato, o mesmo comportamento se observa num tipo especial de sinalizador náutico, com a diferença de que além de iluminar, como tem o objetivo de chamar a atenção em alto mar, em geral este tipo de sinalizador está disponível com uma coloração vermelha vibrante.
Separamos aqui alguns exemplos interessantes desse tipo de equipamento.
Nem drone esquisito, nem óvni: criação digital
Há poucos dias, voltou a gerar polêmica nas redes sociais a matéria divulgada em 2015 pelo Portal Vigília a respeito de um vídeo publicado pelo canal do Youtube dedicado à ufologia ThirdPhaseOfMoon. O canal destacou a filmagem como o mais incrível vídeo de um UFO naquele ano.
O registro com excelente definição mostra um objeto discoidal, semelhante a uma calota de roda de um veículo ou algum outro tipo de sucata improvável pairando lentamente sobre o céu do Texas, rodando em volta de seu próprio eixo enquanto se desloca.
O leitor Thiago Poltronieri Alves reparou a curiosa semelhança do objeto com o que parecer ser uma construção a partir de dois tipos de drones: um brinquedo de rádio controle comum e um drone experimental, de 2009, baseado no Efeito Coanda (explicando de forma curta e imprecisa, um fenômeno que aumenta o empuxo para baixo quando uma superfície convexa é colocada sob um fluxo de ar).
De fato, há até mesmo um vídeo no Youtube que faz essa comparação. Mas a explicação não leva em consideração que o “drone coanda” era um protótipo de uma empresa, e não está à venda. Também deixa de fora várias outras esquisitices do vídeo.
Para essas outras estranhezas somadas, provavelmente há uma explicação ainda mais simples e objetiva: a manipulação digital de imagens, ou o famoso “CGI” (de Computer Graphic Imagery – ou imagens geradas por computador), ou computação gráfica.
Outro leitor, que se identificou apenas como Otávio, da Associação Brasileira de Ufologia, deu o alerta e fez até um vídeo explicação: em momentos aleatórios ao longo de todo o vídeo original, aparentemente um bug na geração faz os “pezinhos” do suposto óvni desaparecerem e reaparecerem magicamente. Nós tentamos contato com o Otávio mas ele não parece ter recebido nossos e-mails.
Nós fizemos a captura frame a frame de uma dessas rotações do suposto óvni no vídeo originalmente publicado e separamos os quadros mais importantes para tornar mais perceptível esse defeito do vídeo.
De qualquer forma, o vídeo de análise recomendado pelo Otávio está a seguir:
Esse tipo de criação pode ser bem difícil de distinguir de uma manifestação legítima. Em geral, as peças de CGI são quase sempre identificadas pelos profissionais que trabalham com esse tipo de produção, graças a flutuações comuns nas texturas, defeitos na análise frame-a-frame ou nos efeitos de névoas e transparências. Mas costumam enganam facilmente o observador comum.
Alguns vídeos deste tipo chegam enganar até mesmo os observadores mais experientes e são desmascarados pelo detalhe, como os famosos UFOs do Haiti, nos quais o aspecto idêntico de todas as copas de árvores (embora se apresentassem em diferentes tamanhos) tenha sido o fator determinante para identificar que os objetos não eram nada além de criações digitais.
A certeza, no entanto, só viria com a confissão do próprio autor, um artista francês, de que de fato se tratava de uma peça totalmente digital.
Para continuar o tema, confira abaixo uma série de matérias com análises de vídeos e fotografias, além de dicas que podem ajudar a separar o fenômeno óvni real dos erros de interpretação e fraudes deliberadas.
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