Iniciativa financiará busca por vida nas nuvens de Vênus
A Breakthrough Initiatives, conjunto de programas privados de ciência espacial fundado pelo investidor e filantropo russo-israelense Yuri Milner, divulgou nesta terça-feira, 15 de setembro, que financiará um estudo sobre a possibilidade de vida primitiva nas nuvens de Vênus. O estudo é inspirado na descoberta, anunciada no início da semana, da presença de gás fosfina na atmosfera do planeta. Fosfina é uma substância considerada bioassinatura potencial, sendo uma forte evidência da existência de vida.
A iniciativa Breakthrough é conhecida pelor sua ligação com a busca por inteligências extraterrestres e outras frentes de pesquisas espaciais. Suas ações ganharam destaque a partir de julho de 2015, quando, junto com Stephen Hawking, patrono da ação, Yuri Milner anunciou o lançamento de um programa astronômico de 100 milhões de dólares chamado Breakthrough Listen, para turbinar a busca SETI.
Na nova empreitada com foco em Vênus, a equipe científica que realizará a pesquisa será composta por físicos, astrônomos, astrobiólogos, químicos e engenheiros de classe mundial, liderados pela Dra. Sara Seager, Professora de Ciências Planetárias, Física e Engenharia Aeroespacial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Sara Seager é uma das colaboradoras do estudo que resultou no artigo original sobre o tema, publicado no periódico científico Nature.
O grupo que terá Sara Seager como investigadora principal (PI), contará ainda com Dr. Janusz Petkowski, como vice-PI (também MIT), Dr. Chris Carr (Georgia Tech), Dra. Bethany Ehlmann (Caltech), Dr. David Grinspoon (Instituto de Ciências Planetárias) e Dr. Pete Klupar (engenheiro chefe da Breakthrough Initiatives). Eles continuarão investigando as possibilidades científicas da vida nas nuvens de Vênus e analisarão os desafios técnicos de uma missão exploratória caso tais evidências sejam convincentes.
A fosfina nas nuvens de Vênus
No artigo publicado na Nature, a autora principal Dra. Jane Greaves, da Cardiff University e seus colaboradores demonstram a presença de fosfina (PH3) na atmosfera venusiana por meio observações de bandas milimétricas feitas do radiotelescópio ALMA, no Chile (Atacama Large Millimeter Array). O estudo coletou ainda evidências adicionais do Telescópio James Clerk Maxwell (JCMT, no Havaí).
O nível de fosfina detectado nas nuvens de Vênus – cerca de 20 partes por bilhão – é completamente inesperado para um gás suscetível à destruição por radiação ultravioleta, seja diretamente ou por radicais induzidos por ultravioleta. Isso sugere que algum processo está reabastecendo o gás. O desafio dos cientistas será esclarecer esse processo.
A fosfina é uma substância química “biogênica”: todas as amostras encontradas na Terra foram produzidas por processos biológicos ou feitos pelo homem, caso em que requerem uma quantidade considerável de energia.
Substância ligada à atividade orgânica
Embora os mecanismos biológicos precisos que geram fosfina sejam desconhecidos, eles estão associados à degradação da matéria orgânica por bactérias, com o gás sendo encontrado em ambientes livres de oxigênio, como pântanos, assim como nas entranhas de animais. Embora a presença de fosfina em Vênus possa vir a resultar de um processo não orgânico, nenhum processo desse tipo, em um planeta terrestre, é conhecido pela ciência.
“A descoberta da fosfina é um desenvolvimento empolgante”, disse S. Pete Worden, Diretor Executivo da Breakthrough Initiatives. “Temos o que poderia ser uma bioassinatura e uma história plausível sobre como ela chegou lá. O próximo passo é fazer a ciência básica necessária para investigar completamente as evidências e considerar a melhor forma de confirmar e expandir a possibilidade de vida”, disse.
“Encontrar vida em qualquer lugar além da Terra seria realmente importante”, disse Yuri Milner, fundador da Breakthrough Initiatives. “E se houver uma chance não desprezível de que seja ao lado, em Vênus, explorar essa possibilidade é uma prioridade urgente para nossa civilização”, destacou.
“Ficamos surpresos ao encontrar uma molécula na atmosfera de Vênus que poderia vir de organismos”, disse a Dra. Greaves. “Continuaremos monitorando e procurando por mais pistas, para identificar de onde exatamente no planeta a fosfina está vindo”, completou.
A Dra. Seager comentou: “Estamos entusiasmados em forçar os limites para tentar entender que tipo de vida poderia existir na atmosfera de Vênus, muito hostil, e que outras evidências de vida uma missão a Vênus poderia procurar”.
