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Biólogos e ufólogos afirmam: chupa-cabras brasileiro não existe

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Fim de tarde ensolarado, 12, feriado de junho. A equipe de Vigília dirige-se para a cidade interiorana de Araçoiaba da Serra, há cerca de 150 quilômetros da Capital, São Paulo. Ali, moradores e donos de pequenas propriedades comentam a morte de vacas e aves que estariam misteriosamente sendo encontradas sem sangue.

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A simpática senhora que ofereceu-nos sua chácara para a noite de pesquisa nos recebe e fala de suas experiências com luzes estranhas na região nos últimos 17 anos. Naquela noite, no entanto, as luzes resolveram não aparecer, apesar do céu limpo e estrelado.
Manhã seguinte, sábado, agora tempo chuvoso. O caseiro nos fala do cartaz fixado no “Bar do José Pedroso”, fazendo um alerta para as pessoas tomarem cuidado com a criatura: o chupa-cabras. Ou, nas palavras da jornalista e apresentadora do Jornal da Globo, Sandra Anennberg: “será um vampiro, o lobisomem, ou o ‘famoso’ chupa-cabras”, dando vida própria à figura folclórica nascida no México e Caribe, cerca de cinco anos atrás.
Chegamos ao bar que leva o nome de seu dono. O cartaz não está mais lá, mas os moradores logo avisam: “se eu pegar esse bicho faço um guisado”. Apesar do ódio e complacência com que falam do animal, a única história relacionada a ele que conhecem, além das notícias da TV, é a de uma vaca encontrada morta há pouco mais de um mês “lá perto do Pró-Vida”, a instituição alternativa que, pela grandiosidade de seu clube de campo, virou referência na cidade.
Seguimos então o “rastro” do chupa-cabras, deixado de boca em boca nos comentários dos moradores. Finalmente encontramos o sítio Santo Antônio, no bairro Cristóvão. Os quatro pastores alemães que protegem a propriedade são os primeiros a aparecer. Em seguida surge o caseiro Lázaro Jorge, que mora com uma numerosa família. Os animais sucumbem à autoridade do dono, que nos leva ao local onde a vaca da raça jérsei foi encontrada morta em meados de maio, dias antes de virar notícia no jornal da região.
No local só restavam as cinzas do animal, incinerado por ordem do veterinário, como é comum nas fazendas de criação. Naquele dia, Lázaro diz que estava acordado desde as 5 horas da manhã, mas não tinha ainda saído de casa. Ele encontrou o animal por volta das 6h30, ainda quente, quando desceu para cuidar das 33 cabeças de gado. “Estava sem o úbere (as mamas), como se cortado por um bisturi ou uma navalha”, conta ele. De fato, o local onde a vaca foi achada fica há 20 metros do ponto cercado onde os animais dormem. E não havia buracos na cerca indicando como ela pudesse ter passado de um lado ao outro.
Uma hora depois de encontrada a vaca, o veterinário –que não quis falar com a imprensa– foi conferir a ocorrência, chamado pelo caseiro. A suspeita de envenenamento foi desfeita na rápida necrópsia, levada a cabo no próprio local. Tanto que, após isso, mesmo ordenando que a vaca fosse queimada, autorizou a retirada da cabeça do animal atendendo ao pedido dos peões que queriam pendurá-la na porteira.
“Segundo o veterinário, quando o animal é atingido nessa região do úbere, abre hemorragia”, diz o caseiro. No entanto, não havia poça de sangue no terreno onde ele foi encontrado. Perguntado sobre o aspecto do corte, Lázaro responde com fisionomia de espanto: “estava branquinho, sem marca de ferimento”. Ele descarta a hipótese de ataque pelos seus cães. “Eles não pegam o gado, só quando a gente manda. E quando os cachorros pegam, ele fica com marcas de dentes”. A outra hipótese que se apresenta também é prontamente descartada: “gente não pode ser, porque senão os cachorros iriam latir e eu ia escutar”.
Já à saída da propriedade, uma das filhas do caseiro mostra à equipe de Vigília o retrato falado do que acham que pode ter atacado a vaca jérsei: a ampliação de um desenho que já foi publicado na Revista UFO, no jornal Folha de São Paulo, na Revista Já, do jornal Diário Popular, e em dezenas de outros veículos, especializados ou não.

Como começa uma lenda
Mesmo sendo uma ocorrência muito mais parecida com a “cattle mutiling”, ou mutilação de gado, mais comum nos Estados Unidos e freqüentemente associada à atividade ufológica -mesmo sem uma comprovação definitiva-, a vaca de Araçoiaba da Serra endossou o coro da grande imprensa brasileira nos últimos três meses como parte fenômeno chupacabras. Com ajuda da imprensa, o medo da fera desconhecida correu o país e se instalou nos municípios do Interior de São Paulo e regiões de Minas, incorporando-se ao folclore dessas regiões, onde já circulavam, periodicamente, boatos de lobisomens, “loiras da faca”, palhaços e bailarinas raptores de crianças.
O fato é que, diferentemente das histórias folclóricas anteriores, dessa vez era possível encontrar o sinal concreto da passagem da temerosa fera: animais mortos. E foi a partir da mobilização de ufólogos, biólogos e veterinários que o véu começou a cair.
Analisando ovelhas atacadas no final do mês de abril em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba, no Paraná, os biólogos do Zoológico de Curitiba e do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), identificaram nove tipos de pêlos diferentes. Todas as amostras pertenciam a cães. Segundo a conclusão dos pesquisadores, os ataques partiram de cães domésticos que adquiriram características selvagens e estavam em busca de comida.
Em declaração ao Jornal Folha de Londrina, os biólogos garantiram que os cachorros também atacaram gansos e galinhas. “As ovelhas são tão frágeis que às vezes chegam a morrer do coração, por causa do susto”, explicou o biólogo do IAP, Mauro de Moura Britto, ao jornal, discordando das descrições feitas à época sobre as características dos ferimentos, que segundo os moradores não apresentariam marcas de sangue. “Isto foi um folclore criado em cima de um caso simples de ser explicado”, disse o biólogo.
O veterinário Rodrigo Teixeira, diretor do Zoológico Quinzinho de Barros, em Sorocaba, chegou a conclusão semelhante. Ele foi responsável pela necrópsia de nove ovelhas mortas no sítio de Antônio Esteves de Araújo, na madrugada de sábado, 28 de junho, para domingo, 30, na cidade de Guapiara, há 250 quilômetros da Capital, São Paulo.
Entrevistado por Vigília, Antônio Esteves comentou com horror a cena que presenciou. “O único animal que ainda apresentava sangue era um que estava vivo e morreu depois. Escorreu um pouquinho de sangue pela boca”, disse.
Para o proprietário, seria impossível o ataque por parte dos seus dois cães. “Eles nunca atacaram a criação”, disse. Também não seria possível ser obra do homem: “os cães não deixariam”. Mas o veterinário Rodrigo Teixeira discorda. Além das nove ovelhas mortas, ele examinou duas que sobreviveram. “Não tenho dúvida de que foram cachorros”, conta. Ele explicou ainda que os animais não morreram do ataque, mas da correria na tentativa de fuga. Segundo ele, as ovelhas tinham sangue, mas sua aparente ausência explica-se pelo fato de estarem anêmicas, além de uma falsa impressão das pessoas de que qualquer corte num animal provoca hemorragia. “O sangue tende a depositar-se em alguns órgãos”, explicou.
Teixeira fala com a propriedade de quem já teve, pessoalmente, uma experiência com um chupa-cabras doméstico. “Eu tinha uma ovelha no Rio de Janeiro quando o cachorro do vizinho a atacou”, disse. Segundo o coordenador do Zoológico, também é comum animais selvagens visitarem criações.

Chupa-cabras atacou um ser humano?
O diretor do Zoológico de Sorocaba ajudou a desvendar outro caso ainda mais trágico: a morte de uma pessoa em Ibiúna, no dia 9 de junho. A ocorrência foi registrada na delegacia local. O Boletim de Ocorrência citava mordidas de animais. Segundo Giuliano Ajeje, presidente do Grupo Científico de Pesquisas de Discos Voadores (GCPDV), de São Roque, havia duas testemunhas de uma criatura com 2 metros de altura, corpo peludo e olhos vermelhos.
Em visita ao local, Teixeira encontrou o rastro do animal responsável pelo ataque: um felino, possivelmente uma onça parda. Para ele, no entanto, muito provavelmente, a vítima “morreu de hipotermia ou entrou em coma alcoólica”. Sua imobilidade é que propiciou o ataque da onça, incomum em seres humanos.
O delegado assistente de Ibiúna, Luiz Antônio Lara, encarregado do caso, está preocupado com a situação. Com medo, seja do chupa-cabras ou da onça, “as pessoas estão se armando para matar o bicho. E isso pode acabar numa tragédia”, lamenta. Além do risco de uma bala perdida, ele se preocupa também com a onça: “no final podem acabar matando um animal raro”.
“Pensei até em jogar na Internet uma mensagem para que alguém possa ajudar a capturar o animal”, conta o delegado. Uma primeira tentativa já foi feita por Peter Crawch, especialista em grandes felinos do Centro Nacional de Predadores, um projeto assemelhado ao TAMAR (de proteção às tartarugas), ligado ao IBAMA. Peter é um dos únicos especialistas no Brasil que captura e estuda o comportamento desses animais, com o uso de rádios-colares e equipamentos modernos. Sua agenda, no entanto, está sempre repleta.

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Uma fauna desconhecida nas cidades
A visita de animais selvagens às criações vem sendo comprovada pelos ufólogos do CEPEX -Centro de Estudos e Pesquisas Exológicas de Sumaré. Os irmãos Eduardo e Osvaldo Mondini, coordenadores do grupo, juntamente com Antônio de Pádua Faroni, pesquisaram mais de 30 casos de supostos ataques do chupa-cabras a criações.
“Hoje, com o alarde da imprensa, até pardal morto é vítima de chupa-cabras”, brinca Eduardo. O ufólogo, no entanto, lida com uma realidade que não é brincadeira. “Há lugares onde as crianças estão deixando de ir à escola por causa dessas histórias”. Da incerteza inicial da pesquisa, agora ele está convicto de que não existe um chupa-cabras, mas a soma de ataques de animais da fauna brasileira desconhecidos nas cidades.

Com a ajuda de biólogos da Universidade de Campinas, Unicamp, o CEPEX esclareceu ataques em Vargem Grande do Sul, Sumaré, Campinas, São Roque, São Roque da Fartura, Rafard e dezenas de outras cidades do Interior do Estado de São Paulo. No rastro do chupacabras, o grupo encontrou vítimas da ação de seitas macabras, animais mortos pelo ataque de um felino chamado suçuarana, ataques feitos por cães e animais que escaparam de circos. Foram identificados também aves e patos que viraram comida de pequenos mamíferos predadores comuns nas áreas rurais. Além disso, suas pesquisas localizaram testemunhas do passeio de lobos-guarás e pessoas mal intencionadas, querendo seus quinze minutos de fama.
Um dos casos pesquisados pelo CEPEX ocorreu em São Roque, há 55 km da Capital, São Paulo. Trabalhando na plantação de alcachofra roxa, no dia 7 de outubro de 96, o proprietário do sítio Pessegueiro, Eduardo Roberto de Moraes, surpreendeu-se ao encontrar estranhas pegadas no terreno (Revista Vigília n.º 1). No Museu de História Natural da Unicamp, os pesquisadores compararam o molde da pegada com pegadas de outros animais. As marcas de São Roque eram idênticas à de uma anta.

Estatística versus sensacionalismo
“Apenas para 2% dos casos, de fato, não conseguimos uma explicação lógica. Mas não estou dizendo com isso que seja um animal estranho. Apenas não tivemos indícios do que pudesse ser”, contabiliza Eduardo Mondini, do CEPEX. Mesmo assim, ele é cauteloso e ainda não dá a questão por encerrada. “Nossas pesquisas caminham no sentido de não existir um chupa-cabras”, diz.

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A estatística é acertada “dentro dos recursos que estes pesquisadores dispõem”, avalia o biologista Hertz Figueiredo Santos, do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Hertz foi quem deu o alerta para acabar com uma das histórias mais exploradas pela televisão brasileira, que ficou conhecida como ‘chupa-cabras do Gugu’.
Exibido no dia 22 de junho, com reportagem do jornalista Saulo Gomes, o programa Domingo Legal, apresentado por Gugu Liberato no SBT, alcançou 29 pontos de audiência mostrando o que aparentava ser a cabeça desidratada de um animal, com parte da espinha dorsal exposta. O programa o tempo todo procurou estabelecer uma relação de semelhança entre a cabeça e as mais esquisitas e diversas descrições e desenhos de supostos chupa-cabras.
O biologista Hertz pesquisa uma das três espécies de morcego hematófago do mundo capaz de –em bandos– provocar a morte de um animal de grande porte apenas sugando seu sangue. Mesmo assim, segundo ele, a cabeça apresentada no programa não era de nenhum predador monstruoso: era de uma arraia, animal aquático que pode ser encontrado em praticamente toda a costa brasileira.
“Existem até mercados na região Norte do país onde se comercializa isso. Aquilo é corte de pescador. Se me arranjassem uma espécie daquela (Rynóptera) eu faria um material muito semelhante em uma semana”, garantiu o pesquisador. Sobre os ataques do suposto chupa-cabras, Hertz é desconfiado: “minha suspeita é de um bicho chamado homo-sapiens”, brincou. Ele lembrou também que animais como lobo-guará e alguns felinos comem determinados órgãos de suas vítimas e apreciam seu sangue. “A suçuarana é capaz de ficar muito tempo lambendo o ferimento enquanto escorrer sangue”, disse.

A lógica do cientista não difere muito da opinião do veterinário Rodrigo Teixeira, de Sorocaba, para quem o chupa-cabras do México pode ter contado com a conivência das autoridades “por causa da crise, para desviar a atenção da população”. Analisando a situação, foi parecida a tese do psicanalista Maurício Knobel, professor da Unicamp, em matéria publicada no Jornal da Tarde (São Paulo), em 18 de junho: “as pessoas acabam atribuindo os males sociais a esses seres imaginários”, comentou.

O mito que venceu fronteiras
A fama do então já chamado “fenômeno chupa-cabras” chegou ao Brasil no início de 1996, com as notícias de uma onda de ataques que estariam ocorrendo no México e nas ilhas do Caribe, desde o final de 1994. Essas regiões são o berço da hipótese de que se trataria, na verdade, de um animal extraterrestre. Até hoje, a associação entre a morte de animais em circunstâncias diversas e supostos seres de outros planetas não foi totalmente esclarecida. Segundo os ufólogos, há notícias de que em Porto Rico testemunhas teriam visto estranhos seres de atitude violenta descerem de discos-voadores.
A reportagem de Vigília tentou contato com o pesquisador porto-riquenho Jorge Martín, considerado o principal estudioso do assunto nas ilhas do Caribe. Até o fechamento desta edição, contudo, o pesquisador não havia dado retorno às solicitações via Internet.
Mas não foi apenas na América Central que a fama da suposta fera se consolidou. No sul de Miami, enquanto zoologistas e veterinários comprovam a ação de cachorros matando criações de bodes, frangos e patos, moradores de ascendência hispânica garantem ter sido o “Goatsucker”, a ‘versão traduzida’ do monstro, já comparado nos Estados Unidos à lenda do bigfoot (pé grande).
Em março de 1996, Ron Magill, diretor assistente do MetroDade Zoológico, ficou estarrecido com a atitude dos moradores de Sweetwater, em Miami, enquanto ele mostrava a todos as marcas dos dentes caninos deixadas por um cachorro em bodes supostamente vítimas do chupa-cabras. “Eles (os moradores) simplesmente não estavam escutando,” disse Magill a um jornal local.
Quanto à teoria do vampirismo, segundo ele, “ao contrário da crença popular, todos os animais estavam plenos de sangue”. Demonstrou isto em um bode morto, cortando com uma faca a artéria carótida do animal, por onde o sangue escorreu em quantidade.

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One thought on “Biólogos e ufólogos afirmam: chupa-cabras brasileiro não existe

  • Então os milhares de casos estranhos seriam atribuídos a cachorros ou pumas? Ah vá!

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