O que é o Método Científico

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Latorre
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O que é o Método Científico

Mensagem por Latorre »

O que é o método científico
por O Dono da Verdade, do Forum do Clube Cético Brasileiro

Em relação ao conhecimento, temos o sujeito (a pessoa que busca/adquire conhecimento) e o objeto (a coisa ou fenômeno da qual se quer obter conhecimento). Para que o sujeito adquira conhecimento sobre o objeto, ele usará um método, que é um conjunto de passos que ele considera necessários para se chegar ao conhecimento de determinado objeto. No caso da ciência, os sujeitos são os cientistas. Os objetos são os fatos ou fenômenos que eles pretendem conhecer, como as leis e fenômenos naturais e sociais. E o método é o método científico.
Vemos então que o método não é objeto, ele é o instrumento ou ferramenta para se conhecer o objeto. Portanto ele não deve, pode ou precisa ser "verificado". Ele é o árbitro na definição do que é verdadeiro ou falso. A sua existência é inequívoca porque foi criado pelos sujeitos. Sua validade não pode ser avaliada por ele mesmo, pois se fizermos isto, estaremos usando raciocínio circular, ou seja, para usarmos o método para avaliar ele próprio, teremos de considerar já de antemão que ele éválido, senão como ele poerá validar a si próprio?
Concluímos assim que o método deverá ser validado ou justificado por outros critérios, mas, que critérios são esses?

O método científico é uma convenção.

O método científico é produto de uma convenção. Se a ciência for considerada um jogo, ele é as regras desse jogo. Vimos que o método não pode ser aplicado a si mesmo, pois seria lógica circular. Portanto outros critérios deverão ser usados para justificar e legitimar sua validade e autoridade como um árbitro capaz de diferenciar teorias científicas (empíricas) de teorias metafísicas, e dentre as teorias científicas, poder diferenciar teorias verdadeiras de teorias falsas.
O leitor pode estar se perguntando: se exigirmos que o método seja justificado por outro critério, não teremos também que exigir que este outro critério seja justificado por outro, gerando assim regressão infinita?
Bom, teoricamente sim. Mas na prática, esta regressão não acontece porque ela pára em critérios lógicos considerados válidos e não problemáticos por todos os envolvidos no processo de aquisição de conhecimentos.

Então, como o método é formulado afinal?

Inicialmente, deve ser estabelecido o objetivo do método. No caso do método científico, o objetivo estabelecido do mesmo é o de propiciar a aquisição de conhecimentos que sejam os mais verdadeiros e objetivos possíveis sobre a realidade. Por incrível que pareça, há filósofos (como Paul Feyerabend) que discordada deste objetivo. Segundo ele, o objetivo de todo o método epistemológico deveria ser "promover a felicidade da humanidade". Como é o objetivo que irá definir as regras, estas são formuladas para que se permita e viabilize o alcance o mais próximo possível da objetividade de conhecimentos. Mas como?
A abordadagem lógica para que se chegue à objetividade seria então eliminar o máximo possível todas as coisas ou fatores que comprometam esta objetividade, ou seja, ser proibido o uso de certas formas de se buscar comhecimento que notoriamente afetam a objetividade e ser estabelecido a obrigação de certas formas de se buscar conhecimento que eliminem ou minimizem os fatores subjetivos na avaliação das hipóteses. Então, quais são os fatores que comprometem a objetividade na busca de conhecimentos? Bom, são muitos e variados. Um exemplo são as diferentes formas de percepções que variam de indivíduo a indivíduo, os preconceitos, ideologias, crenças, vontades, necessidades psicológicas, valores culturais e outras idéias pré-concebidas que notoriamente podem comprometer a avaliação e apreciação das teorias, fazendo com que as mesmas não sejam condizentes com a realidade objetiva. Então, como saber se determinado fenômeno ou teoria é objetivo, ou seja, é independente destes fatores subjetivos supracitados?
Bom, criamos então a regra de que toda idéia deva ser independentemente testável por qualquer pessoa. Dessa forma, se um fenômeno ou teoria se mantiver o mesmo, independentemente de quem estiver testando, conclui-se que tal fenômeno ou teoria é objetivo, ou seja, não está atrelado aos fatores subjetivos por mim já citados.

O racionalismo crítico.

Assim, formula-se regras conforme quais fatores comprometedores da objetividade se deseje eliminar.
Complementando o que eu disse no primeiro texto, quem avalia a ciência e formula as regras metodológicas para a mesma não é a própria ciência, mas a filosofia da ciência ou epistemologia. O filósofo Karl Popper conseguiu no século passado sintetizar todas as regras que permitam que a ciência alcance conhecimentos os mais objetivos possíveis e que garantam o progresso do conhecimento científico em uma filosofia simples chamada racionalismo crítico. O pilar fundamental dessa filosofia é a atitude crítica, ou seja, ela defende que quanto mais formularmos teorias e quanto mais estas mesmas teorias formuladas sejam criticadas e testadas de forma impiedosa pelo maior número possível de pessoas, mais temos chance de descobrir os erros e falsidades, e quanto mais descobrimos os erros e falsidades, mais próximos da verdade chegamos e mais áreas,fenômenos e objetos novos são incorporados ao nosso conhecimento, fazendo-o progredir e se ampliar.

Questões éticas.

Mas, mesmo com todas as razões lógicas apontadas, é obrigado seguirmos um determinado método? Em particular, estamos obrigados a seguir o método científico?
Suponha que alguém diga que, mesmo com todos os motivos espostos, ela diga que não está interessada em seguir o método, que o mesmo não deve ser "imposto" mesmo com tais razões apontadas, que ela "acha" que as regras apontadas não são obrigatórias ou necessárias para se conseguir um conhecimento verdadeiro(sem apontar o porquê ou propor outras) ou que simplesmente não está interessada no objetivo das mesmas, que é adquirir conhecimento objetivo. Aí então entram as questões éticas. Se não houver regras racionais que todos sigam visando um conhecimento objetivo, e se tudo for permitido na busca de conhecimento, então como serão resolvidas as disputas e como será a avaliação e a escolha entre diferentes teorias? A História mostra que quando não resta alternativas, ou quando não há regras ou árbitros nas disputas, atitudes irracionais, dogmáticas, e por fim a força bruta acabam sendo os determinantes das disputas.

Fonte: Clube Cético Brasileiro
NÃO HÁ DEUS. NEM DESTINO. NEM LIMITE.Imagem SEM FÉ, SOU LIVRE.
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