"Não aprendemos nada nos últimos 12 mil anos"

Estaríamos sendo visitados por EBEIs desde os tempos mais primórdios? Este setor é dedicado à discussão de supostos vestígios ufológicos nos registros mais primitivos (desenhos, construções e escrituras).

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flasht
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"Não aprendemos nada nos últimos 12 mil anos"

Mensagem por flasht »

O nascimento do Homem


A princípio, os antropólogos liderados pelo professor Timothy White não perceberam muita diferença no crânio. Ele estava em fragmentos, disperso pelo solo etíope, e só muito lentamente, pincelada após pincelada, cada um de seus pedaços foi retirado. Em 1997 – faz dez anos ano que vem. No laboratório, o quebra-cabeça montado, o crânio de um homem adulto antigo, muito antigo, chamou atenção.

É que ele era grande.

O volume do cérebro, maior do que o nosso. Tinha um palato mais largo, também. Visto de cima, era um crânio mais comprido. Que bicho estranho era ele e, no entanto, tão parecido conosco. Não era um macaco. Quando chegaram os resultados da datação ficou claro quem era o sujeito que víamos pela primeira vez. Tinha 160 mil anos. O homem moderno mais antigo já encontrado tem uns 130 mil. O que White e seu time encontraram era um Homo sapiens, sim, mas não um de nós. Nosso antepassado imediato: Homo sapiens idaltu – o Homem sábio mais antigo, numa tradução literal de seu nome.

Amanhã é Natal, o dia em que a tradição cristã celebra o nascimento de Jesus Cristo e que representa, num nível mais simbólico – e essa é a visão de muitos teólogos –, o nascimento de todos nós. Mas quem somos nós? Ou talvez, perguntando de forma mais precisa, por que somos assim tão diferentes dos outros à nossa volta? Por que fazemos arte? Por que cometemos genocídio? Por que erguemos cidades, fazemos automóveis, conversamos uns com os outros, escrevemos? Por que fomos à Lua? Por que nos perguntamos essas coisas?

A ciência não responde tudo, mas arrisca aqui e ali. Há muitas maneiras de responder onde e como nasceu o homem e há tentativas de explicar por que somos diferentes. Uma delas é dizendo que, na verdade, não somos assim tão diferentes quanto gostaríamos de achar.

Fato é que entre o último Homo sapiens idaltu e o primeiro Homo sapiens sapiens, o primeiro de nós, não houve nenhuma grande revolução. Éramos o que somos hoje, por certo: pegue um homem de há 130 mil anos, faça sua barba, vista-o e ninguém em lugar nenhum vai considerá-lo mais ou menos diferente. Um sujeito como qualquer outro. Mas ele não olhava para o céu à noite, mirando as estrelas, e se perguntava de onde viemos. Se esse primeiro de nós olhasse ao redor, na savana da África, sequer se consideraria particularmente diferente dos outros bichos.

Éramos um bicho como os outros. Tínhamos algumas ferramentas, é verdade. Mas o Homo habilis, sua cabeça miúda, do alto de seu metro e trinta, já tinha ferramentas mais ou menos parecidas, pedras lascadas, há 2,5 milhões de anos. Ao que tudo indica, o Homo erectus, o primeiro macaco a ficar de pé, já controlava o fogo há 1 milhão de anos.

Por volta de quatro milhões de anos atrás, surgiram dois ramos de primatas: um veio a dar nos gorilas, o outro em nós e nos chimpanzés. Uma nova divisão nos separou de nossos parentes mais próximos. O Australopithecus viveu por uns 2 milhões de anos e evoluiu por cinco subespécies conhecidas. É da última que veio o primeiro humano – ou, pelo rigor científico, o primeiro bicho do genus Homo.

Era o Homo habilis, que tem esse nome porque, bem, era hábil, usava ferramentas. Habilis foi descoberto em 1964 por Louis Leakey. Os Leakeys são uma das mais importantes famílias de paleoantropólogos. Ele, sua mulher Mary, seu filho Richard fizeram algumas das mais importantes descobertas do século passado e formaram gente como Tim White – o descobridor do primeiro Homo sapiens.

Mas Habilis era um macaco curvado que foi seguido pelo Homo ergaster e daí para o Erectus. É um pulo de 1,5 milhão de anos entre o primeiro Homo e aquele que ficou em pé. Milhão e meio e mais meio metro: tinha 1,80 m o Erectus. Mas o que parecia mesmo era um chimpanzé em pé.

Se os fósseis nos são generosos e apresentam cada passo dado na evolução até sermos quem somos, o mesmo não é verdade para gorilas e chimpanzés. Nós vivíamos na savana, uma terra seca que permite a conservação das ossadas; eles viviam, como ainda vivem, na floresta tropical, onde o que é matéria orgânica apodrece e volta para o sustento do ecossistema. Então não sabemos que caminhos separaram tanto nossos primos de nós.

E se por um acaso a aparência é de que a evolução segue uma linha reta, como diz o velho ditado português, é diferente: ela vai certa por linhas tortas e espécies pais convivem com espécies filhas, ramos diversos interagem. Hoje, somos os únicos humanos que existem; do genus Homo, só nós. Mas durante grande parte de nossa existência isso não foi verdade.

O Homo rhodesiensis estava vivo há 120 mil anos, até que um dia desapareceu. O Homo neanderthalensis esteve entre nós até quase nada atrás, 30 mil anos. Aí sumiu. Há quem sugira que éramos tão próximos que de repente aquele tipão mais forte de traços brutos atraiu algumas de nossas moças e o Neanderthal se dissolveu em nós por filhos mestiços. Mas o mais provável é que um híbrido, se tiver conseguido nascer, tenha sido estéril. A questão está em aberto – fato é que ele desapareceu. A memória que deixou está provavelmente nas lendas dos ogros que ainda persistem na Europa onde viveu o Neanderthal, entre Alemanha, França, Espanha e Portugal.

Passaram-se 10, 20, 30 – 80 mil anos do Homo sapiens sapiens na face da Terra, e ele continuava o mesmo bicho nu com suas pedras lascadas. Um homem nu como o Esteves de Fernando Pessoa: sem metafísica.

Entre o nascimento oficial de Jesus e hoje são 2.006 anos. De lá para cá, descobrimos a bússola, a pólvora, cruzamos e colonizamos o mundo, pintamos a Mona Lisa e Guernica, matamos numa década e meia 16 milhões de nós, escrevemos o Hamlet, mandamos uma cadelinha, um chimpanzé, pés de feijão e uma penca de nós mesmos para além da atmosfera.

E nos nossos primeiros 80 mil anos não fizemos quase nada que o Habilis e o Erectus já não fizesse.

Só que aí, 50 mil anos atrás, aconteceu repentinamente. Passamos a costurar e fazer roupas, fizemos arcos para lançar flechas, pintamos nas cavernas. Houve um salto. Buscamos nos fósseis anteriores e posteriores e não há diferença no bicho homem. O crânio é igualzinho, cabe lá um cérebro do mesmo tamanho; as mãos têm os mesmos dedos, pés e pernas, a mesma firmeza. São os ossos do mesmo bicho. Mas esse bicho tinha adquirido uma miríade de talentos. Foi iluminado.

Esse grande salto para a frente, como chamam alguns dos estudiosos, é mais sutil, até. Busque nos sítios conhecidos do Homo erectus espalhados pela Ásia ou pela África, e suas ferramentas serão sempre as mesmas; faça a mesma busca nos sítios do Neanderthal, nosso contemporâneo, e suas ferramentas serão as mesmas, não importa onde. Conosco, a partir de 50 mil anos atrás, não. Aqui estão uns botões, ali uns anzóis com um feitio específico, acolá pontas de flecha com um entalhe. Junto com a cultura, nasceu também a diferença cultural.

Por quê? Não sabemos. Uma das possibilidades é a de que nossa linguagem tenha se sofisticado. Talvez alguma mudança em nosso aparelho vocal tenha permitido uma quantidade maior de sons que foi dar na estruturação de línguas complexas. Quando você pode explicar uma coisa direito, começa a comunicar; quando a comunicação é precisa, há troca de idéias; dois ou mais discutindo um problema encontram melhores soluções. Nasce a tecnologia. E, como as cordas vocais apodrecem, quaisquer diferenças nos passam despercebidas. Só o que sobram são os ossos.

Dos botões e anzóis, vieram as rodas, então a agricultura, a pecuária, como era preciso controlar estoque veio a matemática e a escrita, como havia o dono do bicho veio daí o empregado. A história tocou seu caminho para fazer de nós diferentes entre os outros.

E, no entanto, nos enganamos. Em 1977, Robert Seyfarth e Dorothy Cheney começaram a estudar os macacos vervets africanos, uns bichos brancos de cara preta com longas pernas e braços. Gravando seus grunhidos e os reproduzindo, o casal descobriu que vervets tinham língua. Tinham grito para leopardo à vista e grito para águia chegando, um vocabulário razoavelmente extenso. Gorilas na floresta foram descritos, já, produzindo ruídos parados por horas até que, perante um som específico, todos se levantam e rumam para uma mesma direção.

Certamente não têm uma linguagem tão sofisticada quanto a nossa, mas outros primatas falam uns com os outros.

Nos anos 80, antropólogos foram surpreendidos, na África, ao assistir uma guerra aberta entre dois clãs de chimpanzés, lembra o professor Jared Diamond. Um dos clãs, ao longo de dois anos, exterminou outro perante cientistas incrédulos. Sem qualquer razão aparente. Xenofobia, dentadas e pauladas. A diferença é que não dominam a tecnologia da câmara de gás.

Algumas formigas cultivam fungos como cultivamos plantas e tratam certos insetos como gado. Pássaros constroem casas, algumas bem sofisticadas. Elefantes desenham na areia, macacos pintam. Talvez não tenham a mesma intenção de comunicar que nós temos ao produzir arte, mas aquilo que nos faz únicos vai ficando pouco.

Aconteceu apenas, no fim, de num determinado momento ficarmos um pouquinho diferentes. E essa pequena diferença permitiu que um bando de Homo sapiens, que inicialmente não devia consistir de mais que cento e poucos mil indivíduos na África, se espalhassem pelo mundo. Criamos tanto, desde então. Mas não somos tão diferentes. Compare-se o DNA e somos mais próximos dos dois tipos de chimpanzé do que um rato é de um camundongo.

Aliás, gente como o professor Diamond ou os paleoantropólogos Chris Stringer e Peter Andrews sugerem que, se formos rígidos cientificamente, as diferenças entre nós, o chimpanzé pigmeu e o chimpanzé comum são tão pequenas que devíamos estar no mesmo genus. Eles são Homo, também. E nós, o terceiro chimpanzé. Um bicho entre muitos, assim meio metido por conta da metafísica.

Pouco após a Segunda Guerra Mundial, Pablo Picasso estava visitando algumas das cavernas pintadas que existem entre Espanha e França. São algumas das pinturas rupestres mais impressionantes que existem: belos bois, cavalos, bichos parecidos com búfalos – são pinturas realistas e, no entanto, econômicas nos traços. Usam predominantemente vermelho e preto. Têm volume. Parecem incrivelmente modernas e, no entanto, são anteriores à escrita, à agricultura, a toda história conhecida.

"Meu Deus", disse Picasso. "Nós não aprendemos nada nos últimos 12 mil anos."

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