Internautas em busca de ETs

A exobiologia é a ciência que estuda a vida extraterrestre, desde o tipo mais simples. Quais seriam os locais mais propícios para esta ocorrência? Quais os pré-requisitos?

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Internautas em busca de ETs

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Internautas em busca de ETs
Físico brasileiro está construindo em sua casa a primeira estação do País para rastrear sinais de extraterrestres


Valquíria Rey
Da equipe do Correio Com El Pais, de Madri
Publicado no Correio Braziliense de 01/09/99




O físico Claudio é um dos dois brasileiros que fazem parte do grupo que busca sinais de extraterrestres

São Paulo — Um milhão de pessoas de 200 países estão empenhadas em uma descoberta científica considerada obra de ficção científica até alguns anos — o contato com vida inteligente fora da Terra. A colaboração mundial é coordenada por uma equipe de radioastrônomos da Universidade de Berkeley (Estados Unidos).

Esse esforço integra o projeto SETI — sigla em inglês para Busca de Inteligência Extraterrestre — mantido há 40 anos por dezenas de grupos e equipes de vários países. Liderado pelos cientistas de Berkeley e abandonado em 1993 pela estadunidense Nasa, a única agência espacial a apoiá-lo, o programa fez, em maio, um pedido de ajuda internacional. E recebeu uma resposta acima das expectativas.

No que consiste essa colaboração multifacetada? Simplesmente, em emprestar memória informática. Os colaboradores instalam um pequeno programa em seus computadores — que processam então dados repassados pelo grupo de Berkeley por meio da Internet.

Entre os apaixonados rastreadores de sinais de vida inteligente extraterrestre está o físico paulista Claudio Brasil. Fascinado por astronomia desde os 15 anos, conheceu o projeto SETI em 1981, quando ainda estava na faculdade, e assistiu à primeira palestra sobre o assunto. O interesse foi imediato.


ESTAÇÃO

Mais do que fazer parte da rede de milhares de internautas voluntários que acessam o SETI@home em todo o mundo, Claudio está montando uma estação de captação de sinais em sua casa, no Butantã, na zona oeste da capital paulista. Com 37 anos, ele é um dos dois representantes brasileiros da SETI League.

Segundo Claudio, aqueles que integram a SETI League e construíram suas estações terão condições de receber sinais sem depender da antena do radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico. Mas, para serem considerados aceitáveis, esses sinais deverão ser captados por pelo menos duas dessas estações.

‘‘Quero trabalhar no SETI de todas as formas possíveis’’, afirma o físico com mestrado em Tecnologia Nuclear, que há três anos é o coordenador para o Brasil dessa organização. ‘‘Com o SETI@home, todo mundo pode participar. É uma idéia interessante, mas não definitiva. Com a SETI League também tenho a oportunidade de pesquisar.’’

A SETI League pretende construir uma rede de cinco mil antenas rastreadoras de sinais, com diâmetros variando de três a cinco metros, no prazo máximo de cinco anos. Até o momento, apenas 60 estão em operação. Com duas mil, o sistema já tem condições de funcionar.

A primeira estação brasileira está sendo construída na casa do físico paulistano, onde já está instalada uma antena parabólica comum de recepção de satélites, de três metros. Batizada de Estação Rastreadora Giordano Bruno — em homenagem ao monge dominicano que morreu na fogueira em Roma, em 1600, por defender a existência de vida em outros planetas —, deverá ficar pronta em março do próximo ano.

Claudio ainda não ouviu nenhum sinal vindo do cosmo emitido por um ET. Mas não desanima. ‘‘Tenho certeza que é questão de tempo para recebermos sinais de existência de vida inteligente fora da Terra. Precisamos pesquisar mais e esperar.’’

No pequeno escritório de 2,5 metros quadrados, em meio a centenas de livros, Claudio pretende finalizar a sala de controle da estação. Ali, já estão instalados dois computadores. Num deles, acessa o SETI@home, o canal de comunicação caçador de ETs. O outro, aguarda pela construção do sistema SETI League. É nesse lugar que ele prepara um livro em português sobre as buscas do SETI. Também finaliza a quarta edição de um jornal sobre o assunto. Em duas semanas, deverá estar à disposição na Internet.

O físico está mais preocupado com o desenvolvimento do trabalho da SETI League, mas reconhece que o SETI@home tem feito relativo sucesso entre os internautas brasileiros. Muitos estão reunidos numa entidade chamada Brasil, depois de participar de grupos de trabalho criados pelo SETI@home para verificar quem consegue processar o maior número de dados.

Segundo a revista Ufo, publicação dedicada ao estudo dos extraterrestres, o Brasil ocupa a 19ª colocação no ranking internacional de grupos do projeto. Enquanto nação participante, o Brasil está em 24º lugar. (Colaborou Andrei Soares)

Como participar da caçada
O internauta que quiser participar da busca por sinais extraterrestres deve acessar a página oficial do SETI@home (http://setiathome.ssl.berkeley.edu/), de onde poderá importar (download) o programa necessário para seu computador. Uma vez instalado o programa, a organização SETI@home enviará uma unidade de dados para ser analisada pelo computador do afiliado. Trata-se de um trabalho de 15 horas realizado nos momentos em que o computador está aberto, mas ocioso. Não é preciso estar ligado à Internet nesses momentos.
Uma vez concluída a análise, é preciso remeter o resultado. Dependendo da escolha do próprio afiliado, o programa — na forma de um protetor de telas — se liga à Internet automaticamente ou mediante a ordem do usuário. São necessários uns cinco minutos para enviar a resposta, período durante o qual o SETI aproveita para retransmitir outra ‘‘unidade de trabalho’’ para reiniciar o processo. Se a análise não chegar num determinado prazo, os técnicos da Universidade de Berkeley consideram o afiliado como afastado do projeto e envia seus dados a outro.


Página de Claudio Brasil:

http://www.astroseti.hpg.ig.com.br/
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Eq Pegasus: sinal alienígena ou uma fraude elaborada?
Entrevista concedida para a revista eletrônica Vigília


Membro da Seti League no Brasil comenta Eq Pegasus

A Revista Vigília entrevistou com exclusividade o coordenador regional da Seti League para o Brasil, Cláudio Brasil Leitão Júnior. Físico, com pós graduação em tecnologia nuclear, há 20 anos dedica-se à astronomia como amador, realizando pesquisas na área de planetas, Brasil comentou as informações acerca do suposto sinal proveniente de Eq Pegasus. Ele também falou sobre o sinal SETI mais curioso já captado, o sinal apelidado de "WOW" (uma referência à anotação feita pelo seu descobridor), até hoje não foi desvendado.

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WOW: Sinal forte e até hoje não esclarecido

Revista Vigília: Recentemente, em algumas listas de discussão na Internet, houve rumores de um possível sinal SETI captado por um membro da SETI League. A nota saiu, em dezembro, inclusive no Fantástico, sem mais esclarecimentos. No entanto, não localizamos informação alguma, em nenhum site relacionado ao tema. O dado procede?

Brasil: Não. Nenhum sinal candidato foi captado esse ano por um membro da SETI League. O único sinal captado até o momento por uma de nossas estações foi detectado em 1 de dezembro de 1996, por Daniel Fox, na freqüência de 1420.0015 MHz. Porém ele não foi confirmado (ou seja, captado por outras estações) e um dos princípios da pesquisa SETI é que sinais não confirmados não provam nada.

Revista Vigília: O interessante é que a veiculação da notícia coincidiu (pelo menos aqui no Brasil) com outra história muito estranha. A nota saiu no dia 6 de dezembro, um domingo. Entre os dias 6 e 7, algumas organizações ufológicas esperavam um "evento ufológico" de proporções mundiais. Notadamente a organização norte-americana CAUS (Citizens Against UFO Secrecy), seguindo indicações do pesquisador Richard Hoagland, defendia que poderia ocorrer um pouso de uma nave ET (sic!) no Arizona, nos arredores de Phoenix. O fato estaria de alguma forma conectado com a polêmica de um suposto sinal SETI captado na direção do sistema Eq Pegasus por um inicialmente não identificado pesquisador Britânico, que desenvolveria uma pesquisa SETI parasita utilizando uma antena de telecomunicações da empresa para a qual trabalha.

Brasil: Em minha opinião, o que você relatou aqui não passa de folclore. Infelizmente, com a aproximação de um novo milênio, surgem as mais incríveis histórias sobre fim do mundo e similares. Basta lembrar o episódio do suicídio em massa e a suposta nave na cauda do cometa Hale Bopp em 97. Certamente a CAUS se aproveitou da agitação causada pela divulgação do suposto sinal.

Revista Vigília: Assim, gostaria de saber a sua opinião sobre os fatos relatados na página de Richard Hoagland, da Enterprise Mission.

Brasil: Este Enterprise Mission é um site repleto de histórias fantásticas, sem comprovação e sem fontes precisas. É muito difícil acreditar em algo assim. Tudo isso não passa de folclore. Os boatos sobre EQ Pegasus começaram através de um e-mail colocado numa lista fechada da SETI League. Alguém, se aproveitando da informação do sinal candidato que foi captado pelo Projeto Phoenix, e que se descobriu tratar de interferência de origem terrestre, lançou na rede a informação de que um astrônomo amador inglês, que não quis se identificar, havia captado um sinal de EQ Pegasus. A estória já começa estranha desse ponto, pois uma descoberta dessa importância não poderia ficar no anonimato. Outro ponto é que tudo isso ocorreu pouco depois do Projeto Phoenix ter divulgado na Internet a interferência captada em setembro. Além disso, tentativas por parte de membros da SETI League de detectar o suposto sinal tiveram resultados negativos, assim como muitas outras tentativas realizadas com antenas de maior porte. Análises dos espectros do suposto sinal evidenciaram que as imagens foram alteradas com utilização de recursos de "copy" e "paste". A fraude chegou a tal ponto do anônimo astrônomo ter divulgado que o sinal havia sido confirmado pelo radiotelescópio de 100 m do Instituto Max Planck, informação que foi imediatamente negada pelo Dr. Rolf Schwartz, desse instituto. Embora tenha sido amplamente divulgada pela imprensa em muitas partes do mundo, o sinal de EQ Pegasus não passou de fraude.

Revista Vigília: Será correta a interpretação de que o sinal original captado por Arecibo em setembro tratava-se de satélite?

Brasil: Ao se captar um sinal candidato, a primeira providência a ser tomada verificar se o mesmo provém de alguma interferência terrestre. Para isso, desloca-se a antena para longe da fonte. Se o sinal estiver vindo realmente do espaço, ao se fazer isso não se detecta mais nada. Porém se continuarmos continuar captando o sinal mesmo com a antena fora da posição original, porque o mesmo é de origem terrestre. E foi isso que ocorreu ao se verificar o sinal. Provavelmente foi mesmo um sinal de satélite.

Revista Vigília: O que é exatamente a SETI League? O Instituto SETI e o Projeto Phoenix mantém algum tipo de intercâmbio oficial com a SETI League?

Brasil: A SETI League é uma entidade amadora, sem fins lucrativos, fundada em 1995 com o objetivo de montar um sistema de 5.000 antenas parabólicas comuns de recepção de satélites de forma a se obter uma cobertura total do céu e em tempo integral na pesquisa por vida inteligente extraterrestre. A utilização de antenas parabólicas comuns e o relativo baixo custo das estações permitem que as mesmas sejam construídos por cidadãos comuns, radioamadores ou entusiastas da pesquisa SETI. Atualmente somos cerca de 700 membros e 63 estações operacionais no mundo todo e uma em construção no Brasil. O Projeto Phoenix não tem um intercâmbio oficial com a SETI League, porém reconhece e apoia nosso trabalho. Embora o objetivo seja o mesmo, os dois projetos tem uma forma diferente de trabalho. Enquanto o Projeto Phoenix se utiliza de um pequeno número de radiotelescópios grandes fazendo escuta de determinadas estrelas-alvo (target survey) o Projeto Argus, da SETI League, trabalha com um número maior de antenas menores (de 3 a 5 metros de diâmetro) rastreando todo o céu, sem se fixar em estrelas-alvo. Esse procedimento é denominado "all sky survey".

Revista Vigília: Por quais fases passa o tratamento de um sinal captado no sistema SETI antes de ser confirmado?

Brasil: Assim que se detecta um sinal candidato, a primeira providência é checar se o mesmo não é uma interferência de origem terrestre. Para isso desloca-se a antena para longe da fonte para verificar se o sinal deixa de ser recebido. É necessário se verificar também se o sinal acompanha o movimento da esfera celeste, fato que garante que o mesmo seja proveniente do espaço. Confirmando-se que o sinal não é de origem terrestre, é feito um comunicado aos demais centros de pesquisa de modo que eles tentem captar e confirmar o sinal. No caso da SETI League, isto é feito por e-mail enviado ao quartel general da liga, situado em Little Ferry, nos Estados Unidos. O sinal s reconhecido se for captado por mais alguma estação.

Revista Vigília: Em sua opinião, histórias como a de Eq Pegasi prejudicam a pesquisa SETI?

Brasil: Sim, porque a grande população, geralmente mal informada, fica com impressões erradas acerca de nosso trabalho. Sem contar a mobilização mundial que foi feita para verificar o suposto sinal. E a pesquisa SETI muito séria, realizada sob rígidos padrões científicos e regidas por protocolos internacionais, como o que protege a freqüência de 1420 MHz ( proibido usar essa freqüência para transmissões), e os que regem a conduta do cientista diante de um sinal candidato.

Revista Vigília: O tema é interessante também porque nos permite explicar melhor o como é o trabalho sério dos cientistas que fazem pesquisas SETI no mundo todo. E muita gente não sabe que até no Brasil se faz isso. O que é preciso para se montar uma pesquisa SETI amadora?

Brasil: Para se montar uma estação SETI é necessário uma antena parabólica com diâmetro de 3 a 5 metros, um pré-amplificador (o sinal coletado pela antena muito fraco), um receptor que trabalhe na faixa de 1420 MHz (microondas) e um computador com placa de som e software adequado para coleta e processamento dos sinais. A maior parte dos equipamentos deve ser importada. O equipamento mais difícil de se obter é o receptor de microondas, que custa cerca de 2.000 dólares nos EUA. Mas existem alternativas para esse receptor, desenvolvidas pela própria Liga. É indispensável filiar-se à SETI League, pois esta entidade fornece todo suporte de hardware e software, além de testar e desenvolver equipamentos e definir padrões que devem ser seguidos na montagem da estação. O custo da estação varia de R$ 3.000 a R$ 5.000 (sem contar impostos de importação), dependendo dos equipamentos que se escolha.

Revista Vigília: Consultando páginas sobre SETI, descobrimos que certa vez foi captado um sinal que ficou conhecido como WOW. O que foi esse sinal?

Brasil: O sinal Wow! é o mais famoso sinal candidato que se tem conhecimento até hoje. Porém, infelizmente, não foi confirmado. Foi captado em 15 de agosto de 1977 pelo radiotelescópio Big Ear, da Universidade de Ohio, EUA. O sinal era tão forte que ao examinar a listagem do computador do radio- observatório, o Dr. Jerry Ehman, autor da descoberta, escreveu na margem do papel a expressão "Wow!", sendo que o sinal ficou conhecido com esse nome. Este sinal estava 6 db acima do ruído de fundo e possuía características de um sinal de origem inteligente extraterrestre: era de banda estreita e parecia acompanhar o movimento das estrelas (um sinal de um satélite teria um movimento mais rápido que as estrelas no céu). Muitos estudos foram realizados e foram descartadas diversas possibilidades do sinal ser devido a um corpo celeste do nosso sistema solar, um de nossos satélites artificiais ou sondas espaciais. A sua origem permanece inexplicada até hoje. O sinal "Wow!" é ainda uma questão aberta para todos os cientistas.
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