Um telegrama para MARTE

A exobiologia é a ciência que estuda a vida extraterrestre, desde o tipo mais simples. Quais seriam os locais mais propícios para esta ocorrência? Quais os pré-requisitos?

Moderadores: Euzébio, Alexandre, Britan, Cavaleiro, hsette, eDDy, Moderadores

Euzébio
Gerente
Mensagens: 3982
Registrado em: 29 Nov 2003, 07:15
Localização: Guarulhos - SP

Um telegrama para MARTE

Mensagem por Euzébio »

Um telegrama para MARTE
Edgar Smaniotto*

Nenhum tema é mais controverso para os amantes da astronomia do que a existência de vida extraterrestre. Poucos debates nesta área não levam a defesas apaixonadas e conflitos quase irreparáveis entre “Pluralistas” e “Singularistas”. Os “singularistas” sustentam a singularidade humana no universo próximo, seriamos então a única vida inteligente tecnológica atualmente existente na nossa galáxia. Os “pluralistas”, ao contrário, defendem a multiplicidade de mundos habitados por seres inteligentes.

Conseqüentemente, seriam inúmeras as sociedades técnicas comunicativas, evoluídas em planetas pertencentes a estrelas semelhantes ao Sol. Ao definir ambas as posições, Barcelos não se furta a apresentar-se como um pluralista, mas apresenta de forma totalmente imparcial as teses singularistas. Seu livro é um relato apaixonado, bem escrito e sobretudo consistente do que promete ser a maior busca da história humana, a busca por vida e, sobretudo por inteligências em outros mundos.

Esta é uma obra que tem um enfoque histórico, na verdade seu autor era doutor em história social pela Universidade de São Paulo, pesquisador associado do Ministério da Ciência e Tecnologia, assessor da Agência Espacial Brasileira e professor do Departamento de Estudos Sociais das Faculdades Integradas UPIS. Digo era, pois ele veio a falecer em um acidente automobilístico em Brasília, em 22 de agosto de 2003, na mesma tarde em que morreram seus 21 colegas e amigos da Base de Lançamento de Alcântara.

O autor faz um relato minucioso dos esforços de astrônomos e biólogos, na Europa, Estados Unidos e Rússia, que desde o início da década de 1960, vêm se envolvendo com a pesquisa das possibilidades de existência de formas de vida e inteligência extraterrestre. Utilizando-se de espaçonaves automáticas para a busca in loco de vida no Sistema Solar e radiotelescópios para a detecção de transmissões de rádio de civilizações tecnológicas próximas.

Estes cientistas que se denominam exobiólogos, trazem para o interior das ciências naturais um tema novo e instigante. Entretanto a exobiologia, por ainda não ter demonstrado a existência de seu objeto de estudo, sofre constante criticas por parte da comunidade cientifica mais tradicional, aspecto este também analisado na obra de Barcelos. Para ele a revisão da literatura exobiológica permite verificar que os raciocínios utilizados, em múltiplos casos, não se diferenciam daqueles comumente encontrados na vida cotidiana.

Para acatar ou rejeitar a SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), os cientistas afastam-se das normas da neutralidade, impessoalidade, objetividade, etc., expondo suas idiossincrasias particulares. Uma das partes mais interessantes do livro é a exposição da classificação das civilizações cósmicas, pelo critério dos níveis de demandas energéticas, pelo astrofísico soviético Nicolai Kardashev. As civilizações de Kardashev são classificadas em três níveis distintos. A primeira queimaria petróleo (nós); a segunda utilizaria energia estelar e, a terceira, demandaria a energia galáctica. Estas leis gerais do desenvolvimento das sociedades, terrestres e extraterrestres, são fruto da junção da filosofia marxista, conjugada com a análise exobiológica. Originando assim a chamada exossociologia.

O físico britânico Freeman Dyson também compartilhou dessa classificação das Civilizações Cósmicas por níveis de energia. Tais civilizações, vivendo em planetas em torno de uma estrela, teriam tecnologia suficiente para obter energia estelar. Estas civilizações poderiam construir uma gigantesca concha esférica, produto da reagregação de um planeta, capaz de absorver a energia solar. Assim certas civilizações poderiam construir biosferas artificiais ao redor de suas estrelas. Para estes dois cientistas a expansão para o espaço exterior configura-se como um estágio na história das sociedades tecnológicas, quaisquer que sejam suas biologias e psicologias.

Este é apenas um dos vários pontos polêmicos desta obra, que claro, também aborda o problema da ufologia. Em suma temos a melhor exposição feita da referida temática já escrita ou publicada em língua portuguesa. Quem se interessa pelo tema, com certeza encontrará novas informações. Aquele que pouco se interessa por exobiologia, tenho certeza, nunca mais ficará indiferente após ler este livro. Barcelos no meu ponto de vista escrevia tão bem como Sagan, infelizmente não veremos mais obras suas. A ciência brasileira saiu perdendo tanto na pesquisa pura, quanto na divulgação científica com sua morte prematura. Minhas condolências a família, e boa leitura!


BARCELOS, Eduardo Dorneles. Telegramas para Marte: a busca científica de vida e inteligência extraterrestre. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

*Edgar Indalecio Smaniotto é filósofo e cientista social (mestrando), pela UNESP de Marília. Astrônomo amador e escritor de Ficção Cientifica publicou recentemente o conto: Parasitas (In: Perry Rhodan. Belo Horizonte: SSPG, 2004. V. 21), edição brasileira de livros alemães. Blog: http://edgarfilosofo.blog.uol.com.br

Fonte: http://www.revistamacrocosmo.com
Ad Honorem Extraterrestris