A eleição dos exoplanetas.

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A eleição dos exoplanetas.

Mensagem por Alexandre »

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Por Salvador Nogueira
14/07/14 04:10

Você por acaso está entre os que acham os nomes dados aos planetas fora do Sistema Solar chatos e difíceis de memorizar? Falta empatia e malemolência à nomenclatura? Impossível se entusiasmar com mundos com esses nomes? Seus problemas acabaram! A União Astronômica Internacional (IAU) fará uma votação pública para definir nomes populares oficiais para 305 exoplanetas descobertos entre 1995 e 2008.

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Este não é um lugar bonito demais para ser chamado por uma sequência insossa de letras e números?

Quer tomar parte? Há duas formas possíveis de participação. Clubes de astronomia e organizações sem fins lucrativos poderão se inscrever e sugerir nomes para os mundos “disponíveis”. Depois, os nomes serão submetidos a uma votação pública, e aí qualquer um inscrito no processo poderá participar. Tudo isso acontecerá por meio do site http://www.nameexoworlds.org. A eleição em si acontecerá em março de 2015, e os resultados serão anunciados em agosto.

E não pense você que será puro oba-oba. Haverá regras. Os nomes sugeridos não poderão ter mais de 16 caracteres, precisam ser pronunciáveis (em alguma língua), de preferência serem uma palavra só e não podem ser similares a nomes de objetos astronômicos já oficialmente batizados. Além disso, não vale sugerir nomes de animais de estimação, marcas ou nomes de natureza comercial (incluindo aqueles presentes em obras da ficção sob proteção de direitos autorais) ou ainda indivíduos, lugares ou eventos conhecidos por atividades religiosas, militares ou políticas. (E lá se vai o planeta Lula…)

Nomes de pessoas vivas também estão automaticamente desclassificados.

Por fim, qualquer organização que quiser sugerir nomes para exoplanetas terá de buscar o apoio dos descobridores dos ditos cujos. Ou seja, apesar do engajamento com o público, o procedimento vai seguir todas as regras caretas (e justas!) adotadas pela União Astronômica Internacional para o estabelecimento de nomenclatura.

POR QUALQUER OUTRO NOME

Acho bacana aproveitar o fascínio que os exoplanetas exercem sobre os humanos para engajá-los ainda mais na astronomia, e vejo com bons olhos a IAU calçando as sandálias da humildade e permitindo ao público participar do processo.

Contudo, será que faz sentido sair batizando toneladas de exoplanetas só pelo prazer de lhes dar nomes? Até o momentos, eles já são mais de 1.800, e a contagem só vai aumentar nos próximos anos.

Falem o que quiserem sobre a nomenclatura atual, mas ela é funcional. Ela indica, de uma vez só, em torno de qual estrela o planeta orbita, a ordem de descobrimento e o fato de fazer ou não parte de um sistema estelar múltiplo.

Exemplo: 16 Cygni B b. 16 Cygni é o nome da estrela. O “B” maiúsculo indica que estamos falando da segunda maior estrela de um sistema múltiplo (no caso em questão, trinário, sendo que as estrelas A e B são similares ao Sol, do tipo G, e a estrela C é bem menor, uma anã vermelha, tipo M). E o “b” indica que é o primeiro planeta descoberto em torno da estrela em questão (a letra “a” não é usada, como se fosse indicativa do astro principal, e os planetas são sempre contados a partir de “b”).

Outro: HD 183263 c. HD 183263 é o nome da estrela. A falta de letra maiúscula indica que o astro é solitário, a exemplo do Sol. A letra “c” indica que é o segundo planeta a ser descoberto em torno dela.

Os nomes das estrelas em si vêm dos catálogos que as listaram individualmente. O catálogo do telescópio espacial Kepler, por exemplo, segue o padrão “Kepler-Número” para designar uma estrela. O do satélite europeu CoRoT, a mesma coisa: “CoRoT-Número”. E temos outros catálogos, como o HD, o Gliese e o HIP, em formato similar “sigla número”.

Então, se por um lado os nomes não são tão facilmente memorizáveis, eles têm uma lógica que contém informação e referência. Os astrônomos jamais confundirão um planeta com outro pela nomenclatura atual. E a própria IAU aponta que os nomes científicos continuarão a ser esses, que os pesquisadores têm usado desde a descoberta do primeiro exoplaneta a orbitar uma estrela similar ao Sol, o 51 Pegasi b, em 1995.

A questão é: adicionar nomes populares a esses mundos todos, principalmente para uso midiático, agrega valor ao camarote?

A LÓGICA DOS NOMES

Acho, francamente, que a iniciativa é prematura. A verdade é que sabemos muito pouco sobre esses planetas para dar nomes significativos a eles. Os nomes dos planetas do Sistema Solar, derivados da mitologia romana, tinham uma simbologia própria. Mercúrio, sempre aparecendo próximo ao Sol e com deslocamento célere pelo céu, naturalmente se identificava com o deus-mensageiro romano. Vênus, esplendorosa em seu brilho, evocava naturalmente a deusa do amor. Marte, avermelhado, era a perfeita representação do deus da guerra. Júpiter, o maior deles, o deus dos deuses. Saturno, o mais vagaroso, como o deus do tempo.

Ao batizar exoplanetas sobre os quais quase nada sabemos, esvaziamos o próprio sentido do batismo. Note que até mesmo mundos cuja existência é ainda disputada (como Gliese 581 d) figuram da lista inicial.

Ainda se houvesse uma regra clara que norteasse a nomenclatura popular dos exoplanetas, essa iniciativa podia funcionar. A IAU até vai cobrar uma justificativa razoável por parte dos proponentes de nomes para planetas. Ainda assim, nenhum critério unificador norteará todas as escolhas, o que pode tornar tudo uma grande — e confusa — brincadeira.

A ideia, segundo os astrônomos responsáveis, é que os nomes populares oficiais dos exoplanetas, com essa multiplicidade de regras de batismo, reflitam a diversidade cultural da própria Terra. Mas não sei não. Tomara que seja só um pessimismo besta da minha parte e o processo de proposição e posterior votação produza resultados inspirados. E você, o que acha?
A ausência da evidência não significa evidência da ausência.
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