fbpx
Artigos

Ufologia – Onde a ciência falhou

Compartilhe:

Uma das mais frustrantes atitudes dentro dos círculos científicos é ter de esperar que um outro grupo/instituição/país estude adequadamente um problema quando não se conta com verba suficiente para se fazer isso por conta própria. Tal coisa aconteceu com a pesquisa sobre OVNIs: quem melhor aparelhado e com mais dinheiro à disposição do que o governo do Estados Unidos para enfrentar esta incógnita? Infelizmente, esta delegação de responsabilidades veio a ter um dos mais funestos resultados para a ciência nos últimos tempos. Eles (os americanos) não só não fizeram direito o trabalho esperado, como influenciaram de tal maneira a opinião pública que até hoje cientistas não querem se envolver com a ufologia.

----publicidade----

A história de avistamentos de OVNIs na América começou ao redor de 1896. Centenas de pessoas através de todo os Estados Unidos relataram ver objetos semelhantes a um “dirigível”. Aparelhos aéreos alongados, em formato de charuto, alguns com asas ou hélices, foram vistos pairando tranquilamente sobre diversos estados. E isto foi antes dos irmãos de Wright reclamarem a primazia do vôo do primeiro vôo de avião, antes dos primeiros “mais-pesado-do que-ar” que efetivamente voaram, quando os zeppelins ainda estavam sendo idealizados na Alemanha.

Cientistas da época, embora competissem para descobrir o segredo de voar, não deram muita atenção a esta onda de avistamentos, e por boa razão: depois de algum tempo, um número enorme deles provou ser brincadeiras, interpretações erradas de fenômenos regulares, ou maneiras de aumentar o turismo de algumas cidades pequenas. Houve até mesmo alguns espertalhões que conseguiram garantir uma boa quantia em seus bolsos prometendo passeios na aeronave a ingênuos entusiastas. Talvez a única ciência que deveria ter sido aplicada no estudo desta onda fosse a sociologia… tivemos aí um exemplo do histeria coletiva.

Havia uma crença comum aos americanos daquela época, a de que em algum canto remoto do país algum inventor desconhecido estava construindo um aparelho que permitiria ao homem se deslocar pelo ar, que depois de pronta seria apresentada aos olhos do mundo. De certa forma foi exatamente isso que aconteceu, segundo a versão americana da história da aviação: dois fabricantes de bicicletas de Ohio, os Wright, construíram o primeiro avião americano funcional. Assim que esta “teoria do inventor solitário” se implantou firmemente nas mentes da população americana, as pessoas começaram “a ver” OVNIs. Ocasionalmente até se encontraram com seu inventor, que ficou conhecido com o nome de Wilson. Wilson nunca existiu mas é um original pedaço da mitologia americana produzida por imaginações super ativas.

----publicidade---- Loja do Portal Vigília - Estampas exclusivas para quem veste a camisa da Ufologia

A primeira onda de avistamentos “modernos” de OVNIs começou em 1947 e envolveu eventualmente cientistas de várias especialidades. Começou com Kenneth Arnold, um piloto que avistou objetos que voavam em formação de V sobre o Meio-Oeste e relatou seu avistamento publicamente. A Força Aérea ininciou uma investigação e o fato deu início à Era Moderna dos OVNIs.

Para provar que o caminho para conhecer a verdade pode fazer inúmeras curvas e se perder num desvio, devemos falar do papel peculiar que Força Aérea americana teve nas investigações de OVNIs até o início da década de 70. Os militares estavam realmente convictos de que as pessoas estavam relatando armas secretas soviéticas, de modo que se atiraram às investigações com grande ardor, mas pouca eficiência.

Com aumento do interesse público, num processo de retroalimentação, as histórias de avistamentos foram aumentando até 1952. A esta altura, o Pentágono estava de tal modo atolado em relatos de OVNIs que as comunicações militares foram interrompidas. Depois da onda de 1952, a Força Aérea se deu conta de quão perigosos os OVNIs eram. Embora não tivessem nenhuma prova que eram super-armas soviéticas, apenas a existência do fenômeno poderia ser usada como uma grande ferramenta de propaganda pelos russos. O mundo estava empenhado na Guerra Fria e tudo era pensado em termos de ataque e defesa, segurança nacional, infiltrações e estratégias do inimigo. A histeria causada pelo desconhecido podia ser usada contra o sagrado “american way of life”, algo que precisava ser defendido de qualquer modo. Para tanto, as providências tomada pela Força Aérea foi classificar todas suas investigações sobre OVNIs, tentando, ao mesmo tempo, desacreditar publicamente as testemunhas de tais eventos ou os explicar com algum fenômeno natural, mesmo que pouca relação tivesse com os fatos. Sua esperança era de que o interesse pelos OVNIS morreria e não daria aos soviéticos nenhuma arma psicológica sobre a imaginação do povo americano.

----publicidade----

Aconteceu justamento o oposto. Donald Keyhoe, um ex-major da marinha, começou a se interessar pelo assunto e fundou o Comitê Nacional para Investigação de Fenômenos Aéreos (National Investigation Committee on Aerial Phenomena – NICAP). Ele acreditava que a Força Aérea estava tentando esconder o fato que OVNIs eram naves espaciais de outros planetas, e não que estivesse tentando prevenir a histeria maciça que poderia irromper sob um ataque soviético. O NICAP, que teve em sua primeira lista de diretores um grupo de pessoas de destaque em diversos setores, incluindo diversos oficiais do exército e um almirante naval, começou uma campanha junto aos congressistas por audiências. A Força Aérea ficou receosa de que as audiências poderiam demonstrar sua incompetência ou aguçar ainda mais o interesse público e, consequentemente, criar outras “ondas” de avistamentos, e trabalhou fervorosamente contra isso. O Projeto Sign, a investigação original sobre OVNIs pela USAF, transformou-se no Projeto Grudge, que se transformou no Projeto Blue Book e, foi pouco mais do que um movimento de relações públicas da Força Aérea para assegurar às pessoas que investigava o assunto e fazer o interesse diminuir.

Na metade dos anos cinquenta, “contatados” (pessoas que alegavam ter entrado em contato com a tripulação de naves espaciais alienígenas) começaram a aparecer. No geral o esquema dos contatados pode ser explicado assim: Seres geralmente muito bons e evoluídos vem até a Terra e entram em contato com poucas e selecionadas pessoas, quase sempre sem testemunhas, quando então transmitem mensagens de importância cósmica. Os contatos entre o seres e os eleitos se repetem e as mensagens recebidas são transmitidas à seguidores crédulos e sem muito espírito crítico, o que termina por gerar um movimento de culto aos seres alienígenas e transformando os contatados nos líderes óbvios da seita. Creio que é bem razoável dizer que muitas dessas pessoas apresentavam alguma desordem mental, de um tipo ou de outro. Outros, eram apenas aproveitadores. E foram estas pessoas que transformaram as investigações sobre OVNIs em um circo de cinco picadeiros. Mas mesmo aqui, cientistas tinham uma possibilidade de aprender: Um psicólogo ou um sociólogo poderia se dedicar anos de estudo ao tipo especial de insanidade ou cupidez destas criaturas.

Mas a grande tragédia foi que, durante este período, a ciência voltou-se contra si mesma.

----publicidade----

Antes dos cultos que foram criados em torno dos contatados, a teoria que prevalecia na comunidade científica era que os OVNIs eram algum tipo de fenômeno natural ainda não documentado: padrões estranhos e raros de meteorologia, truques óticos exóticos sendo jogados aos olhos dos desavisados, etc. A maioria concordava que que a idéia de OVNIs como naves espaciais aliens era divertida mas pouco plausível. Quando o culto dos contatados apareceu e os OVNIs começaram a ser associados automaticamente a seres extraterrestres, os cientistas prontamente resolveram manter distância daqueles doidos, abandonando completamente um campo de pesquisa promissor. Nada pior do que ser alvo de zombarias. O ridículo que cobria qualquer suspeito, mesmo que fosse apenas de se interessar em OVNIs, era tão destrutivo à vida e à reputação quanto ser acusado de ser um comunista durante o tempos da guerra fria. Quando o Dr. James McDonald atestou ao congresso que o uso do transporte supersônico (SST) diminuiria a camada de ozônio e causaria 10.000 novos casos de cancer da pele nos EUA a cada ano, o senador Ted Kennedy o atacou por ter se tornano uma referência em ufologia. Foi ridicularizado no congresso, apesar do fato que suas alegações sobre o SST tivessem embasamento científico. Pouco tempo mais tarde, com sua carreira em decadência, ele se suicidou. A luta de McDonald por uma investigação ufológica realmente científica é um capítulo à parte e suas revisões dos procedimentos da USAF são considerados modelares.

A única pessoa a se salvar dessa fogueira de reputações foi J. Allen Hynek. Astrofísico bem-considerado, começou a ajudar a USAF a investigar alegações os OVNIs já em 1947. Era um homem tão cauteloso e metódico que levou 20 anos para expôr suas opiniões e declarar que a força aérea realmente não investigava as coisas corretamente, e que havia motivos e espaço para um estudo científico sério. No final, Hynek estava certo. OVNIs certamente não são superarmas soviéticas, mesmo porque os avistamentos continuaram após a queda do comunismo na Rússia, para não mencionar que os russos, por sua vez, pensaram que o OVNIs que avistavam eram algum tipo de arma secreta americana – atitude simétrica ao inimigo ideológico.

Uma parcela grande dos avistamentos de OVNIs é certamente devida à erros de identificação de balões climáticos, de aviões ou do brilho de planetas, de estrelas ou de outros fenômenos astronômicos ou meteriológicos. Uma parcela maior cai certamente sob a categoria de alucinações, de produtos de mentes doentes, e de fraudes. Entretanto, há ainda um grande número casos que permanecem insolúveis e não-investigados (O Projeto Blue Book classificou 20% dos casos que relatou como “Não Identificado” e o Relatório Condon deixou inexplicado mais de um terço dos casos que pesquisou). Infelizmente, estes casos foram deixados nas mãos de investigadores esparsos, sem condições financeiras e/ou teóricas de os pesquisar adequadamente.

Ninguém é melhor preparado para investigar OVNIs do que os cientistas, e, como um todo, nenhum grupo negligenciou tanto a sua vocação natural, a de desvendar os mistérios do mundo físico, como os cientistas o fazem ao se recusar a tratar deste assunto em uma investigação imparcial. Os cientistas estão perdendo a oportunidade de explorar o inexplicado, possivelmente descobrindo fenômenos meteorológicos novos, novos fenômenos químicos ou biológicos ou, no mínimo, uma compreensão melhor do funcionamento e esquisitices da mente humana.
A autora deste artigo o escreveu originalmente para a Burn – Brazilian UFO Network (http://www.burn.com.br). Ele é reproduzido pelo Portal/Revista Vigília com sua autorização.

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

As esferas voadoras na história da Ufologia Aviões e óvnis O que caiu em Caieiras na noite de 13 de junho de 2022? Extraterrestres: é a ciência quem diz! As etapas da pressão sobre o governo dos EUA em relação aos óvnis/UAP
×