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Os Arquivos X do Ministério da Defesa Britânico

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No fim de 2007, o Ministério da Defesa britânico comprometeu-se a liberar todos os seus arquivos de OVNIs. Em 14 de maio de 2008 o Arquivos Nacionais liberou o primeiro lote de arquivos, levando a cobertura da mídia a nível mundial, incluindo artigos no New York Times e cobertura no CNN News. Em 20 de outubro de 2008, o Arquivos Nacionais liberou o segundo lote de arquivos, gerando novamente a cobertura da mídia mundial, incluindo uma reportagem de destaque no Nightline da ABC News. Eu costumava trabalhar no Ministério da Defesa sobre estes arquivos e embora eu tenha deixado o serviço público em 2006, tenho assistido ao Arquivos Nacionais no processo de liberação ao revisar os arquivos, selecionando casos de potencial interesse para os meios de comunicação e agindo como alguém para quem eles podem encaminhar os jornalistas que queiram discuti-los. Vou descrever os antecedentes para esta liberação e explicar como a decisão de 2007 do governo francês de liberar seus arquivos OVNI foi um dos fatores principais na decisão britânica, como o foi o fato de o Ministério da Defesa receber mais pedidos de Liberdade de Informação (FOI) sobre OVNIs do que qualquer outro tema. Darei então informações detalhadas sobre os arquivos, explicando quanto material há, o que se compreende e o que foi o cronograma para a total divulgação. Discutirei também o nível de classificação envolvida e as várias isenções de FOI que significam que certas informações não serão liberadas. Finalmente, vou selecionar alguns casos entre os mais recentemente liberados e discutir as maiores implicações desta liberação.

Introdução

Eu trabalhei para o Ministério da Defesa na Grã-Bretanha durante 3 anos e eu operei seu projeto OVNI. Minha função era investigar os avistamentos de OVNIs relatados ao governo britânico, procurando indícios de qualquer ameaça em potencial, ou qualquer coisa que pudesse ser julgada como um “motivo para defesa”. Em 2007, o governo francês liberou seus arquivos OVNI e isto foi cercado por muitos rumores que diziam que o governo britânico estava próximo a fazer o mesmo. Este processo agora começou e está sendo comentado extensivamente nos meios de comunicação e na comunidade ufológica. No entanto, a situação é mais complexa do que se supõe e algo do que se tem escrito foi mal interpretado ou está errado. Assim sendo, vou esclarecer a situação, explicar o que já aconteceu, o que está acontecendo agora e o que as pessoas podem esperar para ver em desenvolvimentos futuros.

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Os Decretos de Registros Públicos

Antes que o Decreto Britânico de Liberdade de Informação entrasse totalmente em vigor em 2005, os Decretos de Registros Públicos fixaram as regras de acesso aos arquivos públicos. O aspecto mais conhecido destes decretos foi o assim chamado Regra dos 30 Anos, o qual fez consideravelmente mais do que o esperado e significou que a maioria dos arquivos não seriam abertos até 30 anos após o mais recente documento. Alguns arquivos mais sensíveis foram retidos por mais tempo, enquanto alguns nunca seriam liberados. A ‘posição padrão’, por assim dizer, não era a liberação. Era uma cultura totalmente diferente, e quando me juntei ao Ministério, em 1985, ele era uma organização isolada com uma interface limitada entre ele o público e entre ele e os meios de comunicação. O Departamento que eu deixei em 2006, após uma carreira de 21 anos, era praticamente irreconhecível da organização que eu encontrei mais de duas décadas atrás.

1967

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Houve uma grande onda de avistamentos de OVNIs no Reino Unido em 1967 (e também nos EUA e em outros lugares) e o tema gozou de extensiva cobertura dos meios de comunicação. Também havia muito interesse do Parlamento e uma das principais decisões em relação aos documentos sobre OVNIs do Ministério da Defesa foi tomada naquele ano. Os ministros da defesa concordaram que em vista do interesse público/histórico, todos os arquivos OVNI seriam mantidos permanentemente e seria considerada uma eventual liberação. Antes disso, os arquivos sobre o assunto têm sido revisados cinco anos após o fechamento e podem ser ou destruídos, enviados às divisões de gerenciamento de registros do ministério ou enviados ao Gabinete de Registros Públicos (agora renomeado Arquivos Nacionais). O que isto significou foi que antes de 1967, poucos arquivos OVNIs sobreviveram a este processo e com poucas exceções, os arquivos OVNIs dos anos cinqüenta e início dos anos sessenta foram destruídos. Não havia nada de sinistro sobre isto e decisões como esta eram tomadas o tempo todo para uma série de outros assuntos. Foi um negócio subjetivo e funcionava assim: a equipe administrativa me trazia os arquivos e eu tinha que decidir se autorizava a destruição, a retenção permanente ou uma nova revisão. Eu nunca autorizei a destruição de um arquivo OVNI e, seguindo as regras de 1967, ninguém o faria.

Liberdade de Informação

A introdução do Decreto de Liberdade de Informação (promulgado em novembro de 2000 e colocado em vigor em janeiro de 2005) efetivamente reverteu a posição padrão e a presunção atual é que a informação deve ser liberada, a menos que alguma das exceções formais se aplique. Fui treinado para tal e lidei eu mesmo com os pedidos de Liberdade de Informação (FOI – do inglês Freedom of Information), portanto tenho em primeira mão conhecimento sobre isto. Os ufologistas usaram extensivamente desta lei (e do Código de Práticas em Acesso às Informações Governamentais, que precedeu à FOI mas que tentou aplicar alguns de seus princípios) e pesquisadores como Georgina Bruni e Timothy Good têm conseguido alguns êxitos destacados. O arquivo do incidente de Rendlesham Forest e sobre o incidente Cosford, o “Flying Saucer Working Party and Project Condign” (um estudo altamente classificado sobre OVNIs feito pelo Grupo de Inteligência de Defesa e realizado por um empreiteiro da defesa) foram todos obtidos usando-se ou o Código ou a FOI. Todos estes arquivos e outros mais estão agora disponíveis no website do ministério, www.mod.uk. Clique na seção “Freedom of Information” e procure o “Publication Scheme” e o “Disclosure Log”, através de palavras-chave como UFO e UAP e estará tudo ali, ao lado de documentos e arquivos num vasto leque de outras disciplinas, incluindo fascinantes estudos de 2001 feitos pelo ministério através do estudo de observações remotas.

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FOI ou Investigação?

O ministério recebe mais pedidos FOI relativos a OVNIs do que sobre qualquer outro assunto, incluindo a guerra do Iraque ou Afeganistão. O setor onde trabalhei está agora tão ocupado lidando dos pedidos FOI que isto está tomando precedência pra além da pesquisa e investigação que foram feitas em meus dias. Poucos avistamentos de OVNIs são atualmente investigados em qualquer senso significativo da palavra e a maioria dos avistamentos suscita um pouco mais de interesse do que uma carta normal. Um caso importante como o avistamento de Ray Bowyer sobre Channel Islands em 23 de abril de 2007 será ao menos investigado, mas não muito mais do que já tenha sido previamente investigado. A análise da documentação deste caso preencheu 9 páginas. Compare-o com processos importantes anteriores, como o de Rendlesham Forest ou o Incidente Cosford, onde os processos ocupam mais de 100 páginas de documentação. As investigações estão sofrendo por causa da carga de trabalho a ser colocada em pauta devido à FOI, mas a FOI está sendo prioridade porque se não forem cumpridas as obrigações, o ministério estará infringindo a lei.

Divulgação

Em 2007, a carga de trabalho envolvida na questão dos pedidos FOI foi se tornando insuportável e sei que as equipes de funcionários estavam ficando cada vez mais frustradas. Assim sendo, por causa da carga administrativa envolvida na resposta aos pedidos FOI relacionados aos OVNIs numa base de caso a caso, o ministério decidiu liberar rapidamente seus arquivos sobre OVNIs. Como mencionado antes, o governo francês o fez em 2007 (e o servidor dedicado travou devido ao volume de visitas de cerca de 220.000 usuários tentando acessar o material no dia da liberação), e este foi outro motivo para a liberação, como era esperado que o movimento ajudaria a desfazer as acusações de que o ministério encobria a verdade sobre os OVNIs. Com efeito, ambos, o ministério e o Arquivos Nacionais, esperavam que esta fosse uma boa notícia sobre um governo aberto e sobre a liberdade de informação. O ministério confirmou-me que em dezembro de 2007 a decisão final tinha sido devidamente tomada e eu divulguei a história na mídia.

Os Detalhes

Há cerca de 160 arquivos ao todo, abrangendo relatórios de avistamentos, correspondência pública, arquivos de orientação política e arquivos detalhando como o ministério trata do assunto quando discutido no parlamento e na mídia. O ministério decidiu não liberar o material todo de uma só vez, principalmente por causa da carga administrativa de redigir os arquivos, isto é, suprimir qualquer informação coberta pelas várias exceções à FOI, assegurando que informações classificadas e os dados pessoais não seriam liberados. Nomes, endereços e outros dados pessoais relativos às testemunhas e aos funcionários têm de ser removidos, para se conformar ao Decreto de Liberdade de Ação e à Lei de Proteção de Dados. Outras isenções abrangem categorias tais como a defesa e a segurança nacional e o tipo de informação que está sendo retida inclue informações classificadas, tais como a capacidade dos sistemas militares de radar, informação confidencial passada ao Reino Unido pelos aliados, informação comercialmente sensível e a informação que, se divulgada, revelaria fontes ou métodos de espionagem. É um trabalho enorme: o ministério recebeu mais de 11.000 relatórios sobre OVNIs até agora e os arquivos dos principais incidentes podem gerar mais de 100 páginas da documentação. O processo inteiro é susceptível de levar 3 a 4 anos.

Os Arquivos com Amianto

Enquanto a maioria dos arquivos são os da secretaria que tem o comando político e investigativo sobre os OVNIs (esta é a divisão onde eu trabalhei) 24 arquivos OVNI do Grupo de Inteligência da Defesa (DIS – do inglês Defence Intelligence Staff) estão sendo igualmente liberados. O DIS forneceu aconselhamento e assistência de especialistas a várias áreas relacionadas às investigações específicas. Estes 24 processos faziam parte de um lote de mil diversos arquivos do DIS que tinham sido contaminados por amianto. Inicialmente, temia-se que eles teriam de ser destruídos. Os historiadores estavam indignados e os teóricos da conspiração desconfiaram. Mas, ao custo em torno de 3 mil libras, todos os arquivos já foram descontaminados e digitalizados em CD-ROMs. Muitos pesquisadores de OVNIs fizeram a requisição através do Decreto de Liberdade de Informação relativa a estes arquivos, assim o material já pode ser considerado para a liberação da forma habitual.

O que há nos Arquivos com Amianto?

Os 24 arquivos cobrem o período de 1975 a 1999 e abrangem um vasto leque de materiais, incluindo a política e as investigações. Muitos dos avistamentos de OVNIs detalhados são triviais, mas há alguns mais interessantes, incluindo avistamentos por pilotos civis e militares e os corroborados por evidências de radar. E obviamente o período coberto significa que haverá documentos sobre a floresta de Rendlesham, o incidente de Cosford e o Projeto Condign. Alguns dos documentos são originais, mas muitos são cópias de documentos da secretaria de arquivos. Isto é porque os arquivos OVNI do DIS espelham os da divisão da secretaria responsável por ajustar a política e liderar as investigações, porque o secretariado e o DIS estavam cuidando dos mesmos casos e correspondiam um com o outro sobre eles. Alguns documentos que eu escrevi estão entre os arquivos e alguns são os que foram escritos para mim. Os breves detalhes destes 24 arquivos estão disponíveis no website do ministério, no registro da divulgação (Disclosure Log). Uma busca na frase “DIS UFO Incident Files”; e surgirá a informação.

O Primeiro Lote

O primeiro lote de arquivos foi liberado em 14 de maio de 2008. Ele abrangeu o período de 1978 a 1987. Haviam 8 arquivos neste primeiro lote, o que levou a alguns equívocos quando muita gente pensou que haviam somente 8 casos individuais. De fato, a maioria dos arquivos eram relatórios de avistamentos e cada arquivo continha várias centenas de páginas de documentação, consistindo principalmente de resumos de uma ou duas páginas de avistamentos individuais: os dados brutos, por assim dizer, gravados num formato padrão pela pessoa que recebeu o relatório OVNI. No total, portanto, havia milhares de páginas de documentação nestes 8 arquivos, detalhando várias centenas de avistamentos. A maioria dos casos tinha explicações triviais e foram claramente confusões geradas por objetos e fenômenos ordinários, principalmente faróis de aviões, satélites e meteoros. Mas alguns eram mais difíceis de explicar, inclusive nos casos onde as testemunhas eram pilotos e agentes policiais, junto com os casos onde os OVNIs tinham sido acompanhados pelo radar. Houve igualmente alguns casos mais despreocupados, que eram quase certamente embustes ou casos onde algum objeto havia sido arremessado com as mãos. Alguns dos incidentes mais interessantes incluídos:

26 de abril de 1984: Membros do público relatam um OVNI em Stanmore. Dois agentes de polícia assistem à cena, testemunham a nave e a esboçam.

13 de outubro de 1984: um OVNI em forma de disco é visto a partir de Waterloo Bridge, em Londres, por inúmeras testemunhas.

11 de setembro de 1985: 2 OVNIs monitorados num sistema militar de radares percorrem 185,2 km (10 milhas náuticas) em 12 segundos.

4 de setembro de 1986: um OVNI passa a estimados 3 km (1,5 milhas náuticas) do lado da porta lateral de um avião comercial.

A liberação fez notícia ao redor do mundo e dentro de alguns meses o material tinha sido baixado cerca de 2 milhões de vezes. O Arquivos Nacionais considerou-o como um presente de seus eventos pró-ativos mais bem sucedidos de todos os tempos.

O Segundo Lote

Um segundo lote de arquivos OVNIs do Ministério da Defesa foi liberado em 20 de outubro de 2008 e está agora disponível no Arquivos Nacionais. Há 19 processos, muitos dos quais contêm várias centenas de documentos individuais. Os arquivos datam de 1986 a 1992 e incluem portanto casos da minha contribuição ao Projeto UFO do ministério (1991 a 1994). É fascinante ver outra vez estes arquivos – é uma verdadeira excursão ao passado. Assim como aconteceu com o primeiro lote, a maioria dos avistamentos de OVNIs nestes arquivos recentemente liberados podem ser explicada como identificação de objetos ou de fenômenos ordinários, com cerca de 5% mais difíceis de se explicar. Os casos que mais me deixaram preocupado foram aqueles que quase envolveram acidentes entre OVNIs e aviões comerciais. Há diversos desses casos nestes arquivos, além de mais avistamentos de agentes policiais e mais casos onde os OVNIs foram monitorados pelo radar. Eu fiz um circuito convenientemente constante de entrevistas para a TV e emissoras de rádio, aparecendo na maioria dos noticiários da TV (incluindo vários shows na América como o Nightline da ABC News) e em outros shows como o GMTV, o Alan Titchmarsh Show e o Newsround, assim como shows radiofônicos prestigiosos tais como o programa Today da Radio 4 e o The World Today da BBC World Service. Eu apareci duas vezes neste último show, uma vez dando uma entrevista convencional e a segunda vez lendo uma história de ficção científica que me pediram para escrever, baseada nos arquivos, onde os ouvintes foram convidados a continuá-la. O fato desta cobertura extensiva da mídia ser resultado não somente da primeira liberação mas também da segunda, ilustra o encanto que este assunto causa à mídia. A liberação britânica dos arquivos está ajudando a mover o fenômeno OVNI da marginalidade para dentro da tendência atual.

Contatos Imediatos sobre Kent

Um dos casos mais interessantes do segundo lote de arquivos ocorreu em 21 de abril de 1991. Eu me lembro muito bem deste incidente e de fato estive envolvido na investigação oficial. Fomos informados pela Autoridade de Aviação Civil (CAA) – o equivalente britânico do FAA – que quase tinha ocorrido um acidente envolvendo um avião comercial. O avião era um Al Italia MD-80 com 57 passageiros a bordo. Estava a uma altura de cerca de 22.000 pés sobre Kent, perto de Lydd, quando um objeto marrom, em forma de charuto, passou tão próximo ao avião que o piloto gritou: “Cuidado, cuidado!”. No decurso normal dos eventos, o acidente evitado seria investigado pelo CAA. Entretanto, a maioria dos incidentes desta natureza envolvem outras aeronaves, e como a tripulação não foi capaz de identificar o objeto, foi tratado como um incidente OVNI e transmitido da CAA ao ministério. Nós lançamos uma investigação completa e eliminamos todas as possibilidades habituais, incluindo balões metereológicos, aeronaves militares, etc. Nós até verificamos se havia sido lançado acidentalmente um míssil de algum tipo. Não concluímos nada e o incidente permanece sem explicação até hoje. Este incidente causou um efeito profundo em mim, porque eu percebi que um avião comercial por muito pouco não explode no céu sobre o Reino Unido. Isto mostrou que o que quer que se acredite sobre OVNIs, o fenômeno levanta questões importantes sobre a defesa e a segurança aéreas. Entretanto, algumas pessoas no ministério e no CAA não trataram o incidente tão seriamente quanto eu, simplesmente por causa de sua reação automática ao ouvir a palavra “OVNI”. Isto estava me incomodando profundamente e me convenceu que eu devia fazer todos os esforços para assegurar que todos os incidentes OVNI fossem minuciosamente investigados, de uma forma científica apropriada. Igualmente me convenceu de que eu deveria esforçar-me para assegurar que o assunto fosse levado mais a sério dentro do governo, das forças armadas e da área de inteligência.

Milton Torres

Um outro caso do segundo lote que eu debati em minhas várias entrevistas foi o de Milton Torres, um piloto da Força Aérea dos Estados Unidos que declarou que em 20 de maio de 1957 (na verdade, a data é objeto de controvérsia) ele recebeu ordens de abrir fogo contra um OVNI que estava sendo monitorado pelo radar. Ele estava baseado na base aérea Manston da RAF, em Kent, e subiu para interceptar um OVNI que havia sido monitorado sobre Kent. Ele afirma que poucos segundo após disparar uma salva de 24 foguetes o OVNI acelerou a uma velocidade em torno de Mach 10 (12.240 km/h). Torres afirmou que logo após fora advertido a permanecer calado sobre o incidente e somente o mencionou anos mais tarde, em uma reunião. Enquanto Torres gravava várias entrevistas para a mídia, após a liberação dos documentos dos arquivos do ministério, a maioria das pessoas não percebeu que o relato nos arquivos do ministério não é uma declaração oficial da U.S.A.F. ou do ministério. É a transcrição de uma entrevista com Torres, realizada anos após o evento e enviada ao ministério por um ufologista. O ufologista especulou então que o incidente fazia parte de algum teste secreto, que era claramente falso, porque tais testes seriam conduzidos em espaço aéreo restrito sobre o mar. Nem precisa dizer, ninguém realiza testes que envolvem o potencial de armas ao vivo sobre o Reino Unido! Torres é claramente um homem digno, recordando uma difícil missão potencialmente ameaçadora. Mas eu sugiro aos ufologistas seguirem no encalço do documento original se quiserem ir a fundo neste incidente. Torres não foi o único piloto que recebeu ordens de abrir fogo contra OVNIs. O General Parviz Jafari (Irã, 1976) e Comandante Huertas (Peru, 1980) foram colocados em situações semelhantes e suas histórias, em suas próprias palavras, podem ser encontradas no website da Coalition for Freedom of Information (coalizão para liberdade de informação). Verifique em www.freedomofinfo.org para mais detalhes.

Outros Destaques do Segundo Lote de Arquivos do Ministério

Há muitos outros casos fascinantes nos arquivos OVNI do ministério. Estes incluem um caso de 5 novembro de 1990 em que alguns aviões Tornado da RAF foram ultrapassados por um OVNI. Há um caso da Escócia onde uma foto espetacular de OVNI foi enviada ao ministério. Ficou na parede do meu escritório por anos, mas foi retirada por meu chefe de divisão, que se convenceu que ela mostrava o Aurora – um suposto protótipo de avião, cuja existência nunca foi confirmada. Além disso, há um arquivo que eu abri sobre abduções alienígenas e casos de contato, com uma série de cartas estranhas. Há também material sobre os círculos nas colheitas, incluindo papéis que mostram como o ministério tentou fazer com que as forças armadas parassem de sobrevoar os círculos nas colheitas e fotografá-los, pois prejudicou a linha que estávamos tentando desesperadamente empurrar naquele tempo, ou seja, que nós não estávamos interessados no fenômeno!

O Verão dos Discos

Ao mesmo tempo em que estes arquivos foram liberados, o verão de 2008 foi marcado por um enorme surto de avistamentos de OVNIs no Reino Unido e – talvez alimentado pela liberação dos arquivos do governo – um aumento na cobertura da imprensa, enquanto os jornalistas se tornaram cada vez mais conscientes de que há aqui uma história de grande interesse para um grande número de pessoas. Eu destacarei os dois casos que atraíram a maior atenção da mídia. Ambos devem ser tratados na série Caçadores de OVNIs do History Channel.

OVNI Quase Acidentado com Helicóptero da Polícia

Um encontro espetacular entre um OVNI e um helicóptero da polícia ocorreu em 8 de junho de 2008, em South Wales, sobre a base militar da RAF em St Athan, próximo ao aeroporto internacional de Cardiff. O helicóptero, com 3 tripulantes a bordo, estava para aterrisar quando quase se chocou com um OVNI. Descrito inicialmente como tendo o formato de um disco e coberto por luzes, as posteriores reportagens da mídia sugeriram que houve uma caçada, com o helicóptero perseguindo o OVNI sobre o Canal de Bristol e somente interrompendo a perseguição quando o OVNI revelou-se ser mais rápido e quando ficaram com pouco combustível. Depois que a história surgiu, em 20 de junho ela foi modificada e os policiais foram cuidadosos ao usar a frase “aeronave incomum” ao invés de OVNI. Além disso, embora confirmando o avistamento, eles negaram que uma perseguição tenha ocorrido. Talvez o aspecto mais extraordinário da história tenha sido uma citação do gabinete de imprensa do ministério, onde um porta-voz fez o seguinte comentário: “Mas certamente não é aconselhável para helicópteros da polícia perseguirem o que pensam ser OVNIs”. Tem surgido agora a notícia de que inúmeras outras pessoas na área viram o OVNI. A história gerou uma grande cobertura da mídia e inúmeros pedidos de FOIs foram feitos ao ministério e ao CAA, portanto procurem pelo desenrolar adicional desta história. Qualquer que seja a opinião sobre OVNIs, incidentes como este ilustram como o fenômeno exige sérias medidas de segurança dos vôos e de defesa nacional.

OVNIs Filmados Sobre Base Militar

A história do helicóptero da polícia foi seguida por uma história ainda mais impressionante, quando se soube que algumas horas antes do incidente do helicóptero da polícia, os soldados nos quartéis de Tern Hill, em Shropshire, viram diversos OVNIs voarem diretamente sobre suas bases. Um deles filmou os objetos em seu celular. The Sun (o jornal mais vendido no Reino Unido) publicou a história em primeira página sob o título “Exército Aponta OVNIs Sobre Shropshire”. Além disso, a investigação sobre este contato está em curso. O filme é inconclusivo e pode mesmo apenas mostrar as assim chamadas lanternas chinesas, mas a cobertura da mídia foi quase sem precedentes.

Uma Visão do Futuro

Uma vez que todos os arquivos forem liberados, a maioria dos pedidos de FOI pode simplesmente ser tratada com uma resposta padrão que encaminhe as pessoas ao Arquivos Nacionais e/ou ao website do ministério. Nesse ponto, é possível que o ministério tentará se separar por completo do assunto, como a Força Aérea dos Estados Unidos fez quando o Projeto Livro Azul foi encerrado em 1969. O descomprometimento do DIS que se seguiu ao Projeto Condign é um possível modelo e um precedente para este. Se o ministério precisará de uma nova revisão, ou simplesmente confiará no projeto Condign, está aberto ao debate. Mas algo tem que dar. Não há propósito em investigar contatos com OVNI se não o fizer corretamente. Eu escrevi certa vez um documento sobre isto para o gabinete de imprensa do ministério (depois que eu deixei o projeto OVNI mas antes de deixar o ministério), que estava tendo dificuldade em conciliar a linha pública do Directorate Air Staff de que eles “não estavam interessados” em OVNIs com o fato de eles possuírem uma linha telefônica para as pessoas relatarem os avistamentos e investigarem os avistamentos de pilotos.

Sem Provas Claras

Tanto quanto os arquivos são interessantes, não espere uma prova clara. Não há. Os arquivos não contêm nenhuma referência a naves espaciais em um hangar da Força Aérea ou corpos de alienígenas em um laboratório do governo. Nenhuma engenharia reversa, nenhuma barganha com extraterrestres e nenhuma autópsia em aliens. Se estas coisas aconteceram (e eu não tenho conhecimento de que aconteceram) eu não acredito que aconteceram no Reino Unido. Eu sou acusado de fazer parte de um acobertamento quando eu faço estas declarações, mas são verdadeiras, quer as pessoas gostem delas ou acreditem nelas ou não. Muito do material é ordinário – quando eu me juntei ao projeto OVNI cada caso parecia diferente, mas quando eu saí eles pareceram todos o mesmo. Nem tudo é incerteza, é claro, e há coisas incríveis entre a maioria do material mais rotineiro: OVNIs vistos por policiais e pilotos, OVNIs monitorados no radar, nave vista executando manobras a velocidades significativamente superiores às dos nossos mais avançados aviões militares, fotos e vídeos intrigantes, etc.

Os Limites de um Documento Relevante

Uma palavra de advertência. Documentos e arquivos não podem nunca contar toda a história. A palavra escrita tem suas limitações. Ler um livro sobre a guerra não significa que você realmente entenderá o que é estar sob fogo cruzado em uma zona de guerra. A menos que você tenha estado lá e feito isso, você só pode – na melhor das hipóteses – ter um ponto de vista de observador – um entendimento em segunda mão, por assim dizer. Acontece o mesmo no ministério. Jornalistas e membros do público que fizeram pedidos FOI relacionados com OVNIs (ou sobre qualquer assunto, para aquele tema) podem conseguir ver alguns documentos e arquivos, mas estes informam apenas uma parte da história. Os documentos e arquivos geralmente não envolvem a política, as personalidades e as intrigas. Eles não captam os debates não minutados que têm lugar todos os dias, no escritório, no corredor, na cantina ou em reuniões sociais. Pense nisso a partir de um ponto de vista pessoal. Quanto do que você faz cada dia no trabalho é anotado? Se um intruso vir a ler alguns de seus arquivos, será que realmente compreenderá todos os negócios da organização? Ufologistas que especializaram-se na investigação de documentos dão uma valiosa contribuição para o tema, mas um jornalista experiente irá dizer-lhe que somente os documentos relevantes poderão levá-lo mais longe. Em qualquer organização, mas sobretudo numa fundamentalmente sigilosa como um ministério, documentos e arquivos só podem contar uma parte da história.

Conclusão

Eu sou sempre relutante em utilizar a palavra ‘revelação’, pois em Ufologia a palavra é freqüentemente associada com o trabalho do Dr. Steven Greer, cujo Disclosure Project tornou-se algo semelhante a uma campanha política (como a palavra Exopolitics), que visa acabar com o acobertamento OVNI que muitos teóricos da conspiração acreditam. Mas eu faço uso da palavra (com letra minúscula, e não maiúscula!) porque em um sentido muito real, a revelação é justamente isso que o Ministério está a fazer em relação a documentos e arquivos. Muito já foi liberado e há mais por vir. Estes são tempos excitantes.

 

*Nick Pope é ex-funcionário do Ministério da Defesa e ativo pesquisador do Fenômeno UFO. Ele pode ser contatado em seu site: http://www.nickpope.net/

A tradução deste artigo foi feita por Ricardo Euzébio, da Equipe Vigília.

 

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