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Objetos fotografados por satélites ainda causam confusão

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Uma leitora do Portal/Revista Vigília deu o sinal de alerta: “gostaria de saber se vocês poderiam me ajudar… Tenho algumas imagens aqui e será que vocês podem me dizer o que é?”, perguntou, por e-mail. A curiosidade na redação aumentou quando, por algum problema, as imagens anexadas não abriam de forma alguma. Depois de mais algumas mensagens e tentativas de envio do anexo, finalmente chegaram as duas imagens surpreendentes. Fotos obtidas pelo satélite meteorológico GOES-8, mostrando uma imagem – aparentemente, no espectro infravermelho, e não de luz visível – que traziam, no canto inferior direito, um espetacular objeto elíptico de contornos bem definidos e até o que parecia ser uma sombra.
Numa mensagem anterior, quando a imagem ainda não tinha chegado à redação do Portal/Revista Vigília, mais algumas explicações da leitora: “quanto às imagens, não posso te dar muitos detalhes, só posso dizer que a pessoa que viu em tempo real me contatou horas depois para eu poder capturar a tal imagem… fui em vários sites para conseguir isso”, disse. Por fim, no e-mail que finalmente trouxera corretamente o anexo, uma última solicitação: “Por favor, descartem a possibilidade de ser a Lua, não pode ser”.
É claro que a redação do Portal/Revista Vigília adoraria estar diante, em primeira mão, de uma autêntica imagem de um espetacular OVNI no espaço. A julgar pelas fotos, de fato, seria um objeto enorme, extremamente nítido. Seria bom demais para ser verdade. Mas no estrito dever de checar a informação e a autenticidade das imagens, tivemos de mandar a má notícia à leitora: era mesmo a Lua.
O processo de checagem não foi fácil, o que explica porque muitas dessas imagens – que são relativamente comuns – acabam transformando-se em OVNI autênticos em mensagens propagadas nas listas de discussão por e-mail e até mesmo em publicações especializadas em Ufologia.
O primeiro passo era checar a fonte das fotografias. Há vários sites acadêmicos e governamentais nos Estados Unidos que disponibilizam imagens – com diferentes processos de captura – obtidas pela série de satélites GOES (sigla de Geostationary Operational Environmental Satellites ou, traduzindo, Satélite Operacional Ambiental Geoestacionário). Os satélites GOES, que operam como se estivessem parados em relação a um ponto fixo na Terra – daí o termo geoestacionário – são cinco, atualmente operacionais: de GOES-8 a GOES-12. Apenas dois deles, 8 e 10, funcionam utilizando plenamente suas funções. Os demais são mantidos como uma espécie de backup de ambos, para o caso de apresentarem problemas. Os anteriores já deixaram de funcionar. A responsabilidade pela operação e análise dos dados fornecidos pelos satélites está a cargo da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, em inglês), órgão do governo norte-americano. Para tanto, a NOAA mantém convênios com instituições acadêmicas e governamentais dentro e fora dos Estados Unidos.
As imagens em questão vinham do satélite GOES-8, posicionado sobre a linha do equador, na posição relativa denominada Oeste (por visualizar a porção ocidental do globo; a porção oriental é responsabilidade do GOES-10). No rodapé foi possível distinguir a sigla CIRA/NOAA-CSU. Com essa informação, foi mais prático localizar a fonte das imagens: Cooperative Institute for Research in the Atmosphere (Instituto Cooperativo para Pesquisa na Atmosfera), criado em 1980 através de uma parceria entre a NOAA e a Universidade Estadual do Colorado.
Localizar as imagens em questão demorou um pouco mais. No meio de centenas de links no site do CIRA, chegamos ao arquivo de imagens do GOES-8, que leva a milhares de fotos em formato “jpeg” obtidas em tempo real pelo satélite e arquivadas para consultas futuras. Ainda pela legenda, a indicação necessária: a data e a hora (GMT) em que as imagens foram obtidas pelo satélite: 20 de fevereiro de 2003, 20h45. Essa informação levou às duas fotos em questão: http://goes-8-rap.cira.colostate.edu/jpeg/051/2003051204513i08_fulldisk_c03.jpg e http://goes-8-rap.cira.colostate.edu/jpeg/051/2003051204513i08_fulldisk_c04.jpg. Consultando outra imagem do mesmo horário, descobrimos que são três fotos, pois o objeto também aparece na imagem localizada em http://goes-8-rap.cira.colostate.edu/jpeg/051/2003051204513i08_fulldisk_c01.jpg. A quantidade se explica porque o satélite registra três faixas do espectro diferentes, infravermelho, luz visível e uma terceira calibrada para destacar a camada de vapor de água na atmosfera terrestre.
Entre o entusiasmo e o espanto, a possibilidade de ser a Lua é a primeira hipótese que surge. Naturalmente, para um leigo no assunto, mas que procura manter o espírito crítico em alerta, junto vem uma idéia simples de testar essa hipótese: a variação de posição da Lua no mesmo horário um dia antes ou um dia depois deve ser relativamente pequena. Bingo! A história parecia promissora: o objeto desaparecia nas referidas imagens.
Contudo, há uma lógica incompleta neste teste. A variação pode parecer pequena para quem está acostumado a ver a Lua a partir da Terra, e não do ponto de vista de um satélite geoestacionário. Mesmo assim, não é raro esse argumento ser usado. Numa edição de dezembro de 2000 da prestigiosa revista espanhola “Más Allá de Lá Ciencia” (Mais Além da Ciência), outras imagens obtidas pelo GOES causavam polêmica. Entre as datas, 17 de julho de 1992, 21 de novembro de 1999, apenas para citar algumas. O autor do artigo, embora mencionasse a justificativa oficial da NOAA, do objeto ser a Lua, duvidava da história. “Deveria aparecer nas imagens do dia anterior ou do dia seguinte”, concluía a matéria, consentindo com a improvável hipótese de um UFO de proporções astronômicas ter posado, em órbita da Terra, para a espetacular foto do satélite.

Imagens confundem até especialistas

Imediatamente, o Portal/Revista Vigília tentou de toda forma contatar o staff de pesquisadores do CIRA. Dezenas de e-mails foram enviados, mas nenhum encontrou resposta.
Buscamos a ajuda de especialistas, o que acabou aumentando o mistério em torno das imagens. Para o ufólogo e ex-chefe do setor de balões meteorológicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Ricardo Varela Correa, o mais provável é que se tratasse de obra de algum hacker. No entanto, Varela acertou no ceticismo quanto à hipótese de um OVNI autêntico. “Não tem como aparecer absolutamente nada fora da foto do globo terrestre. A imagem é tratada e o contorno recortado… Impossível. Isso é coisa velha… Sempre apareceu. Se uma nave ficar na frente do satélite, não vai parecer uma nave, apenas o que o material da nave refletir… O satélite não é ótico”, arriscou.
Também consultamos o meteorologista de renome, ex-consultor do Weather Channel e entusiasta da Ufologia, Rubens Junqueira Villela. Cauteloso, limitou-se a ponderar hipóteses. “Parece bom demais para ser verdade; muito nítido o UFO (?), mas quem sabe? Ou está muito perto, ou é enorme e está longe, sobre o Atlântico Sul, e com eixo perpendicular à esfera terrestre (no sentido da gravidade)… Não conheço o procedimento de tratamento das imagens do GOES, se são retransmitidas automaticamente ou se processadas antes”, destacou.
A solução definitiva viria apenas depois de um contato, por acaso, com analista de sistemas e ufólogo Rogério Chola. Ao comentar o tema e apresentar-lhe as imagens, ele não tardou com a resposta: “Já vi imagens assim… As que vi eram do GOES 8 do lado esquerdo… Não me parece falsificação e sim a Lua”, disparou. Para demonstrar, apresentou sites de outros centros de pesquisas ligados à NOAA com imagens iguais, em datas diferentes. Um deles, da equipe de pesquisas denominada Operational Significant Event Imagery (Imageador Operacional de Eventos Significantes), que faz o tratamento de imagens – algumas vezes colorizadas – para facilitar a interpretação de eventos importantes registrados pelos satélites GOES (http://www.osei.noaa.gov/Events/Unique/Other/2001/). No referido link, todas as imagens que trazem o prefixo “UNImoon” registram exatamente o mesmo fenômeno.
“Os satélites da série GOES são geoestacionários e, assim, giram junto com a Terra. São 360 graus a cada 24 horas, ou 7,5 diâmetros de Lua a cada 15 minutos, o que explica aparecer em uma imagem e em outra não! Estes satélites orbitam a Terra, não a Lua!”, destacou o pesquisador.
A explicação de Chola contempla até mesmo o fato de a Lua aparecer em formato elíptico, ao invés de esférico. “A termografia mede a temperatura e não a luz visível e assim, as distorções aparecem”, explicou.
Outros “OVNI” em imagens de satélites

Os falsos alarmes de UFO em imagens de satélites estão se tornando cada vez mais comuns na Ufologia no mundo todo. Em 16 de abril de 1997, um erro no software (programa) de interpretação das imagens do satélite GOES-9 causou euforia na Internet. As imagens registradas pelo satélite mostravam um ponto (normalmente um ou dois pixels, muito difíceis de localizar) escuro que rapidamente foi associado à detecção de um provável UFO.
Mais uma vez, a explicação convencional não silenciou os boatos, que chegaram a associar o suposto OVNI à entrada do Norad (Sistema de Defesa do Espaço Aéreo Norte-Americano) em Defcon 4 (Condição de Defesa Nível 4 – são cinco níveis, do 1 que é a condição de Guerra, alerta máximo, ao 5, paz absoluta). Uma medida, aliás, motivada pela passagem do aniversário de um ano do atentado terrorista ocorrido em Oklahoma (veja matéria do Portal/Revista Vigília entre os links relacionados).
Outra fonte de polêmicas tem sido o satélite SOHO, destinado a observações solares. Como está apontado diretamente para o Sol, partículas de poeira, micrometeoritos próximos ao satélite, ou planetas distantes, em situações especiais, têm sua reflexão de luz intensificada, alimentando toda sorte de hipóteses por parte da comunidade ufológica internacional.
As especulações são tantas que a Agência Espacial Norte-Americana – NASA – publicou, em janeiro desse ano, uma matéria no site oficial do SOHO (http://sohowww.nascom.nasa.gov/) intitulada “How to make your own UFO” (Como fazer seu próprio UFO – http://sohowww.nascom.nasa.gov/hotshots/2003_01_17/). O texto explica como imagens de pequenos objetos, riscos de poucos pixels, depois de passarem por diversos filtros e “magnificações” de programas editores de imagens acabam se transformando em sensacionais “fotos de OVNI”, alimentando o clamor mundial de que a agência estaria escondendo informações ufológicas obtidas pelo satélite, mesmo estando as imagens disponíveis a quem quiser, pela Internet.

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