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Especialistas brasileiros afirmam: vídeo de UFO da KGB é falso

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A polêmica do suposto vídeo de resgate de UFO da KGB começou em setembro de 98. No dia 13 daquele mês, a rede norte-americana de TV por assinatura TNT exibiu um bombástico documentário. Com pouco mais de uma hora de duração, apresentado por ninguém menos que o mais famoso James Bond das telas de cinema, o ator Roger Moore, a produção exclusiva trazia cenas de um episódio que, se confirmado, seria a mais fantástica filmagem envolvendo UFOs nos últimos tempos: um resgate de destroços de um disco voador acidentado na União Soviética.

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A região de Yekatrinburg, antiga Sverdlovsk, onde teria se acidentado o UFO (Internet)
A região de Yekatrinburg, antiga Sverdlovsk, onde teria se acidentado o UFO (Internet)

Segundo a TNT (http://alt.tnt.tv/kgb/) e os documentos que ela apresentou, o filme exibido como parte do acervo da então poderosa agência de inteligência que atuava sob a cortina de ferro, a KGB, referia-se ao recolhimento dos destroços de um UFO caído na região de Yekatrinburg, antiga Sverdlovsk, na Tundra Siberiana, na cidade de Berezovsk, União Soviética. A queda teria ocorrido em novembro de 1968 e o resgate filmado em março de 1969. As imagens provocaram um verdadeiro frisson em torno do tema. Atendendo aos telefonemas dos telespectadores, a rede de TV exibiu o filme ainda outras duas vezes. Estranhamente, no entanto, até hoje, a comunidade ufológica internacional manteve silêncio em relação ao assunto. Analistas chegaram a opinar que provavelmente a cautela se deveu ao desfecho do episódio do filme de uma suposta autópsia de um ET capturado em Roswell, mostrado ao mundo pelo produtor Ray Santilli, que até hoje não conseguiu apresentar provas contundentes da veracidade das imagens que obteve.

O Portal Vigília foi a fundo na investigação e consultou especialistas brasileiros que são categóricos em afirmar: o filme da KGB também é falso. Dessa vez, no entanto, tratou-se de uma produção profissional. O documentário começa mostrando imagens reais de UFOs perseguindo aeronaves de combate soviéticas recentemente liberadas pelo governo daquele país. No decorrer da produção vão sendo apresentados trechos do suposto rolo de filmes conseguido pela TNT através de ex-agentes da hoje sucateada KGB. Os trechos mostram a chegada de uma tropa militar e cientistas civis em um caminhão e um jipe, aproximando-se do que parece ser um objeto discoidal, com cerca de 4 a 5 metros de diâmetro, onde apenas pouco mais de 50% de sua estrutura pode ser vista escorando-se entre as árvores.

O vídeo vai mais longe nos detalhes: mostra o que seriam dois cinegrafistas de pontos diferentes e continua mostrando fazendo tomadas o pelotão objeto. Ao longo do iniciando a retirada de algumas peças do documentário são apresentadas também imagens de uma suposta autópsia de partes do corpo de um alienígena que teria sido retirado dos escombros: braço do suposto ET, analisados por uma um tronco e um equipe de três por militares soviéticos.

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O vídeo de UFO da KGB: patologistas acompanhados de perto

As provas da operação secreta, que seria denominada Operação Midget (operação anão, em inglês), segundo a TNT, foram conseguidas no mercado negro russo, compradas diretamente dos ex-agentes da KGB por um valor irrisório para o teor do material: 10 mil dólares (Santilli diz ter comprado os originais do filme sobre a autópsia de Roswell por mais de 150 mil dólares). Para dar credibilidade à transação, a emissora apresentou inclusive cenas da negociação e do pagamento, conseguidas através de uma câmera escondida.

Desde o lançamento do documentário, uma página estava associada à investigação do episódio. Não tratava-se de nenhum ufólogo norte-americano conhecido, mas uma figura nova no meio e que até então nada tivera com a Ufologia: o russo naturalizado norte-americano Alex Hefman, especialista em assuntos do Exército Soviético. Hefman foi inicialmente o mais enfático defensor da veracidade das cenas. Em um artigo publicado em sua página web (http://tripod.members.com/~ufokgb/) ele elencava diversos pontos favoráveis ao documentário, como o fato dos uniformes dos soldados russos não contarem com emblemas de metal. “Eles só foram adotados pelos soviéticos anos após o acidente”. E prosseguiu: “quem tivesse forjado tal filme não saberia deste fato e teria feito a farsa utilizando os emblemas”. Outro ponto levantado por Hefman a favor do filme era o fato do caminhão e dos jipes mostrados tratarem-se dos mesmos utilizados pelo exército soviético à época, e que seria muito difícil conseguir réplicas destes modelos para forjar um filme como este.

Um dos poucos ufólogos norte-americanos de renome consultado pela rede TNT, o físico canadense e autor do livro “Top Secret/Majic”, foi ouvido pelo Portal Vigília, mas não mostrou-se tão entusiasmado com o assunto. “Isto está em minha cesta cinza. Nem na preta, nem na branca”, afirmou ele à nossa reportagem, via e-mail. “Eu penso que isso foi razoavelmente bem feito, e não tão sensacional quanto parece ser. Eu, obviamente, não tenho meios de julgar quão válido ele é. Eu não encontrei nenhuma das outras pessoas que foram entrevistadas. Eu assisti algumas cenas de um ‘UFO’ acidentado no chão e comentei que isto era interessante. Não tenho acesso aos russos que foram entrevistados e nenhum meio de avaliar seu testemunho”, afirmou Stanton Friedman ao Portal Vigília.

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O início das suspeitas

Dois momentos em que oficiais russos observam o objeto. No destaque, que seria uma autópsia num ET (reprodução)
Dois momentos em que oficiais russos observam o objeto no vídeo de UFO da KGB. No destaque, que seria uma autópsia num ET (reprodução)

Não demorou muito para o principal defensor da veracidade do filme da KGB mudar de opinião. Alex Hefman continuou sua investigação e atualizou os dados disponíveis em sua homepage.

A nova versão, no entanto, ficou na web por pouco tempo: aproximadamente uma semana. Hefman enumerou diversas descobertas que pareciam indicar que o documentário tratava-se apenas e tão somente de uma produção destinada ao ‘entretenimento dos telespectadores’. A expressão, um eufemismo para fraude, explicou-se a seguir: ele retirou os dados da página dizendo-se ameaçado por representantes da TNT de ser alvo de um processo por direitos autorais (sic), e que não tinha tempo nem dinheiro para entrar numa briga judicial com a emissora de TV.

“Eu receio desapontar a todos os investigadores do fenômeno UFO, mas depois de uma exaustiva investigação eu tenho que lhes falar. Estes documentos e o filme secreto da KGB são uma brincadeira (ou um programa de entretenimento). Os produtores e especialmente seus associados russos deve ser felicitados por seu surpreendente trabalho”, comentou Hefman em sua antiga página. Um dos principais indícios de montagem, alertava o especialista, era uma testemunha localizada por ele que teria participado da montagem.

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A Revista Vigília tentou falar com Hefman. Este foi receptivo mas, temendo um possível processo, não queria falar sobre o assunto. No entanto, em seu último e-mail à nossa reportagem, mostrando-se bastante decepcionado, ele deu mais pistas: “infelizmente você está desperdiçando seu tempo (como eu desperdicei). Eu já disse que isto é uma montagem completamente estruturada. Foi filmada em Moscou por um muito talentoso diretor russo contratado pela produtora dos EUA. Em suas próprias palavras [do diretor russo], ‘nós estamos tentando imitar o estilo ‘sovok’.”, afirmou Hefman. Sovok é uma abreviação para União Soviética.

Vídeo de UFO da KGB - Abertura do filme: "Segredo Soviético", diz o lettering / Latas de filme 35 mm acondicionando filmes de 16mm? / Filme tipo "A2": espessura de 16 mm (reprodução).
Abertura do filme: “Segredo Soviético”, diz o lettering / Latas de filme 35 mm acondicionando filmes de 16mm? / Filme tipo “A2”: espessura de 16 mm (reprodução).

O Portal Vigília consultou diversos especialistas para avaliarem a filmagem e, como Hefman, também eles desacreditaram o documentário. Numa reunião em São Paulo, durante várias horas de tratamento e análise das imagens foram levantados diversos pontos desfavoráveis à veracidade dos originais da KGB. Na sala de edição da Produtora Companhia Brasil de Cinema e Televisão estavam presentes, além da Equipe Vigília, os colaboradores Geraldo Santos, produtor de cinema há mais de 20 anos, com vasta experiência no campo de direção, gravação e edição para cinema e televisão, o editor e finalizador em vídeo Carlos Alberto Piovacari, o chefe do setor de balões do Instituto Nacionais de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José dos Campos, Ricardo Varela e o jornalista Eduardo Castor, que já foi correspondente em Moscou.

Uma cópia em vídeo VHS foi fornecida por Ricardo Varela, que foi contatado inicialmente por uma equipe da TV Bandeirantes (a emissora comprou os direitos de exibição do documentário no Brasil, mas ainda não há previsão para ir ao ar). O material foi digitalizado para a seleção de frames. No total, as imagens do alegado UFO e da suposta autópsia perfazem apenas cerca de 2 minutos e 30 segundos. Muitos trechos foram repetidos mais de uma vez e, para um filme cujo original supostamente estaria em poder da TNT, o produtor Geraldo Santos e o editor e finalizador em vídeo Carlos Alberto Piovacari, suspeitaram da quantidade de efeitos típicos de produção da era digital. “Sobre um material inicialmente gravado em filme 16 milímetros, cuja qualidade é melhor que a de tomadas em formatos digitais como Beta Cam e Super8, isso é muito suspeito”, avaliou Geraldo Santos. O jornalista Eduardo Castor traduziu os textos de introdução nos primeiros quadros do filme original. Trata-se do que os especialistas denominam “ponta”, onde são inseridos logotipos e, normalmente, escritas à mão (lettering), informações para cadastro e armazenagem de filmes. Sua constatação foi a primeira a causar espanto. Junto a um logotipo da KGB aparece o texto “Segredo Soviético”. “Só pode ser uma piada do produtor! Quem na KGB poderia dar um título desses? O certo seria relatório número tal… Operação Midget… ou seja lá o nome que fosse… Jamais “segredo soviético”. Esse filme era para ser instrumento de trabalho deles… Não era para diversão”, comentou Geraldo Santos.

A milimetragem do filme também causou estranheza. Eles notaram que apesar das latas serem de filmes de 35 mm, o filme analisado no documentário é de 16 mm. Mesmo assim, incoerentemente, tanto os rótulos das latas quanto a borda do filme contêm a inscrição, em língua russa, “tipo A2”. Os especialistas notaram que informações pertinentes à classificação do documentário e logotipos da KGB deveriam aparecer no rótulo, ao invés de ser mantido o original com a tipagem do filme.

Geraldo afirmou que a qualidade das imagens, muito boa, não é coerente com um filme de 30 anos. Não há ‘flick’ (tremor próprio de filmes de 16mm ou 35mm) nem os fios, pontos pretos e riscos horizontais e verticais causados pelo atrito do filme com o projetor que os cinegrafistas chamam de ‘stretch’ e ‘streak’. “Um absurdo para um filme que, se foi armazenado em latas de 35mm, sequer estava sendo guardado em condições ideais para sua preservação”, ressaltou o produtor.

Filme antigo autêntico: presença de trepidação, sujeira e riscos; flick e streak, apontados em amarelo (reprodução)
Filme antigo autêntico: presença de trepidação, sujeira e riscos; flick e streak, apontados em amarelo (reprodução)

A questão da ausência de “flick” e de “streak” encheu de dúvidas a mente dos especialistas. Mas sua experiência começou a apontar respostas. Primeiro, conforme Geraldo Santos, as tomadas parecem ser feitas com uma terceira câmera, que não é vista no documentário. Depois, o comportamento dos cinegrafistas, dando menos de 5 segundos para a estabilização das tomadas, indica que não estavam filmando de fato. “As câmeras de cinema têm inércia. Ainda mais naquela época. É por isso que, quando se vê uma tomada sendo feita, o diretor geralmente diz a conhecida frase ‘luz, câmera, ação!’. Isso, na verdade, é uma tomada de tempo para a estabilização da cor e iluminação nos quadros iniciais do filme. Normalmente, perde-se os cinco ou seis primeiros quadros, que são mais lentos, queimam e saem com superexposição à luz”, explicou Geraldo.

Dois dados importantes foram observados: em determinado momento o cinegrafista realiza um zoom. Naquela época, entretanto, as câmeras não tinham um dispositivo chamado “view finder”, ou seja, uma imagem real do que estava sendo captado pela lente. Assim sendo, o zoom era feito manualmente, através da medição da distância até o objeto focalizado, não havendo muita precisão sem que a distância exata fosse conhecida (num sistema denominado paralaxe). Apesar disso, o zoom efetuado pelo cinegrafista durante a apresentação dos destroços é corrigido 3 vezes. Segundo os especialistas, só faz isso quem dispõe de “view finder”, ou seja, numa câmera moderna (o “view finder” existe há menos de 15 anos). “A isso chamamos ‘ciscar’, que é procurar o melhor foco. E só faz isso quem tem no visor a imagem exata que está sendo captada pela lente da câmera, o que é impossível no sistema de paralaxe”, explicou o editor de imagens Carlos Piovacari.

Câmera moderna e ausência de fotógrafo

O zoom, a ausência de ‘strash’ e de ‘flick’ já indicam que a filmagem não pode ter sido feita há 30 anos. Mas além disso, os especialistas observaram outro detalhe: em dois momentos da filmagem, aparece a câmera capta parte de sua própria sombra e do cinegrafista. O primeiro momento ocorre quando o cinegrafista está sobre o caminhão, tendo o sol às suas costas e, o segundo, já no chão, com a sombra se projetando sobre o objeto que está sendo filmado. Nestes dois momentos percebe-se claramente o ‘view finder’ e, mais ainda, a frente quadrada, com o que os cinegrafistas chamam de “porta-filtro”(click aqui para ver a animação gif [300kb] da seqüência). Assim, Geraldo Santos não teve dúvidas em afirmar: “trata-se de uma câmera Arri-Flex, de fabricação recente. As câmeras portadas pelos supostos cinegrafistas mostrados no vídeo não estão filmando de fato. Eles são meros figurantes”.

Diversas inconsistências no documentário: técnicas modernas, materiais terrestres e uma sombra entregando a câmera verdadeira (cortesia de Ricardo Varela).
Diversas inconsistências no documentário: técnicas modernas, materiais terrestres e uma sombra entregando a câmera verdadeira num antigo vídeo de UFO da KGB? (cortesia de Ricardo Varela).

O especialista brasileiro do INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Ricardo Varela, atentou para outro fato suspeito: no momento do zoom, com detalhes dos destroços, ele identificou uma série de artefatos terrestres, como conectores tipo DB-25 (conectores de pinos usados em computadores), bastidores de ferro e suportes. Varela, que é chefe do setor de balões meteorológicos do INPE, ressaltou: “Nós utilizamos muito esses materiais em balões de testes”.

Varela fez ainda outro observação no mínimo curiosa. “É estranho que durante todo o documentário, a ênfase do cinegrafista seja dada não ao objeto supostamente acidentado, mas à movimentação da tropa. Trata-se de um comportamento incompatível com os procedimentos de resgate de aeronaves, cuja análise se baseia na posição exata dos destroços”, disse. “Além disso, será que a KGB não tinha um fotógrafo profissional? No filme não se vê ninguém tirando fotos. Num caso de desastre aéreo, mais até que o vídeo, as fotos são fundamentais na determinação das causas e circunstâncias do acidente”, finalizou o especialista.

Ao que tudo indica, a prova definitiva e inconteste de que não estamos sós no Universo, tão esperada pelos ufólogos do mundo todo, ainda vai ter de esperar mais um pouco…

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